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A desertificação do Interior

Augusto Mendes
Opinião \ quarta-feira, março 11, 2020
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Não se pode, por exemplo, gastar 90% do orçamento da cultura na cidade e apenas 10% no restante concelho. Ao nosso nível isto também ajuda a desertificar as freguesias.

Caro leitor,

Escrevo este texto no dia em que o Governo de António Costa visita, e reúne todos os seus Ministros no distrito de Bragança para dar visibilidade ao interior. Mas devo confessar que o que lá foi tratado em nada resolve os verdadeiros problemas da interioridade.

O problema principal do interior, a sua desertificação, é um problema muito mais estruturante que não é resolvido com medidas avulsas como as que foram anunciadas. Se achamos que com 4.800.00€ oferecidos a quem queira ir para o interior trabalhar resolvemos alguma coisa então não percebemos as verdadeiras razões da desertificação do interior.

Temos de perceber que as pessoas fogem do interior, sem nunca mais voltar, porque não têm a mesma facilidade de acesso a necessidades básicas que tem a população das grandes cidades. Vivemos numa zona onde temos acesso a tudo em poucos minutos, diferente de ir viver para um local onde se os nossos filhos ficarem doentes teremos um caminho de 2 ou 3 horas para chegar a um Hospital que tenha todos os serviços. É impensável para nós, que temos das melhores escolas do País a 5 minutos de casa, que os nossos filhos andem 3 horas diárias de carro, em estradas manhosas, para ir para um grande centro escolar porque se fecharam todas as escolas das aldeias.

Além destas necessidades básicas e como depois isso se espelha noutras atividades, as populações do interior não têm o mesmo acesso ao desporto, à cultura e outras atividades que as grandes cidades nos permitem usufruir.

Passando isto para a escala das autarquias teremos também de ter políticas que não acentuem estas desigualdades. As freguesias mais afastadas das sedes de Concelho devem ter políticas e investimentos extraordinários para que estas desigualdades sejam minimizadas. Tanto a nível de rede viária, transportes públicos, como equipamentos e apoios ao desporto e à cultura. Não se pode, por exemplo, gastar 90% do orçamento da cultura na cidade e apenas 10% no restante concelho. Ao nosso nível isto também ajuda a desertificar as freguesias. Mas, no nosso concelho, a nível da cultura e desporto temos até bons exemplos. O Excentricidades e a Liga Mini são excelentes programas que a Câmara Municipal de Guimarães tem para levar a cultura e o desporto às freguesias e que eu, particularmente, aprecio bastante.

O fecho de escolas deve ser também travado e se possível revertido onde foi efetuado. Uma freguesia sem escola é uma freguesia descaracterizada, que com o passar dos anos deixa as pessoas sem ligação à terra que depois dificilmente voltarão a ter. É na escola que cimentamos ligações para a vida.

Para finalizar é necessário uma verdadeira política para o interior, onde todos os cidadãos tenham acesso aos serviços públicos da mesma forma em Lisboa como em Bragança. E não vamos lá com medidas avulsas como as que foram apresentadas.