Editorial #298: Os taipenses e as árvores
Em fevereiro de 2017, Marta Labastida, responsável pelo projeto de Requalificação do Centro Cívico de Caldas das Taipas, escrevia sobre a vila o seguinte: “É, em todo o concelho de Guimarães, um lugar único, onde se reúnem condições que cruzam o ambiente urbano com o ambiente natural e onde se identifica um património cultural e de lazer fortemente arraigado na memória dos vimaranenses”.
Talvez se encontre nesta última palavra a razão que poderá estar por detrás das fortes reações das pessoas à notícia do Reflexo de 24 de março, onde se dava conta de uma dezena de árvores abatidas no Largo Frei Cristóvão dos Reis, próximo aos Banhos Velhos. Neste meio, os habitantes são vimaranenses, mas antes disso, são taipenses e, para um taipense, as suas árvores são algo que está presente nas suas vidas, talvez por isso, estabelecendo uma comparação com o novo centro da vila, o novo Toural não convence os taipenses.
Como sabemos, a requalificação do centro cívico da vila irá custar cerca de 4,7 milhões de euros, gastos durante este ano e o próximo. Foi um projeto debatido e apresentado na vila e as pessoas puderam apresentar propostas, é certo. Mas toda a gente tem consciência que, do projeto apresentado pela entidade promotora, pouco foi alterado. Todos sabíamos que iriam ser abatidas diversas árvores (esse abate não irá ficará por aqui), mas ninguém se preparou, nem foi preparado o dia em que essas árvores começaram a desaparecer.
Numa obra de cerca de 5 milhões de euros, algo de profundo irá acontecer nesse espaço. Nesta mudança em curso, seria bom que os responsáveis tivessem uma maior proximidade para com as populações e explicassem os passos a desenvolver nesta intervenção. Também não é suficiente dizer que vamos ter o triplo de árvores que irão ser abatidas, pois já não será esta geração que irá usufruir desse novo plantio.
Muitos se socorrem, agora, do estudo da UTAD, de abril de 2016, tanto para justificar parte do abate, como pela defesa destas árvores seculares onde a “Lua falou” muitas vezes. Nessa altura, foram identificadas 251 árvores e os técnicos apontavam o abate de 28. O problema, ou para agravar o mesmo, é que em 2019 (depressão Elsa) tivemos a queda de 13 árvores e o abatimento de mais 17 por terem ficado em risco.
Tendo começado com uma citação, terminamos com outra, agora do tal relatório da UTAD:
“O porte elevado é um aspeto positivo para obter benefícios efetivos da vegetação (…). Só a partir de altura/diâmetro da copa acima dos 10 m, a árvore começa a ultrapassar os custos da sua instalação e manutenção, traduzindo-se nos múltiplos benefícios para o ambiente urbano e social”.
Sobe
Bombeiros
Os Bombeiros das Caldas das Taipas viveram, muito recentemente, momentos conturbados que levaram à saída de José das Neves Machado. Ainda com muito por explicar, é justo reconhecer que acabou por ser encontrada uma solução que permitiu a esta associação não ter resvalado para uma indefinição que seria muito delicada para a associação.
Curiosamente, a saída de José das Neves Machado parece ter tido o condão de ter feito desaparecer um “certo ruído” que se estava a fazer sentir na corporação.
Desce
Abate das árvores
A 17 de abril, comemoram-se os 50 anos da homenagem a Ferreira de Castro, levada a cabo pelo Círculo de Arte e Recreio. Em 1971, essa homenagem foi traduzida na apresentação de um busto do escritor que escrevia sobre a relação com os taipenses e a vila o seguinte: “Para eles eu sou apenas aquele senhor que vem, todos os anos, passar alguns meses nas termas e costuma sentar-se numa pedra, à beira dos campos, a ler ou a olhar para as árvores”.
Como reagiria Ferreira de Castro se já não tivesse árvores para olhar?