Os partidos e o orçamento
Temos assistido nas últimas semanas ao circo mediático em torno do orçamento de estado para 2025. E, convenhamos, tem sido um espetáculo degradante. Tem sido um espetáculo onde nenhum dos intervenientes tem tido um papel que possamos considerar positivo. Muito pelo contrário, todos têm tido uma prestação muito negativa e que em nada ajuda à boa imagem das instituições e muito menos abona a favor da estabilidade necessária para que a nossa qualidade de vida saia beneficiada. Parecem todos, sem exceção, mais preocupados com a imagem que passam para a comunicação social do que com o conteúdo do orçamento.
O governo, que legitimamente tem a obrigação de elaboração do orçamento, não percebeu ainda que a composição da Assembleia da República, sem um bloco de confiança à direita que lhe permita fazer alianças credíveis, exigia que elaborasse um orçamento menos ideológico e mais equilibrado que lhe permitisse partir para negociações com mais pontos de convergência do que divergência. Ficou assim, na minha opinião, mais fragilizado pois incluiu propostas que sabia de antemão que não seriam aprovadas pelo Partido Socialista.
O Partido Socialista, estando na oposição, deveria garantir apenas que o orçamento não poria em causa a estabilidade financeira e económica do país que este governo herdou. Sendo o governo a elaborar o orçamento, com uma ideologia muito conservadora e com obrigações para com os colegas de coligação, não podemos esperar que as políticas lá vertidas sejam do nosso agrado mas temos de respeitar pois foi o que o povo escolheu. Assim não me parece correto o extremar de posições que temos hoje.
Percebendo que a posição do Partido Socialista é a de confronto o governo decidiu entrar em campanha eleitoral e governar à vista distribuindo dinheiro para todos os lados, contrariando a tese do ministro das finanças que dizia que as contas públicas não estariam tão bem como o governo de António Costa apregoava. E afinal percebemos que as contas do Partido Socialista estavam mesmo certas como vêm confirmando as várias entidades fiscalizadoras.
Sem colocar em causa a justiça das revindicações de muitas classes profissionais, receio que este momento de loucura do governo, de disparar dinheiro para tudo o que mexe, possa pôr em causa as contas públicas nos próximos anos e que possa estragar tudo aquilo que tanto custou aos portugueses a conquistar.
[ndr. texto originalmente publicado na edição de outubro do Jornal Reflexo]