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Qualidade dos serviços públicos

Natália Fernandes
Opinião \ quinta-feira, junho 24, 2021
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Retrocedemos no que toca a estes serviços, ao invés de evoluirmos. Não se justifica nos dias de hoje. A falta de gestão séria e organizada reflete-se na vida de todos nós.

Esta semana foi publicado um documento do Observatório Português dos Sistemas de Saúde onde critica a falta de planeamento na gestão da pandemia e improviso em algumas soluções adoptadas.

Os peritos dizem que “não estamos a aprender ainda, com esta experiência, aquilo que seria necessário fazer melhor agora e no futuro”.

Efetivamente foi um dos serviços que vimos ser inacessíveis em tempos de pandemia, nos centros de saúde. Fecharam as portas aos utentes com a justificação do “medo” da transmissão do vírus, apesar de serem a única resposta à população para uma consulta quando doentes. Isto porque os hospitais estavam sobrecarregados com casos covid, ou outros internamentos.

Os centros de saúde limitaram-se a fazer atendimento telefónico, em muitas situações onde deveriam fazer diagnósticos com o doente à sua frente, e por isso deixaram de diagnosticar muitas outras patologias que posteriormente viriam a revelar-se até já serôdias.

O que me faz confusão, e em muitas alturas reclamei deste tipo de festão, foi a de que apenas, e só, nos centros de saúde tinham esta forma de gerir, apesar de ser este o único local onde os utentes podiam recorrer quando estavam doentes.

Então não deveria o centro de saúde receber os seus utentes, evidentemente com todos os cuidados necessários à prevenção da transmissão do vírus, para os tratar e cuidar. Foi para isso que foi criado o sistema nacional de saúde.

O antagónico é que as clínicas privadas continuaram a atender os seus doentes, e muitas vezes eram os mesmos profissionais que não atendiam no serviço público.

Quem trabalha diretamente com os serviços públicos, e até quem já teve necessidade de recorrer a eles, sabe a dificuldade que se teve para conseguir aceder aos mesmos, desde o início da pandemia.

Apesar de concordar que o atendimento com marcação prévia até funciona bem, não é normal nem admissível aguardar meses para sermos atendidos em determinadas situações. Já não faz sentido nos dias de hoje.

As repartições públicas não atendiam quem não tivesse marcação prévia, mesmo que fosse para efetuar um mero pagamento de impostos (que a todos beneficia)! As portas estavam literalmente fechadas ao público.

E como podiam trabalhar os profissionais que dela precisam diariamente? Que dependem destes serviços para viver ou sobreviver.

Era completamente impossível entrar nas repartições públicas, enquanto no supermercado, na frutaria, na farmácia, estavam abertos com os mesmos riscos de contágio que o resto da população. Aqui qualquer individuo entrava para fazer compras para as suas necessidades. Dissonância entre quem precisa e quem está “assegurado”.

Isto porque parece que estamos com uma administração pública sem rei nem roque...

Quando se precisa da administração pública, quer seja para pagar impostos, quer seja para renovar o cartão de cidadão, quer seja para trabalharmos, ou até para irmos a uma consulta de rotina, encontramos um entrave.

Retrocedemos no que toca a estes serviços, ao invés de evoluirmos. Não se justifica nos dias de hoje.
A falta de gestão séria e organizada reflete-se na vida de todos nós.

A administração publica faz parte do nosso quotidiano e não deve ser desacreditada pela falta de competência de quem a administra ou falta de trabalho de quem dela faz parte.

Mas o seu comportamento comprova que não merecem boa avaliação.

Se o serviço privado tem de funcionar bem também temos de exigir do serviço público a mesma competência.

Todos pagamos impostos para sermos bem servidos e respeitados.