O papel (importante) da comunicação social
Temos assistido nos últimos meses a uma galopante subida de preços que tem feito com que os valores da inflação sejam dos mais elevados das últimas décadas, atingindo este mês um valor preocupante de 10.2%. Se todos os produtos têm subido na generalidade, é verdade que os combustíveis, a eletricidade e o gás têm tido um papel decisivo nestes valores.
As famílias, e principalmente as famílias mais vulneráveis, devem ser a nossa maior preocupação. Deve ser preocupante a sua alimentação mas, agora com o aproximar do Inverno, também a questão energética passa ainda mais a um bem de primeira necessidade pois a maioria das nossas habitações não têm a eficiência energética desejada.
Mas o que me leva a que este texto incida na comunicação social tem a ver com as notícias sensacionalistas (e falsas) que nos foram chegando nas últimas semanas fazendo passar a mensagem de que a situação está de tal forma grave que as pessoas já roubam o básico (refiro-me à lata de atum) e que as superfícies comerciais já têm estes produtos básicos em caixas de segurança com alarme! Todos sabemos que estes sistemas são usados em produtos de valor acrescentado e haveria milhares de produtos com valor superior para usar este sistema antes de chegar ao atum.
Que esta montagem de imagens seja usada por sites e organizações que usam as fake news para sobreviverem e para os populistas fazerem passar a sua mensagem, já tenho muita maior dificuldade em aceitar que uma rádio nacional, que temos como referência, possa usar este tema como abertura do noticiário das 8h00 da manhã! Não podemos aceitar que quem deveria seguir um código deontológico que tanto apregoa para o que bem lhe interessa, depois não o use para ver no terreno e possa confirmar que o que noticiam é verdade. E se o fizessem em lugar algum encontravam latas de atum nas caixas de segurança.
Não podemos, nem devemos negar, que a situação que atravessamos é preocupante, devendo fazer tudo para garantir que os apoios sociais cheguem realmente a quem precisa (e na generalidade chegam), mas não podemos aceitar que sejam aqueles que têm obrigação de nos fazer chegar informação fidedigna a contribuir para que o populismo ganhe força e façam com que a situação se agrave ainda mais.
Temos por princípio aceitar que as noticias que nos passam são verdadeiras e de fonte fidedigna, mas quando vemos a situações como as que assistimos nas últimas semanas, devemos repensar a forma como os meios de comunicação social estão a sobreviver o que faz com que a qualidade da informação esteja francamente diminuída.