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Rui Amorim and “The Privilege of Making The Wrong Choice”

Pedro Conde
Opinião \ sexta-feira, novembro 17, 2023
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Ele [Rui Amorim] e a sua Azenha d’Zameiro foram influência crucial no nosso gosto pela música, pelo rock e pelos concertos ao vivo. Foi das minhas maiores influências para a criação do N101.

Pois é, meus amigos, no meu artigo deste mês, vou contar-vos um pequeno (ou grande, depende sempre do ponto de vista), episódio recente, que vivi com uma enorme felicidade, daí não poder deixar de partilhar com vocês.

No final do mês passado, fui tocar com Theo e com outra banda aqui da nossa vila, os Segundo Minuto, a Famalicão, e no final dos concertos, o inesperado, aconteceu. Já tínhamos acabado de arrumar o nosso material (isto porque os nossos roadies não puderam estar presentes, como é claro), e, quando já estávamos em jeito de saída, eis que o “Aguiar” (comandante da Casa do Artista Amador e do Festival Laurus Nobilis), me diz: “Conde chega aqui que há uma pessoa que te quero apresentar!”.  Ao balcão estava um senhor já maduro, a beber um copo de vinho branco. “Conde, este é o Rui, o dono da Azenha D’Zameiro!”. Ora bem, quase que caí para trás de costas.  Aliás, tanto que tive de ir chamar todo o resto da malta para lhes apresentar quem ali estava, porque queria partilhar o momento.

Depois do choque inicial, lá lhe explicamos que éramos todos grandes fãs do seu espaço. Ou melhor, grande parte de nós, até já lá tinha tocado. Mais do que isso, ele e a sua Azenha d’Zameiro foram influência crucial no nosso gosto pela música, pelo rock e pelos concertos ao vivo. Foi, claramente, das minhas maiores influências para a criação do N101.

Ouvir em primeira mão esta lenda viva foi um momento único. E, assim, ele lá foi partilhando as suas memórias. De, como nos anos 80 (em 1986), após terminar o seu curso de história, decidiu, por influência de um amigo, avançar para a criação, da Azenha D’Zameiro. Aproveitaram um moinho antigo que era da sua madrinha para criar um dos espaços que se tornaria lendário até aos dias de hoje. A influência desse amigo durou pouco, principalmente porque, como ele nos disse, “ele só gostava de brasileirada e, em pouco tempo, nos desentendemos e fiquei sozinho”. A partir desse momento, começaram aparecer os concertos ao vivo. Relembra ter o Pedro Abrunhosa ou Phill Mendrix em inúmeros concertos e jams. Com os anos, perdeu a conta aos concertos, falamos de alguns, como Zen, Blind Zero ou os Ecos da Cave, entre muitos outros. Falamos das centenas de K7 e cd’s de maquetes que as bandas lhe enviavam, que ainda guarda religiosamente. Falamos das suas bifanas e da cabeçada que toda a gente dava na viga a subir ao palco. Falamos de épicos concertos com a casa arder ou com cheias que cobriam o piso inferior, tudo lá aconteceu!

Infelizmente, ao fim de mais de 25 anos, encerrou em 2011. Foi uma decisão difícil, como nos contou,  em que pesaram os filhos que foram nascendo, as constantes cheias que teimavam em destruir o espaço e, por fim, também um violento episódio de um assalto onde ficou bastante maltratado. Voltou ao ensino onde continua a lecionar História. O seu filho continua ligado à música; aliás foi o nosso técnico de som nesse dia.

Vi nos seus olhos o brilho de contar as suas histórias, principalmente, impressionado por, passados mais de 10 anos, ainda existirem pessoas que se lembram assim do seu espaço e do seu legado. Falei-lhe do N101, que ele conhecia de ter ouvido falar, mas que nunca visitou. Despediu-se de mim com as seguintes palavras: “Meu caro, então se tu és o Conde,  isso deve fazer de mim o Rei.” E assim, me deu um abraço! Hail to Rui “Rei” Amorim, à sua Azenha D’Zameiro e à sua enorme história, marco e pioneiro de uma era perdida do rock nacional, na sua vertente mais alternativa e underground.

 

Zen - “The Privilege of Making The Wrong Choice”

Como sugestão deixo ficar um dos meus discos favoritos, “The Privilege of Making The Wrong Choice” dos Zen que está a celebrar nada mais nada menos que 25 anos, com direito a concerto de comemoração no Hard Club no Porto, próximo dia 11 de Novembro. Os Zen surgiram nos anos 90, no Porto, e contam com dois discos de originais e um ao vivo, precisamente no Hard Club. Da formação original continuam na bateria André Hollanda, Miguel Barros no baixo, na voz Rui Silva aka “Gon”,  acompanhados recentemente na guitarra  pelo enorme Miguel Azevedo. Rock, blues, funk, tudo num formato agressivo e cru, onde “less is more”, comandado pelas palavras ou, às vezes, apenas gritos ritmados, do irreverente e destrutivo Gon, que ao vivo é um monstro. O disco está entre os melhores que conheço, mas ao vivo, garanto que ainda é melhor, por isso fica a sugestão!