Uma campanha pela positiva
Lançaram-se os primeiros dados. Apresentaram-se os novos ou já conhecidos rostos. Começaram a erguer-se os outdoors e a distribuir as primeiras cartas de apresentação. Está oficialmente aberta a pré-época eleitoral e caminhamos, a largos passos, para os tempos oficiais de campanha. Chegaram tempos intensos, mas muitos bonitos da democracia.
As eleições autárquicas são isto mesmo: o momento em que a democracia representativa se faz mais próxima dos cidadãos, em que as pessoas são convocadas a uma tão simples pergunta que é “o que quero eu para a terra que me viu nascer, crescer ou viver?”. É sobre isto mesmo - sobre os problemas que nos atingem diretamente no dia-a-dia, sobre a visão de território que temos. Sobre se acreditamos na ideia de uma comunidade coesa, em que todos, independentemente da sua origem, condição ou idade fazem parte; ou se somos intransigentes na defesa de uma comunidade fechada, sendo a cidadania partilhada definida por um conjunto de critérios restritos. Sobre se somos capazes de reconhecer, enquanto comunidade, que há tanto para melhorar, mas se, para além desta constatação do óbvio, somos capazes de assumir essa responsabilidade. Sobre se temos uma visão de futuro, sem nunca esquecer o que o passado nos ensinou; ou se estamos, constantemente, voltados para o passado, numa atitude quase nostálgica.
Acima de tudo, as eleições autárquicas são sobre uma política que se faz próxima dos cidadãos, em que as pessoas são convidadas a integrar, a contribuir e a posicionar-se sobre projetos e visões de comunidade. Sim, projetos e visões de comunidade. As eleições são sobre ideias, não sobre vidas pessoais.
Isto é particularmente importante no contexto de uma campanha eleitoral que decorrerá, indubitavelmente, em larga escala, nas redes sociais. Num tempo em que, muito possivelmente, ocorrem ataques ad hominem como nunca terão acontecido e em que, nas caixas de comentário, se tecem, muito facilmente, considerações sobre as características e o percurso das pessoas que se assumem algum tipo de posicionamento e não sobre o conteúdo e o argumentário da sua posição, é importante relembrar o que o filósofo francês Paul Valéry escreveu a este propósito: “quem não pode atacar o argumento, ataca o argumentador”.
Aos candidatos pede-se que tenham a lealdade democrática para conseguirem promover estas práticas. Às suas equipas e legítimos apoiantes, que sejam estes rostos de uma política feita pela positiva. E a todo e qualquer cidadão, que tenha bem presente que “não é quem fala mais alto que tem razão. Não é quem fala muito que tem muita coisa para dizer. E não é quem fala sobre tudo que terá verdadeiro conhecimento sobre aquilo de que fala.”, como escrevi no meu primeiro artigo nesta coluna de opinião.
Assumido este compromisso, posicione-se cada um sobre aquilo que considerar melhor. Eu tenho uma posição, que é conhecida e que, a seu tempo, desenvolverei. Muitas outras posições e visões há para uma reflexão fundamentada e plural das pessoas. Não permitamos que deixem de ser as ideias, as visões e as formas de estar no centro da discussão. Na nossa freguesia, no nosso concelho e por todo o país.