Taipas, terra camiliana a evocar no bicentenário do nascimento do escritor
Se no início da década de 1970 a dona da casa “Milinha Tintim” onde terá vivido Camilo Castelo Branco em Caldas das Taipas, quando fugido à justiça aqui andava de barco e frequentava os bailes da Assembleia como descreve na “Memórias do Carcere” ela não deixou colocar o azulejo alusivo ao escritor num pedido conjunto do escritor Ferreira de Castro e do presidente da junta de freguesia de então, o Snr. Jose Oliveira.
Se no ano de 1990 Caldas das Taipas não foi capaz de colocar num dos seus muitos jardins, um bloco granítico em forma de mamoa para nela ser afixada uma memória alusiva ao escritor, quando do centenário da sua morte como pedira Joaquim Santos Simões, então presidente da direcção da Sociedade Martins Sarmento.
Se no ano de 2012 Caldas das Taipas não foi merecedora de nenhuma alusão pelo município de Guimarães quando do gasto de 108 milhões de Euros no programa da CEC Capital Europeia da Cultura, como eu mesmo lhe tinha pedido na qualidade de membro do Grupo de Missão da CEC.
Se no âmbito do programa cultural da cooperativa “A Oficina” do município de Guimarães que desenvolve um vastíssimo programa cultural e gasta na cidade 6 milhões de Euros anualmente, nunca foi capaz de aceitar as minhas propostas, quando em discussão dos Programas e de Planos e Orçamentos em que anualmente participo como cooperante fundador, de descentralizar Camilo para Caldas das Taipas com alusão de que a sua política cultural se tem de centralizar na cidade para assim dar ocupação aos espaços culturais a seu cargo e que apenas existem na cidade, auditórios (2) no Centro Cultural Vila Flor, no CIAG, na Casa da Memória, e no Teatro Jordão.
Não foi, nem é por mim que não possuímos nenhuma estrutura pública para esse efeito, pois por diversas vezes oficiei à Câmara Municipal de Guimarães que adquirisse em Caldas das Taipas edifícios devolutos e aqui construísse espaços para a criação, promoção e exibição de actividades culturais, aos quais respondeu sempre NÃO!
Se no dia 8 de Julho de 2022 para a inscrição no revitalizado chão de que nos retiraram a identidade, ainda fiz mais um último esforço de atenuação, este também foi recusado, passava na inscrição de frases do escritor, que por aqui andou e que tinha da nossa terra uma grande admiração, designadamente:
“Andavam-se elles passeando naquellas frescas e saudosas carvalheiras de Santo António das Taipas.” do livro -Doze Casamentos felizes no ano de 1861.
“Pernoitei no ergástulo da senhora Joanninha, e fui no dia seguinte para as Caldas das Taipas, esperar que Francisco Martins me lá désse um leito em sua casa, e um talher à sua mesa.”; “Fui de Santo António das Taipas para as cercanias de Fafe, quinta do Ermo, onde me esperava, com os braços abertos e o coração no sorriso, José Cardoso Vieira de Castro.”;
“A meia légua das Taipas, tem Francisco Martins uma quinta, chamada de Briteiros.”; “Fechei a carteira. Pejo ou orgulho, até dos meus amigos íntimos escondi sempre as lágrimas.”; “De Braga voltamos às Caldas.”; “Naquelles dias correu neste local um incidente cómico de muita alegria para os banhistas. Acaso passára, vindo de Braga, e pernoitára nas Caldas, um corpulento moço bem entrajado com um fraque preto, e botas de águas” do livro -Memórias do Cárcere no ano de 1862.
“Duas horas depois, por toda a villa, e extramuros de Guimarães grassava a notícia de ter fugido Therezinha, a rica e linda herdeira da rua dos Fornos com o Guilherme Nogueira. Uns diziam que para Lisboa, outros para a Galiza, mas já havia quem os tivesse encontrado em S. António das Taipas, caminho de Braga.” do livro -Novelas do Minho, n’A viúva do Enforcado no ano de 1877.
“Quando eu estava na casa de Francisco Martins, de Guimarães, em Briteiros, na raiz da serra da Citânia, ensaiando forças para as solidões do cárcere… (sempre que posso, trago estas recordações a molde não vejo outro gesto de expiar a tolice, senão confessando-a e relembrando-a). Vinha dizendo, quando eu estava em Briteiros, fui dali, na volta da serra, entrar na cumiadada montanha do Bom Jesus.” do livro -Bom Jesus do Monte no ano de 1864.
“Onze horas seriam quando, da banda de Guimarães, desembocou no largo das Gaias uma senhora sentada sobre um macho, guiado por um arrieiro. -As Gaias é aqui, patrôa -disse o arrieiro.” e “Há alli fóra na estrada das Caldas uma taverna.” do livro -A Engeitada no ano de 1866.
Mas, e a meu pedido, o nome do escritor figura desde o ano de 2005 na toponímia local, numa praça do Loteamento do Bouçós.
Placa de toponímia no Loteamento do Bouçós
No ano que hoje começa, o de 2025, nas comemorações do 2º centenário do nascimento do maior novelista e romancista da língua portuguesa não podemos deixar passar a data em claro, e, será homenageado pelo que julgo saber, designadamente num repasto literário a ser servido num restaurante taipense no dia 16 de março, 200 anos depois do seu nascimento, numa organização de camilianos locais, e, certamente neste enquadramento muito mais possa ser celebrado, designadamente a colocação do painel de azulejos e a mamoa com a memória alusivas ao escritor.
Caldas das Taipas, no primeiro de janeiro do ano de 2025
(ndr: artigo originalmente publicado na edição de janeiro 2025 do jornal Reflexo)
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