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Rock In Taipas

Pedro Conde
Opinião \ segunda-feira, fevereiro 27, 2023
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O pequeno palco do Rock in Taipas teve um impacto que ainda hoje passado 25 anos da sua primeira edição sentimos... Nem só de obras de cimento se faz a história de uma terra.

Começo este novo espaço de opinião com um assunto que me é muito querido e que me traz muitas recordações felizes aqui na nossa Vila, o Festival Rock in Taipas. Este filho mal-amado da Vila tem servido em exclusivo nos últimos anos de bandeira política de todos os partidos, mas infelizmente não passa disso. De quatro em quatro anos lá se ouve falar do Rock in Taipas mas rapidamente a caravana passa, e Ele passa novamente ao esquecimento.

Mas afinal o que era este Festival? Os anos passam e cada vez vejo menos pessoas que efetivamente se lembram, e que sabem reconhecer a sua importância, por isso, deixo aqui o meu testemunho e partilho as minhas recordações. Temos que recuar a 1998 (Portanto estaríamos este ano a celebrar os 25 anos do Festival, fica a dica aos senhores que mandam, e é de borla), quando num ensaio dos Pen Cap Chew, chega a notícia que existe a ideia de fazer um Festival nas Taipas, e mais, que se calhar íamos poder tocar.

Na altura uma iniciativa da Junta de Freguesia, pela mão da Professora Celeste, e dos Jovens Ricardo Costa e Sérgio Araújo, aliados ao revolucionário baixista da nossa banda, Manuel Castro (senhor que durante anos consecutivos levou de uma forma incansável às costas este festival).  Ora bem, esta notícia quando tens 16 anos na década de 90 equivale a hoje em dia, sei lá, ter pelo menos um milhão de likes no teu vídeo do Tik Tok.

Estamos a falar numa altura em que existiriam em Portugal umas duas dezenas de festivais, que nós ouvíamos falar quase em exclusivo através do jornal Blitz, o santo graal do pessoal do rock (ninguém tinha telemóvel, a internet era algo que existia apenas num computador na escola, a música era ouvida exclusivamente em K7 ou CD, por isso sim, as notícias ainda eram todas em papel).

Em êxtase abraçamos esta ideia, e rapidamente estávamos a colar cartazes e a carregar grades em frente ao palco numa euforia desmedida, a ajudar na organização. Nesse primeiro ano o Festival revestiu o formato de concurso por isso estendeu-se por vários fins de semana. E por vários fins de semana o Parque das Taipas encheu de jovens como eu, a ver e ouvir outros jovens taipenses e dos arredores a tocar. Sentimos que tínhamos o nosso Vilar de Mouros no Parque das Taipas. Recordo os concertos dos Subcultura, dos Uzi, dos Ruptura, dos Blue Orange Juice entre muitos outros, e de olhar para todos eles como Ídolos.  

Subir ao palco do Rock in Taipas nesse ano foi uma experiência que me marcou para sempre, e criou em mim uma chama que ainda hoje carrego. Terminada a primeira edição o Rock in Taipas, o Festival deixou ficar um rasto, uma energia nas ruas da Vila, que eu senti, mas muitos outros sentiram. Foi lançada uma semente, e para a edição 1999, das duas ou três bandas que existiam no ano anterior, surgiram umas 10, e no ano seguinte umas 20. As salas de ensaio multiplicaram-se como cogumelos.

Nas garagens do Centro Comercial Passerelle era fácil encontrar num sábado à tarde 3 ou 4 bandas a ensaiar (o famoso Underground Sound Of Taipas).  O Rock in Taipas em poucos anos tornou-se um ponto de encontro, uma máquina fortíssima de criação de músicos, público, e acima de tudo um palco aberto, onde os jovens taipenses tinham efetivamente oportunidade de mostrar com dignidade a sua música.

O Festival cresceu, mas soube guardar sempre espaço para os músicos locais. Foi pedra basilar de uma geração do rock que ainda hoje existe. Acima de tudo soube criar na juventude taipense uma vontade, uma vontade de criação e acima de tudo a capacidade de sonhar...  Resumindo o pequeno palco do Rock in Taipas, com orçamentos sempre super reduzidos, teve um impacto que ainda hoje passado 25 anos da sua primeira edição sentimos... Nem só de obras de cimento se faz a história de uma terra... Fica a Dica...

[ndr. Artigo originalmente publicado na edição de fevereiro do Jornal Reflexo].