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Tesouro monetário romano encontrado em Santa Cristina de Longos em 1738

António José Oliveira
Opinião \ quinta-feira, dezembro 03, 2020
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Um camponês, chamado António Rodrigues, querendo plantar um bacelo, perto de uma casa, encontrou acidentalmente uma laje, e tendo-a levantada, encontrou “duas panelas cheias de medalhas romanas”

Ao consultarmos na Biblioteca Nacional de Lisboa, o periódico “Gazeta de Lisboa Ocidental”, primeiro jornal oficial português, na sua edição de 22 de maio de 1738, encontramos a referência à descoberta de um importante achado monetário romano, na freguesia de Santa Cristina de Longos, concelho de Guimarães.

Segundo esta singular notícia, um camponês, chamado António Rodrigues, querendo plantar um bacelo, perto de uma casa, encontrou acidentalmente uma laje, e tendo-a levantada, encontrou “duas panelas cheias de medalhas romanas”. Conforme este testemunho, estas moedas romanas estavam muito bem conservadas, sendo do tempo dos imperadores Constantino, Constâncio e “dos tiranos Licencio e Maxencio”.

Após esta importante descoberta, este tesouro romano teria sido vendido a um ourives, com a intenção de serem fundidas. Prosseguindo a leitura deste testemunho, foi na altura, o vimaranense Tadeu Luís António Lopes de Carvalho Camões, senhor de Abadim e Negrelos, académico da Academia Real, que as salvou de serem fundidas. Tadeu Camões terá participado à Academia Real, e ao Conde de Ericeira e “outras pessoas curiosas da Corte”, a descoberta deste achado, tendo-lhes presenteado com algumas dessas moedas.

Relativamente, ao paradeiro atual destas moedas não possuímos qualquer referência. Como vimos atrás, Tadeu Camões terá oferecido algumas destas moedas, a membros da corte do rei D. João V e terá ficado na posse do restante tesouro.

Tadeu Camões, senhor dos Coutos de Abadim e Negrelos, cavaleiro professo da Ordem de Cristo, familiar do Santo Oficio e Académico da Real Academia de História, residia na Casa dos Carvalho, sita no largo da Misericórdia, de Guimarães. Foi nesta casa brasonada, ainda hoje existente, que se hospedou o Arcebispo Dom José de Bragança aquando da sua permanência em Guimarães (1748-1749). Tadeu Camões é o autor da obra “Guimarães Agradecido”, publicado em 1747-1749, em dois volumes, que nos fornece uma descrição da permanência de D. José de Bragança, bem como um conjunto de versos a ele dedicados. Tadeu Luís Camões foi batizado a 9 de março de 1692, sendo filho legítimo de Gonçalo Lopes de Camões e de Guiomar Bernarda. Foram seus padrinhos, os seus avós maternos, Gonçalo Peixoto da Silva e Dona Paula Maria Cardoso de Alarcão. Tadeu Camões foi também provedor da Misericórdia de Guimarães.

 

Fig. 1. Frontispício da “Gazeta de Lisboa Ocidental”, de 22 de maio de 1738.

Fig.2 – Reprodução da notícia referente ao tesouro descoberto em Santa Cristina de Longos (“Gazeta de Lisboa Ocidental”, 22 de maio de 1738).