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A evolução da mobilidade para bem da coesão territorial

Natália Fernandes
Opinião \ sexta-feira, março 03, 2023
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Quem vive nas periferias e não tiver transporte próprio, não consegue ir às compras ao centro da cidade ao fim de semana; não pode ir ver um espetáculo.

Há cerca de dois anos foi contratada a concessão de Transporte Público Rodoviário de Passageiros de Guimarães. Até essa altura tínhamos uma rede de transportes públicos muito débil, que não correspondia às necessidades da população.

Com esta concessão, após algum tempo de ajustes e interesse por parte da concessionária em tentar colmatar algumas necessidades das populações mais distantes do centro, foi melhorando a sua rede e acesso à população.

Acontece que, as ligações a Norte do concelho são melhores, mas não satisfazem inteiramente nem conseguem ser uma solução ao veículo particular.

E ao fim-de-semana são quase inexistentes.

A rede de ligação das vilas à cidade é escassa, mas precisaria ter maior assiduidade, e das pequenas localidades às vilas tem uma resposta ainda insuficiente.

Quando olho para trás no tempo, vejo que nestas últimas 3 décadas o acesso ao transporte público não alterou em quase nada, muito poucochinho. Os horários e frequência do autocarro na minha zona são os mesmos que existiam quando era jovem.

Como pode um município, em mais de 30 anos, não ter investido e melhorado a rede de transportes públicos ao ponto de mantermos a mesma situação.

A coesão territorial só pode existir se o município investir na sua rede de acessos. E o acesso ao centro ou à cidade, ao comércio, aos serviços e até à cultura, ao mais comum dos cidadãos, só é possível se houver uma forma de lá chegar.

Quem vive nas periferias e não tiver transporte próprio, não consegue ir às compras ao centro da cidade ao fim de semana; não pode ir ver um espetáculo e, portanto, não tem acesso a tudo aquilo que os residentes no centro têm.

Isto não é coesão territorial. E é muito tempo de inação, sem evolução, sem respostas à evolução dos tempos.

Sendo o nosso concelho um território muito disperso em termos aglomerados populacionais, compreende-se que é muito difícil conseguir chegar a todo o lado a toda a hora. Sim compreende-se. No entanto, nem às vilas do concelho existe uma rede de transporte público que responda às necessidades da população.

Mesmo que o centro da cidade ofereça uma panóplia de diversões, espetáculos ou outras atratividades, ou de comércio, os habitantes na periferia não conseguem aceder a esses serviços ao fim de semana.

Os mais jovens têm de se deslocar em meios próprios, à boleia, ou então não frequentam a cidade.

Para que se criem hábitos de uso de transporte público, ele tem de existir e responder às carências da população, e isto é um processo longo e de aprendizagem, que no seu decurso dê segurança à população de que tem meios alternativos ao transporte particular.

Estamos no início desta aprendizagem, que espero que evolua para bem de todos, para bem das localidades, para bem da coesão territorial.