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A Fonte de D. João VI nas Caldas das Taipas (1818-2018)

António José Oliveira
Opinião \ quinta-feira, setembro 27, 2018
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Há 200 anos, os vereadores da Câmara responsáveis pelo renascimento do termalismo nas Caldas das Taipas determinaram a construção de uma fonte pública, que seria abastecida com a nascente de uma mina.

Há 200 anos, os vereadores da Câmara responsáveis pelo renascimento do termalismo nas Caldas das Taipas determinaram a construção de uma fonte pública, que seria abastecida com a nascente de uma mina. Do caderno de encargos constava igualmente a edificação de um paredão, de um terreiro, de assentos, de um lanço de escadas e plantação de árvores. Imediatamente, a empreitada da edificação desta fonte, é posta a lanços, com obrigação de se dar a obra concluída até ao final do ano de 1818.

Atualmente, podemos observar no largo das Termas, fronteiro ao antigo Grande Hotel Vilas, a denominada fonte de D. João VI, em granito mandada construir sob alçada camarária. No passado dia 21 de setembro de 2018, a Junta de Freguesia de Caldelas iniciou uma intervenção de limpeza, conservação e restauro da mesma.

No meio desse paredão, encontrámos um conjunto escultórico com dois golfinhos enroscados, dos quais jorra a água da mina. Do lado esquerdo, escadas em pedraria que permitem o acesso ao terreiro e à fonte. Esta fonte na sua parte superior contém quatro pináculos em granito. Emolduradas no paredão, duas inscrições em verso ladeiam a fonte dos golfinhos, que perpetuam os senadores juntamente com o rei D. João VI.

Do lado esquerdo, foram esculpidos estes versos em homenagem ao Rei D. João VI:
“João, primeiro rei do reino unido
Para que a morte mais tropheus não conte
D’inexhaurivel salutar bebida
Esta levanta milagrosa fonte”

Do lado direito, foram cinzelados versos que perpetuam a ação dos vereadores:
“Eras vindouras! Desejaes os nomes
Dos varões claros d’esta obra auctores?...
Sousa, procurador, juiz Estevam
Couto, Pinto, Athaíde senadores”

Estes versos foram publicados por vários autores, nomeadamente por Ramalho Ortigão (ORTIGÃO, Ramalho – “Caldas das Taipas”, in Banhos de Caldas e águas minerais, Lisboa, 1875) e por José Augusto Vieira (VIEIRA, José Augusto – O Minho Pitoresco, tomo I, Lisboa, Liv. António Maria Pereira, 1886).

Em 1929, esta fonte estava destruída, tendo sido reconstruída mais tarde conforme a traça original. Segundo um artigo do correspondente das Caldas das Taipas no semanário “Noticias de Guimarães”, Sr. José de Oliveira, temos conhecimento de que o arranjo do largo da Pensão Vilas e o restauro da Fonte de D. João Primeiro Rei do Reino Unido de Portugal e do Brasil, foi feito por iniciativa do vereador Rosas Guimarães, e segundo palavras do autor “foi “valiosíssimo pois voltou à primeira traça” (OLIVEIRA, José de – Caldas das Taipas: a propósito do “Apontamento da Semana”, in Noticias de Guimarães, 12 de setembro de 1980, p.7). O Sr. José de Oliveira a propósito desta fonte contava ainda o seguinte episódio: “(…) o Dr, Mariano Felgueiras, visitando um seu amigo das Taipas, em frente à Fonte, teve estas palavras de Justiça: “Depois da destruição daquela Fonte, não mais virei às Taipas. Feliz o dia para mim ao vê-la reconstruída e ter ocasião de elogiar o edil que a mandou restaurar!” (idem, ibidem,p. 7).

Este terreiro, durante vários anos serviu de parque de lazer para o Grande Hotel Vilas, onde os hóspedes encontravam sombra de árvores de grande porte e local para estacionarem as suas viaturas.

Se atualmente, volvidos dois séculos, as assinaturas destes membros do senado estejam registados nos livros da Vereação, mesmo o visitante desprevenido imaginará estes homens de poder e qualidade que terão tido o privilégio de verem inscritos os seus nomes num monumento votivo ao renascimento da indústria termal. Desta forma, estará afinal, a cumprir o último desejo destes vereadores: imortalizá-los e dar-lhes um lugar de destaque na história do termalismo local.