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Maioria votou o povo

Natália Fernandes
Opinião \ quinta-feira, fevereiro 03, 2022
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Temos um país que não cresce, que a economia não evolui, o país está cada vez mais pobre, mas quer manter-se assim. O povo tem medo da mudança, e a mudança podia ser positiva.

Vamos iniciar uma legislatura que vai ser governada pelo Partido Socialista com maioria absoluta no parlamento.

No passado domingo os portugueses assim decidiram, e como estado democrático que somos apenas temos de aceitar.

Lamenta-se o facto de a abstenção ser uma grande percentagem da população. O que significa que uma grande parte dos portugueses não quer saber, não se quer responsabilizar ou está farto da política.

Dos resultados constata-se que o povo mantém a confiança no PS, ou melhor, afincou essa confiança dando-lhe uma maioria absoluta.

Se, por um lado, dizem que as maiorias absolutas são perigosas devido à tendência de abuso de poder, por outro lado temos o perigo de o país sofrer com sucessivas quedas do governo, já que as coligações com partidos mais pequenos não são fiáveis, por ideologias partidárias ou propostas inaceitáveis. Podem deitar um governo abaixo apenas para se afirmarem no panorama político nacional, como foi o caso que determinou estas eleições.

Agora apenas nos resta acreditar que o país progrida, ou seja, que a economia evolua, que as empresas cresçam e aumentem aos salários, que as reformas mínimas não aumentem o mísero 1%, que se invista na saúde de forma a termos melhores serviços no SNS, que se invista na educação de forma a que a na próxima década tenhamos professores no ensino público, pois mais de metade está perto da reforma, que os impostos diretos e indiretos desçam à conta do desenvolvimento da economia, enfim, que o PIB aumente e que a dívida pública diminua, que cada cidadão tenha mais poder de compra, tudo ao contrario do que tem acontecido nos últimos anos.

Constata-se que o povo que votou em massa é o mesmo que tem vindo a reclamar dos preços dos combustíveis, do gás, da eletricidade, do preço dos cereais, do preço das rendas, do custo de vida.

Temos um país que não cresce, que a economia não evolui, o país está cada vez mais pobre, mas quer manter-se assim. O povo tem medo da mudança, e a mudança podia ser positiva.

Talvez porque a mudança pode ter como consequência a existência de mais postos de trabalho, portanto menos dependência de subsídios, menos regalias sociais, porque estas só carecem de existir em países pobres, que é o que somos. Um país pobre. E daqui não queremos sair. Não somos um povo ambicioso, ávido.

Também temos o reverso da medalha: a eloquente ascensão do Chega – extrema direita – a chegar ao terceiro lugar no espectro partidário. Uma ascensão que só se entende como sendo a voz de povo indignado com todo o sistema e que acredita que pode ser mudado. Uma voz perigosa e extremista que nada traz de benévolo.

Vamos aguardar, que é o que nos resta, ter fé (porque só com fé se pode acreditar) e esperar tempos melhores.