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A incursão da via de acesso ao Avepark

Natália Fernandes
Opinião \ sexta-feira, dezembro 02, 2022
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O que acontece agora é que se comprova que a via vai literalmente descaracterizar estas freguesias, rasgando-as como se de um papel para o lixo se tratasse.

Há cerca de 7 anos iniciou-se a discussão publica do trajecto da via de acesso ao Avepark - Parque de Ciência e Tecnologia das Taipas.

Defende o município que esta via é uma infraestrutura fundamental para potenciar a atratividade do investimento e desenvolvimento empresarial, que vai unir todo o norte do concelho pela mobilidade rodoviária e que é estruturante para a coesão territorial.

No início da discussão sobre o trajeto da via, estimava-se um investimento de cerca de 12 milhões de euros, sendo que, atualmente, já se estima num investimento que pode rondar os 40 milhões de euros, entre a construção e as expropriações, investimento este que será financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência.

No início da discussão, atendendo a que a seria uma via “dedicada”, o objetivo desta via era proporcionar rapidez e conforto para as pessoas e não para as matérias primas ou mercadorias, e do estudo elaborado resultava que com este acesso o percurso seria mais rápido 7 minutos.

Lamenta-se a falta de estudo sobre eventuais alternativas que, para além de beneficiar aquele parque tecnológico, também servisse outros parques industriais que precisam de acessos à autoestrada e que a eles também se lhes desse a importância merecida, atendendo ao investimento previsto.

Do projeto do traçado desta via, constata-se que a mesma vai rasgar profundamente as freguesias que atravessa, destruindo montes, bouças, campos de cultivo, casas, deixando diversas ruas cortadas, dividindo as freguesias dentro de si.

Após as 3 sessões públicas de esclarecimento, apesar de algumas sugestões de alternativas, o município decidiu manter aquele traçado, fazendo ligações nas freguesias, para legitimar o investimento com o profundo impacto que vai ter em cada uma das freguesias.

O que acontece agora é que se comprova que a via vai literalmente descaracterizar estas freguesias, rasgando-as como se de um papel para o lixo se tratasse.

A zona florestal, a agricultura, as vinhas, casas, ruas e a vida destas populações vão ser profundamente despedaçadas.

O que importa saber, e que o município não justifica pelo menos com a partilha de estudos independentes (se é que existem), é se se comprova que o investimento e a destruição que envolve estas freguesias, irá efetivamente impactar no crescimento daquele parque de ciência e tecnologia.

O que se pretende saber é se o investimento, que pode chegar aos 40 milhões de euros, conjugado com a destruição territorial, ambiental e social, justifica o potencial desenvolvimento daquele parque de ciência e tecnologia.

E isto é que nunca foi justificado e comprovado, nomeadamente junto das populações afetadas.

Esta invasão nestes territórios merecia uma outra abordagem por parte do município para com estas populações. E não existiu, e não tende a existir.

Porque quem vive nestas localidades pretende permanecer num local mais rural com o sossego que estas zonas proporcionam. E quem as escolhe para viver é porque encontra nestes locais preços mais acessíveis que se conjugam com a usufruição da paz e da natureza que se encontram neste tipo de localidades.

E o que nos irá oferecer esta total transformação destas localidades.

Que futuro esperam estas populações depois desta transformação.

É que para além de descaracterizar e invadir toda a natureza destas zonas, vai também alterar os trajetos internos e as logísticas destas freguesias, cortando ruas e não se deixando grandes alternativas de circulação dentro das localidades e das pessoas entre si.

Ora, espera-se que, a vir a ser efetivamente concretizada esta via, se tenha a absoluta certeza que este investimento e esta incursão no território atinjam efetivamente o objectivo pretendido, pois se assim não for, mal dos territórios e das gentes que vão sofrer com esta incursão.