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Ser Amigo “Antigamente é igual a ser Amigo “Actualmente”?

Vera Rosas Guimarães
Opinião \ quinta-feira, maio 06, 2021
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Fazendo uma análise superficial, parece que ser amigo “actualmente” é mais fácil e melhor.

Numa primeira abordagem parece que não.

Fazendo uma análise superficial, parece que ser amigo “actualmente” é mais fácil e melhor.

Tendo como referência as redes sociais, confirma-se essa ideia. No Facebook temos 3000 amigos, no Insta outros tantos, Twitter e outros parecidos. Todos esses “amigos” adoram e gostam de todas as nossas ideias e fotos que publicamos.

Tudo isto parece levar-nos a concluir que os amigos “atualmente” dão-nos mais valor e estão mais atentos ao que dizemos e fazemos.

Existe uma maior proximidade, estamos constantemente contactáveis (Computadores, Telemóveis, etc.), temos mais acesso a informações uns dos outros, portanto, parece que as gerações anteriores, quando dizem que “no meu tempo é que era, amigos como antigamente já não se fazem”, etc., parecem estar enganados. Será que assim é?

Realmente temos mais “acesso” uns aos outros, temos mais e melhores meios para comunicar mais e melhor, mas creio que não o fazemos.

Todas estas aparentes facilidades, na minha opinião, vieram “vulgarizar” de certo modo o conceito e a prática da Amizade.

Com os amigos “antigamente” tínhamos mais tempo para estarmos juntos.

Não havendo os meios de comunicação de agora, os relacionamentos tinham uma “dose presencial" mais significativa.

Havia, pela mesma razão, uma interação mais intimista entre as pessoas. As pessoas baseavam a construção dos seus relacionamentos no abraço, no beijo assim como no estar, olhos nos olhos.

Esta interação permitia um conhecimento mais genuíno um do outro.

Comparo um bocado com as fotografias.

Anos atrás, íamos de férias com um rolo de 36 fotos que teríamos de gerir de forma criteriosa para que realmente ficássemos com o registo do que mais nos era importante. Corríamos o risco de, de um momento para o outro, tudo perder com um simples abrir da máquina fotográfica. Cada foto era escolhida e sentida com mais intensidade.

Atualmente, 36 fotos podem ser tiradas em um minuto pelos motivos mais fúteis que não há problema. Temos mais umas centenas para tirar e, mais ainda, podemos edita-las á nossa maneira!

Estou longe de ser contra os avanços tecnológicos!

Estes avanços realmente, permitem-nos diminuir distâncias (amigos emigrados podem manter um contato através de videochamada), estamos sempre disponíveis através do telemóvel, e, mesmo a nível profissional, permite uma dinâmica diferente e mais competitiva.

A tecnologia de que dispomos permitiu-nos, em pleno período de pandemia, mitigar de certa forma os efeitos de distanciamento e isolamento.

Os avós não podiam estar com os netos, o namorado(a)/ amigo(a) estava em confinamento, mas tinham a videochamada. Não sendo a mesma coisa, são realmente meios para nos ajudar em diversas situações dos relacionamentos.

De qualquer forma, na construção e exercício de uma relação de amizade, creio que os nossos cinco sentidos (ou seis, segundo alguns) devem ser sistematicamente utilizados.

É através de cada um deles (sentidos) que recebemos e trocamos informações e emoções que ajudam a construir as diversas relações.

Como já devem ter percebido, estou a utilizar o termo amigo(a) num sentido lato.

Tanto falo na amizade dentro da família, no melhor amigo(a) de infância, como no vizinho(a) do lado que, apesar de só o ver esporadicamente, não deixo de lhe desejar um bom dia ou de trocar umas breves palavras.

Não podemos deixar que todas as facilidades que os avanços tecnológicos possam imprimir às amizades nos impeçam de as valorizar e de as usufruir. De as podermos construir com todos os obstáculos que, com certeza, irão sempre aparecer mas que, no fim, irão criar relações mais fortes e verdadeiras.

Uma relação de amizade, independentemente de ser de “antigamente” ou “atualmente” é algo que envolve trabalho e empenho.

Por muito que o ritmo da vida seja elevado, a profissão no ocupe cada vez mais tempo, devemos e podemos apostar na construção de amizades mais fortes e verdadeiras. Para isso teremos de ter sempre tempo; e tempo somos nós que o fazemos.