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Os novos clusters artísticos e património devoluto das autarquias e Estado

Pedro Conde
Opinião \ sexta-feira, julho 21, 2023
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Recentemente tive oportunidade de conhecer dois “oásis” que partilham em comum, em primeiro lugar, um amor incondicional pela música e em segundo usam como sede antigas escolas primárias desativadas.

Recentemente tive oportunidade de conhecer de perto dois projetos e dois espaços muito particulares.  Dois “oásis” que partilham em comum em primeiro lugar um amor incondicional pela música e em segundo usam como sede antigas escolas primárias desativadas que tiveram oportunidade de recuperar e dar nova vida.

Em primeiro lugar vou falar-vos da Casa do Artista Amador e da Associação Ecos Culturais do Louro na freguesia de Louro da zona de Famalicão. Esta associação, que é acima de tudo conhecida pela organização do seu Festival “Laurus Nobilis Music Fest”, (festival de referência nacional e internacional a nível do circuito do Metal, que trouxe a Portugal o ano passado por exemplo os MANOWAR, e conta no cartaz deste ano com os Katatonia), tomou de assalto uma antiga escola primária que usa neste momento como base de trabalho para todas as atividades que desenvolve. Mas não julguem que foi um processo fácil, como me explicou o seu presidente e principal mentor e motor do projeto José Aguiar. Depois de conseguirem que acreditassem no seu projeto e lhes cedessem o espaço, aproveitaram o período de pandemia para se barricarem dentro da escola e pelas próprias mãos, um punhado de voluntários, reergueram este edifício e transformaram-no à imagem dos seus sonhos. Nele neste momento têm instalado um espaço de concertos e bar totalmente equipado para receber qualquer tipo de banda, e promovem mensalmente uma programação eclética que vai desde concertos de Metal a serões de poesia ou debate. Têm também salas para outro tipo de atividades tais como dança, pintura etc.

Em segundo lugar conheci em Vermil Guimarães, a CAISA, Cooperativa de Artes e Intervenção Social e Animação e CLAV, Centro e Laboratório Artístico de Vermil. Também este projeto usa como sede a antiga escola primária de Vermil, que foi também desativada e posteriormente reabilitada para este novo fim.  Este espaço é utilizado neste momento como espaço de criação artística, com estúdio/régie com capacidade de gravação áudio e vídeo. Um dos seus projetos com mais visibilidade são as “Clav Live Sessions”, uma agenda de programação de concertos ao vivo para um público presencial reduzido, mas com gravação áudio e vídeo que permite “live streaming”, e que posteriormente é retransmitido por variadas plataformas digitais e não só, nomeadamente o Porto Canal por exemplo. Quase toda equipa técnica é composta por jovens estagiários, onde estes têm assim oportunidade de ter a sua primeira experiência de trabalho na área do audiovisual. O espaço tem também capacidade para trabalhar em regime de residência artística e receber com todas as condições bandas para gravarem discos. Todos estes projetos estão sob a direção artística e técnica de Alberto Fernandes, que é o comandante e visionário que mantém diariamente a atividade desta cooperativa, que continua cheia de vida e com imensos novos projetos em carteira, que certamente brevemente iremos ouvir falar.

Estes são dois bons exemplos (de alguns existentes no concelho e até na nossa vila, nomeadamente a Academia de Música Fernando Matos, que ocupa as instalações da antiga escola primária do Pinheiral), de um fantástico de reaproveitamento do património devoluto das autarquias e do estado, que com um pequeno investimento voltam a ter vida e a promover a atividade cultural descentralizada. Estes pequenos clusters são pequenas luzes de esperança que vão surgindo num panorama cada vez mais escuro da música e do circuito alternativo nacional e que por isso devem ser apoiadas pelos senhores que decidem, mas também, e acima de tudo, por todos nós.

Por fim não posso terminar este artigo, sem falar numa palavra que define ambos os espaços e as pessoas que os promovem que é RESILIÊNCIA, esta capacidade cada vez mais rara de conseguir aguentar a adversidade procurando sempre novas soluções e novos caminhos sem nunca baixar os braços!! Estes senhores transpiram resiliência, ambos os espaços têm equipas de pessoas com uma vontade que move montanhas e que por isso merecem a minha total admiração e respeito. Não gerem orçamentos alargados, e tudo que conseguem é fruto do trabalho e da vontade comum, e com muito pouco fazem coisas gigantes. Por isso nem tudo é mau, e ainda há quem continue a luta contra este panorama negativo.  Espero verdadeiramente e acima de tudo, que estes exemplos sirvam pelo menos de inspiração para as novas gerações, e para novos projetos, para que cada vez mais “luzinhas deste género se vão acendendo”.

Como sugestão para a edição deste mês deixo-vos ficar os Australianos Blowers, uma banda que tive a oportunidade de ver ao vivo, e o privilégio de partilhar o palco, isto literalmente. Tivemos a oportunidade de fazer a primeira parte deles por duas ocasiões na sua tour europeia, e na segunda data juntos, conseguiram arrastar-me para finalizar em palco a última música com eles. Naturais de Melbourne, lançaram em Abril o seu novo disco “Blown Again” pela nacional CHAPUTA Records e pela australiana Spooky Records, estiveram em tour recentemente pela europa, passando por Portugal, Espanha, França, Bélgica e Holanda. Esta banda de veteranos de outros projetos é possuidora de um “Low-Fi garage punk rock” puro e clássico, mas é ao vivo que mostram a sua verdadeira essência. Explosões sucessivas de energia de guitarras potentes e estridentes, riffs rápidos, comandados pelas vozes frenéticas de Kit Convict e Andrew Porter, acompanhados no baixo e bateria por Pip Mcmullan e Shannon Aswell respetivamente. Concertos suados com uma atitude que levanta qualquer público no ar!! Fica a sugestão.