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Maus costumes em tempos de liberdade

Natália Fernandes
Opinião \ quinta-feira, abril 29, 2021
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Observando algumas freguesias, vemos que têm orçamentos para investimento que nunca mais acaba. Assimétricos, digamos, porque fazem obras aqui e acolá, fazem parques com palmeiras ou oliveiras...

Ontem ouvi nas notícias a ministra da Modernidade do Estado e da Administração Pública a anunciar que em Lisboa estão a ser preparados quartos para estudantes, mas que se destinam apenas aos filhos dos funcionários públicos. O som ao ouvir a notícia, em meu redor, foi: UI NÃO ACREDITO!

Ora esta é apenas mais uma notícia que nos faz pensar sobre a igualdade entre os cidadãos portugueses. Então não deveriam estar a ser preparados quartos para quaisquer estudantes, sem que tenham o requisito de que os pais trabalhem para a função pública? Então e os filhos dos outros trabalhadores? Não são eles, também, portugueses que pagam impostos? Justiça, igualdade onde andam?

O problema é que se fala destas coisas como coisa comum - porque é sempre assim. Porque o sistema é assim. Porque como é costume passa a ser regra, mesmo que esteja incorrecto, mesmo que seja injusto.

E com isto fazem do resto do povo ignorante.

E a consequência de decisões destas, quando existem cada vez mais injustiças, desigualdades de oportunidades e de tratamento, que têm vindo a ser constantes, é o crescimento das ideologias extremistas. E depois ficamos assustados com estes fenómenos a crescerem à nossa volta.

Mas as críticas só recaem sobre as ideologias extremas, não conseguem auto-avaliar-se e perceber que este fenómeno tem uma razão de ser, tem motivos para existir. Afinal quem está mais errado?

 Mas os costumes não são, e não deviam, ser para manter, nomeadamente os “maus” costumes.

Situações deste género encontrámos no dia-a-dia, a cada esquina, começando na nossa terra.

Exemplo são as muitas obras que por estas alturas estão, quase, em todo o lado. E digo –quase- precisamente porque nem todos foram premiados com a mesma benesse. Pois, parece que se trata de dar prémios, não a todos, a uns quantos.

É aí que entram, novamente, os “maus costumes”. Maus por que não são injustos, e costumes porque têm vindo a ser regra.

Observando algumas freguesias, vemos que têm orçamentos para investimento que nunca mais acaba. Assimétricos, digamos, porque fazem obras aqui e acolá, fazem parques com palmeiras ou oliveiras (um luxo), pavimentam ruas e mais rua, fazem ilhas verdes, fazem saneamento, fazem tanta, tanta coisa, que só visto.

E não se vê em qualquer lado. Claro, não pode chegar a todos. Porque este tipo de investimento não pode ir para todo o concelho, senão, não havia orçamento que aguentasse. Para o resto sobram umas ou outras pequenas coisas, uma rua aqui, outra acolá, uma obra aqui, outra acolá, e outras nem os buracos das estradas conseguem ver tapados.

E é assim que vemos as assimetrias no concelho. E não digam que elas não existem, todos sabem que existem, mas já é costume.

E o povo passa e pensa, então o dinheiro dos nossos impostos, do erário público não é de todos? E não é (seria) para todos? Pois, isso seria a hipotética, e bela, realidade. Mas é virtuosa… sempre, por “maus” costumes.

Clamar e apregoar o direito à liberdade em sociedade é fácil. O costume, a prática… é difícil E, assim, a liberdade não é para todos.