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Alfredo Oliveira
Opinião \ terça-feira, outubro 02, 2001
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Apesar da interpretação da lei pender a favor dos bombeiros, quer-nos parecer que o toque da sirene vai contra o espírito dessa mesma lei.

Primeiro surgiu a notícia do que se estava a passar e na última edição o nosso colaborador permanente para as questões jurídicas apresentava a aplicação da lei em tais casos. Apesar da interpretação da lei pender a favor dos bombeiros, quer-nos parecer que o toque da sirene vai contra o espírito dessa mesma lei. O direito ao descanso e a uma noite repousada deve ser um direito pelo qual todos devem lutar e defender.
O que é um facto é que o toque da sirene durante a noite implica que para se chamar uma dúzia de bombeiros se acorda toda uma vila. Isto não pode continuar a ser lei.
As tradições existem até serem ultrapassadas pelos tempos. Antigamente a tradição era de se apagar os incêndios com baldes (debalde se atacavam esses fogos, mas não havia outros meios). Com a sirene é a mesma coisa, está ou deveria estar ultrapassada.
Em vez de costas voltadas (tal como os edifícios sede), GNR e Bombeiros deveriam pressionar a Câmara ou quem de direito, para estes instalarem um sistema que permita a chamada dos bombeiros sem pôr em causa a rapidez da sua actuação, e que possibilite às pessoas noites mais tranquilas.

Festas populares
Já que estamos a falar de ruído, vamos a mais barulho. Os meses de Verão são pródigos na existência de festas populares. Cada freguesia tem a sua e temos variados casos em que diversos locais da mesma freguesia têm o seu arraial popular.
Nos últimos tempos acentuou-se a tendência de a noite começar cada vez mais tarde. Se ainda há poucos anos uma discoteca abria às 10 horas e fechava lá para a uma hora, nos tempos que correm já sabemos que à meia-noite a discoteca ainda está às moscas. Uma pessoa janta, pode ir ao cinema, pode dormir um pouco e depois é que parte para a discoteca.
As festas populares estão a seguir este caminho, principalmente no que diz respeito às grandiosas sessões de fogo de artifício. Todos sabemos que estas sessões de fogo são mais som do que luz. Quanto maior for o estrondo dos foguetes maior será a grandiosidade da festa.
O problema é que o lançamento do fogo se faz cada vez mais tarde. A hora da Gata Borralheira está largamente ultrapassada e temos os foguetes a rebentar pela noite dentro.

Terrorismo em directo
Os trágicos acontecimentos desenrolados nos EUA no passado dia 12 de Setembro ficarão marcados na história da humanidade. Os atentados perpetrados tiveram contornos nunca antes imaginados ou vistos.
Um dos pontos que começa a merecer a atenção dos colunistas é o papel da televisão nestes atentados.
Estamos em crer que a organização que planeou tais actividades não esqueceu o poder que a televisão exerce nas sociedades ditas ocidentais. Pela primeira vez tivemos um atentado terrorista transmitido em directo para todo o mundo. Não teremos muitas dúvidas de que os terroristas sabiam que as televisões, ávidas de imagens, não demorariam a apontar as câmaras para o World Trade Center. Entre o primeiro embate e o segundo tivemos cerca de dezoito minutos, tempo suficiente para a CNN e afins colocarem no ar as imagens da tragédia. Toda a gente pôde assistir, incluindo os chefes terroristas comodamente instalados e provavelmente num país longínquo, ao desenrolar de um plano maquiavélico.
Sem imagens não temos notícias, já o disse Ignacio Ramonet (professor ligado à área da comunicação) e cada vez é mais verdade tal afirmação. Se tivéssemos imagens destes acontecimentos nos dias seguintes ou se não existissem sequer imagens dos aviões a chocar com os edifícios, certamente que este atentado não teria o impacto que teve na sociedade.
Praticamente só se falou nas torres de Nova Iorque, o Pentágono passou para segundo plano e o quarto avião só foi referido pela questão de se saber se foi abatido ou se a queda resultou da luta entre os passageiros e os terroristas. No primeiro caso tivemos as imagens em directo, na segunda situação as televisões tinham imagens muito afastadas do Pentágono a arder, do quarto avião, em resultado da sua destruição total, as imagens mostraram o local da queda.
Apesar do número de mortos ser bastante inferior ao registado nas torres, o atentado contra o Pentágono deveria ser o grande motivo das discussões. Mas não. Não tivemos ainda as imagens do choque do avião. De entre as improbabilidades, seria mais impossível de acontecer o atentado contra o Pentágono, trata-se de um edifício de máxima segurança, em princípio, com sistemas de defesa preparados para repelir os ataques, que as torres não tinham.
Por questões de imagens, as televisões centraram-se no World Trade Center. Quantas vezes as imagens do choque dos aviões passaram nas tvs no dia 11 de Setembro?
O poder que a televisão exerce nas sociedades atinge dimensões que os diversos organismos, entidades e, agora, os terroristas aproveitam para difundir os seus propósitos.
A questão não é de agora, até onde acaba a informação e começa a propaganda?