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Super Vilar de Mouros

Pedro Conde
Opinião \ segunda-feira, setembro 18, 2023
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Pois é meus senhores, quem me conhece e segue os meus artigos, sabe que Vilar de Mouros é um festival que venho falando há já muito tempo e, felizmente, este ano, o que previa, aconteceu.

A edição deste ano terá sido, sem dúvida, um marco na história deste, que é o mais antigo Festival português. Esgotou com 25 mil pessoas, no sábado, dia 26, e cerca de 70mil, no total do festival.

Mais uma vez,  a receita deste Vilar de Mouros funcionou em grande.

Mas, vamos ao que interessa e vou contar-vos um pouco do que foi para mim, a edição deste ano.

Logo a abrir, encontrei um concerto com muita força dos Last Internationale. Recordo que a última vez que tinha visto esta banda americana tinha sido no Barco Rock Fest. De lá para cá, muitos km de estrada e centenas de concertos passaram pela dupla Delila Paz e Edgey Pires (guitarrista de ascendência portuguesa da zona dos Arcos de Valdevez), e isso notou-se claramente, deram tudo, até uma versão da Grândola Vila Morena do Zeca Afonso tocaram.

Nesse primeiro dia, também tocou aquela outra banda americana que todos esperavam de uma forma ansiosa há já alguns anos, os tais Limp Bizkit. Bem, o que posso dizer deste concerto? Entraram fortes com o seu novo single “out of style” e, claramente, à segunda música, Fred Durst já estava admirado com a reação do público, à terceira, questionou a plateia “Mas é para curtir como em 1999?”, a partir desse momento, rasgaram o alinhamento e foi porrada sonora com uma potência que tenho poucas palavras para descrever. Single atrás de single, sem deixar ninguém respirar. Conseguir pôr milhares aos saltos durante todo o concerto é mérito que está ao alcance de poucas bandas. Os Limp mostraram que são uma banda de categoria mundial como poucas e curtiram tanto este concerto como os milhares que saltaram do início ao fim. “Creme de la creme”? A meio do concerto, Wes Borland (guitarrista icónico dos Limp), diz a Fred “Está ali o rapaz do aeroporto”. Rapidamente chamaram o Márcio ao palco e Fred explicou que se tratava de um fã que trabalha no aeroporto do Porto, que os encontrou à chegada e pediu para cantar uma música com eles. Ora bem, e os enormes Limp realizaram o sonho ao seu fã. Bem, o que se seguiu podem encontrar no youtube. Márcio aka O Herói de Vilar de Mouros, agarrou no micro com as palavras “vamos lá c*****!” e rasgou taco a taco a “Full Nelson” com Fred, levando ao rubro os milhares, elevando este concerto para o nível de épico.

Termina o concerto, vou buscar uma cerveja e penso: “Bem, só por este concerto já valeu ter vindo ao Festival”. Contudo, passado uma meia hora já estávamos todos aos saltos novamente, a cantar os hinos nacionais que são as músicas dos Xutos, com Tim a partilhar história atrás de história a enciclopédia de rock português que são os Xutos e a sua música, transversal e paralela a toda a história do rock português.

Começo o segundo dia com um sentimento de que já tinha visto a melhor parte do festival. Tudo certo, até que entram em palco os senhores Britânicos The Prodigy. Bem, já previa que ia ser bom, contudo, nada me preparou para este concerto. Demolidor! Um som com um grave que conseguíamos sentir no corpo (um ponto fantástico em todos os concertos na edição deste ano foi a grande qualidade do som), uma energia que criou mosh pitts, variadas vezes, tudo aliado ao espetáculo visual que nos leva para uma outra dimensão. Não deixaram de fazer uma fantástica homenagem a Keith Flint que nos deixou em 2019, com uma versão musculada da “Firestarter”. Mais um concerto épico de mais uma banda, como poucas, a nível mundial, daquelas em que os discos não fazem justiça ao poder sónico que conseguem a tocar ao vivo.

Sexta-feira ficam os concertos de Pendulum e de uns Within Temptation agressivos, mas com um concerto muito concentrado nos seus temas mais recentes e também mais desconhecidos do público em geral. Ainda de tarde, uma nota muito positiva quer para os Bizarra Locomotiva quer para Apocalyptica.

Chegamos a sábado, que abriu com um concerto da excêntrica Peaches, logo seguida de Guano Apes. Neste momento o recinto de Vilar de Mouros já estava compactado com público desde as grades do palco às grades de entrada. Até que entram os enormes James, mais um episódio de amor de uma banda a um público que cantou de início a fim, single atrás de single. Para fechar este grande festival, Ornatos Violeta, com um concerto de celebração em memória de Elísio Donas teclista da banda que faleceu este ano. Um concerto com o sentimento à flor da pele, e uma onda e uma energia que todos os 25mil sentiram quando cantaram “Chaga” e “Ouvi Dizer” em uníssono. Manuel Cruz e o guitarrista da banda, Peixe, tiveram uma das melhores perfomances que já vi deles, irrepreensível! Fechar com uma chave de ouro com uma das bandas mais importantes e mais marcantes do panorama da música moderna portuguesa.

Claro que não foram só rosas este festival e existiram imensas questões logísticas que funcionaram muito mal e que terão de ser repensadas na próxima edição. Desorganização, filas de horas para entrar, filas enormes na restauração, filas na cerveja, que continua, infelizmente, também bastante cara (uma cerveja a 4€?). Dores de crescimento alegou Diogo Marques responsável da organização do Festival.

Concordo, e ao que mais importa este Vilar de Mouros, na minha opinião, cumpriu e superou todas as minhas expectativas. Foram muitos concertos que ficam para sempre na memória de quem os viu e viveu neste Vilar de Mouros.

Resta agora saber qual será o caminho e a direção que este festival irá tomar. Ambição de crescimento é clara e ficou vincada no final do evento por esta organização. Esperemos é que não comprometa o caminho e a linha tão bonita e fantástica que os trouxe até aqui. Para já, e tal como dizia em conferência de imprensa o presidente da junta de Vilar de Mouros, Sr. Carlos Alves: “Venho ao Festival desde 72, nunca falhei nenhuma edição, e para o ano a única certeza que tenho é que certamente estarei cá novamente!” E eu certamente também!