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Toponímia VII: Rua dos Cuteleiros e as marcas medievais

Carlos Marques
Opinião \ quinta-feira, fevereiro 15, 2024
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Não posso deixar de parabenizar os arquitectos Constantino Veiga e, principalmente, Marta Labastida, como autora do projecto, terem aceite tamanha façanha que irá perpetuar identidade cuteleira.

Há na toponímia da nossa vila de Caldas das Taipas 140 artérias que levam o nome dos sítios, actividades, entidades e de personalidades de relevo dando deste modo suporte à identidade da nossa terra e sua evolução, da nossa cultura nas suas diversas componentes, podendo assim perceber a razão de ser e sentir do nosso povo, dos nossos homens e mulheres, do que nos diferenciamos das demais localidades.

De todos guardo uma profunda admiração, como é o caso da Rua dos Cuteleiros entronizada em 11 de Junho de 1981 por proposta conjunta de José Adélio Maia Gomes e Domingos Marques Sousa, então eleitos para os órgãos da freguesia na lista da AD - Aliança Democrática, referindo “Como homenagem ao operário cuteleiro, como obreiro da principal actividade desta localidade.”

Assim homenageando os milhares de operários que tanto, e tanto fizeram e fazem na defesa da nossa terra e das nossas gentes. Na sequência desta escolha, no ano de 2002 ajudei à criação do título “Capital de Cutelaria” que a vila de Caldas das Taipas ostenta no país e no mundo, devendo-se este feito ao executivo liderado por Constantino Veiga, que perpetuou por todo o sempre a identidade do povo taipense.

Ora jamais deixei de ser cuteleiro, pois fui-o na minha meninice, nos anos 60 do século passado, quando ajudava em casa o meu pai na arte de caxiador de facas, para, em 1973 entrar como operário na fábrica que fora do meu avô materno e onde meu pai era o encarregado geral, o xerife como alguns lhe chamavam.

Apodera-se de mim um enorme orgulho e, por todo o lado onde ando, não me limito a ver a marca dos talheres, falo sempre desta arte, fazendo a defesa dos fabricantes, dos operários e da nossa terra. E não gosto de ver distorcido os nossos valores e as nossas gentes, ainda no ano passado tive de escrever à CMG exigindo corrigir a placa toponímica colocada junto à ponte do Rabelo de “Rua do Tojal” para “Rua dos Cuteleiros”, pois o Rio Febras/Rabelo muito diz aos cuteleiros, porque era a sua água que movia os engenhos, nos moinhos de amolar, e foi também por isto que em 1993 comigo a presidir à Comissao de Toponímia, que definimos a artéria desde a Rua da Lameira/Nossa Senhora de Fátima até ao rio.

Paralelamente, tenho o hábito de falar, mas também escrever, o que cultivo desde os tempos de escola, e faço-o, designadamente às instituições públicas, quer as autarquias quer as governamentais.

Foi assim que, no âmbito da discussão pública “Intervenção Urbana para o Centro da Vila de Caldas das Taipas” por carta que enviei em 17-09-2019 ao Snr. Presidente da Câmara fiz 40 (quarenta pedidos), entre os quais, a capítulo F. Mobiliário Urbano, do nº 5: Colocação de estatuária  e simbologia alusiva ao povo operário da cutelaria.

Já antes nos trabalhos preparatórios de levantamento por parte dos técnicos da Universidade do Minho, a quem tinha sido confiado a elaboração do projecto, no dia 17 de Janeiro de 2017 na sede da nossa junta de freguesia, a pedido do presidente de então, o Constantino Veiga tivemos uma reunião com a autora do projecto Intervenção/Requalificação Urbana do Centro da Vila de Caldas das Taipas, na qual tive a oportunidade de oferecer a monografia da cutelaria, de que sou co-autor, e lhe ter sugerido a colocação dos símbolos/marcas que lá vem reproduzidos na nossa vila.

Hoje, precisamente hoje, que os símbolos medievais foram colocados no nosso chão, não posso deixar de parabenizar os arquitectos Constantino Veiga e, principalmente, Marta Labastida, como autora do projecto, por terem aceite tamanha façanha que, como disse, a par da capital da cutelaria, irá perpetuar a identidade cuteleira.

Um bem haja a estes dois arquitectos!

Caldas das Taipas no dia da colocação dos símbolos marcas cuteleiras, aos 29 de Janeiro de 2024