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O que está na raiz do progresso?

Tiago Martinho
Opinião \ terça-feira, setembro 26, 2023
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Como passámos de simplesmente olhar para as estrelas e de criar mitos, a ponderar sobre o que acontece a milhões de anos-luz de distância?

Durante milhares de anos a humanidade olhou para estrelas e tentou descobrir o que eram. Criando explicações desde as almas de heróis mortos em combate, a pregos dourados a segurar o céu, a filhos pequenos do sol e da lua. Então como passámos de simplesmente olhar para as estrelas e de criar mitos, a ponderar sobre o que acontece a milhões de anos-luz de distância, ou nas condições que existiam segundos após o Big Bang, mesmo sem nunca ter lá estado?

O progresso não surge apenas da experimentação ou do acaso. No livro “O Começo do Infinito" o físico e filósofo David Deutsch, diz que o mesmo está enraizado na nossa capacidade de criar "conhecimento explicativo." As pessoas sempre foram curiosas acerca do mundo, mas o autor defende que o progresso real começou quando desenvolvemos boas teorias que explicam o "porquê" e o "como" dos fenómenos.

Explicar algum fenômeno através de mitos ou histórias, pode ser encantador e impactante, mas muitas vezes carece de poder explicativo. Podemos facilmente modificar o argumento para conter novas observações sem realmente contribuir para a nossa compreensão dos fenômenos naturais. Essa é a principal diferença que possui uma teoria científica, a dificuldade de variar a mesma. Qualquer pessoa consegue criar uma explicação para as diferentes estações do ano, um ou vários deuses que visita a terra em certos períodos, e ao mesmo tempo variar para acomodar certas excepções, como por exemplo o facto que noutras partes da terra as estações estão invertidas, ou que no equador não existem estações.

A imagem infravermelha do Universo mais profunda e nítida do Telescópio Espacial James Webb da NASA até agora

Por outro lado, a explicação de que a terra tem uma inclinação no eixo de rotação, e por isso o calor do sol chega com diferente intensidade durante o ano, é muito mais difícil de variar, e ao mesmo tempo essa teoria é mais abrangente, também explica outros fenômenos como o facto de no verão o sol brilhar à meia noite em regiões polares.

Embora a experiência seja importante para aprendermos, não é dela que surgem as boas teorias. As teorias atuam como mapas, guiando-nos através do complexo labirinto do conhecimento. Elas devem ser testáveis, fazendo previsões que possam ser verificadas através de observações ou experimentações. Este é o mecanismo de autocorreção da ciência: teorias erradas são descartadas, dando lugar a melhores explicações.

Da próxima vez que se maravilhar com os recentes avanços tecnológicos ou descobertas médicas, lembre-se de que eles foram possíveis não apenas pela observação ou por sorte, mas pelo poder das teorias e do método científico. Estas estruturas não descrevem apenas o nosso mundo; eles abrem novos domínios de possibilidades, estabelecendo as bases para o progresso e o futuro.