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Toque-se o Hino, já!

Carlos Marques
Opinião \ quinta-feira, setembro 19, 2024
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Como é possível quererem confundir com a letra absolutamente inconcebível para hino musical por ter, imagine-se, 22 Quadras e 1 Refrão apenas serve para ser cantado e não tem partitura.

Quando a pedido da Junta de Turismo e Caldas das Taipas presidida então pelo Comandante de Mar e Guerra José Eduardo de Carvalho Crato, o compositor José Francisco Gomes da Silva Paranhos envia a 6 de Setembro de 1940 desde a cidade de Lisboa e por correio postal a partitura do Hino de Caldas das Taipas à Repartição de Turismo da vila, entenda-se à nossa Junta de Turismo.

Escreve no mesmo dia ao maestro da nossa Banda Musical, José de Sousa dando-lhe recomendações de como melhor deve harmonizar as partes de todos os instrumentos para interpretar a obra. Ainda no mesmo dia escreve e envia uma outra carta dirigida a José Oliveira, na qualidade de secretário do Turismo onde este é empregado administrativo, a quem deixa diversas recomendações, designadamente à Banda Musical, informando-lhe que deve entregar uma cópia à nossa sociedade musical, autorizando-a a tocar o Hino, e, diz mais, que pode ceder a partitura a terceiros, designadamente quando afirma, no caso de algum estranho à terra, ter de executá-lo, é logico que lhes sejam emprestadas as diversas partes.

Longe estaria de saber que a sua partitura cairia no esquecimento colectivo durante muitos anos, por ter desaparecido, até que um antigo músico da nossa Banda, Jorge Ribeiro a reencontra, ao que parece, nos escombros das obras de revitalização do Hotel das Termas que tinha sido propriedade de José de Oliveira, e a ter entregue à Junta de Freguesia de Caldelas, do município de Guimarães, infelizmente por já não termos a tão necessária e útil Junta de Turismo de Caldas das Taipas.

Como é possível quererem confundir com a letra absolutamente inconcebível para hino musical por ter, imagine-se, 22 Quadras e 1 Refrão apenas serve para ser cantado e não tem partitura. É um hino do tipo antigo de liturgia escrito pelo mui digno padre e poeta, António José da Silva Gonçalves que mandou publicar no jornal Diário do Minho de que fora seu director. Estes versos demoram mais de 10 minutos a cantar, numa partitura que é tocada em apenas 1”45. O poema contém 3 vezes a palavra “Deus”, 2 a palavra Alma e a de Céus, bem como a de: ajoelha, abençoa, cruz, paraíso, martírios e natal.

O padre Silva Gonçalves que é das Taipas, paroquiou em diversas localidades e quando vem para a nossa São Tomé de Caldelas, estivera imediatamente antes na Póvoa de Varzim onde realizou uma tarefa que o Arcebispo lhe pedira dividir as duas paróquias do centro da então vila em três. Por este feito recebeu a medalha de prata de Reconhecimento Poveiro, e de lá trás consigo a sua confidente empregada Maria Campos que aqui nas Caldas das Taipas cria o Rancho das Rendilheiras das Taipas de quem é a principal impulsionadora e sua mestra, e, vem a participar também em diversas peças de teatro realizadas no Centro Paroquial das Taipas.

Foi Maria Campos que pediu ao padre que compusesse e adaptasse do Folclore poveiro cantigas para o nosso Rancho das Rendilheiras, termo tipicamente poveiro, que o autor chamou de Hino, e, em jeito de xacota o dirigiu a Carvalho Crato.

Senhor presidente da junta, aqui fica o meu contributo, e informação de que não existe nexo entre a Letra de um com a Música do outro documento. Assim para melhor servir os interesses da nossa comunidade, por ser representativa da nossa identidade e da vontade colectiva, desbloqueie o assunto, revogando as decisões erradas, como aquela do referendo.

Faça-se luz e mande tocar o Hino.

Eu recebi estas informações que registei de diversas dançarinas e participantes daquele rancho, designadamente de Joaquina Ferreira e Marieta Capela.

Não é verdade, nunca foi verdade, nem o podia ser, pois a letra foi escrita 9 meses antes da composição da Partitura por um padre que já há muito tempo estava muito doente, não paroquiava, era mero capelão na ordem de São Domingos, em Guimarães.

A Banda das Taipas tem uma história que remonta ao reinado da 1ª dinastia de Portugal, já no ano de 1336 quando, duma incursão militar e a mando do reino da Galiza a Braga, combatem as tropas contendoras e a Banda das Taipas toca o Hino do Arcebispo nos desfiladeiros da Falperra, in Notas da Velha História Pátria, e mais tarde noutro facto de maior importância em plena guerra pelo trono de Portugal, em 28 de Abril de 1862, o povo das Taipas corta em 3 sítios o fio do telégrafo impedindo as comunicações, a Banda Musical integra a revolta e toca o Hino Miguelista, in Ephemerides de João Lopes de Faria.

No dia 26 de Outubro de 2019, com pompa e circunstância, a Banda Musical de Caldas das Taipas em conjunto com a Banda Cabeceirense, executam em frente ao edifício da junta de freguesia e na presença da Vice-presidente da Câmara de Guimarães o Hino.

Como prova desse momento único, mandei confeccionar e distribuir por todos os músicos presentes um exemplar duma bandeira alusiva.

A quem interessa esta postura de alheamento e de alienação da Junta de Freguesia, levando o Hino para as calendas? -aos mesmos que no ano de 1886 mandarem compor um hino com letra especificamente de repúdio ao povo do concelho de Braga, e depois um outro hino com o título “Por Guimarães” exclusivamente para se opor ao povo de Vizela.

E, a direcção da nossa Banda Musical, o maestro e os executantes ficam quedos e mudos?

Como quando a vergonhosa inauguração da tacanha sede no dia 26 de Outubro de 2002, quando prestaram vassalagem a Guimarães, numa história que tem tanto para contar.

Aproxima-se a comemoração do aniversário da nossa Banda Musical, onde se espera que toquem finalmente sem medo o Hino que é nosso, no palanque do coreto que é nosso também, e não pode estar ao serviço de nenhum interesse político, pessoal ou religioso.

Deve ser imparcial, e deveria ser sempre, pois é música, mas não é apenas música: é o SOM DA INDEPENDÊNCIA!

Porque anda a direcção e os jovens músicos das Taipas com medo do absurdo duma decisão estapafúrdia?

Arquivo Municipal da Póvoa de Varzim,
30 de Agosto de 2024