02 agosto 2025 \ Caldas das Taipas
tempo
18 ºC
pesquisa

Osteopatia como aliada no treino

Lionel Ferreira
Opinião \ terça-feira, julho 29, 2025
© Direitos reservados
Hoje, é impossível dissociar o meu trabalho do impacto que este conhecimento osteopático tem na forma como penso, observo e treino.

O desenvolvimento do treino desportivo está em constante evolução. Hoje, mais do que nunca, torna-se essencial utilizar todas as ferramentas disponíveis para potenciar o rendimento, prevenir lesões e acelerar a recuperação. A osteopatia, embora por muitos aclamada e por outros ainda vista com desconfiança, tem vindo a destacar-se como uma terapia complementar eficaz para atletas e praticantes de exercício físico, dos amadores aos profissionais de alto rendimento.

A osteopatia é uma terapia manual baseada numa abordagem integrativa do corpo humano. Considera a interligação entre estruturas como ossos, músculos, fáscias, articulações e o sistema nervoso. Ao identificar e tratar disfunções somáticas, a osteopatia promove o equilíbrio do organismo, ajudando a melhorar o seu funcionamento global que, naturalmente, se traduz em melhor desempenho físico.

Durante muito tempo, considerei a osteopatia útil principalmente na recuperação de lesões ou disfunções. No entanto, com o passar do tempo e à medida que aprofundei os conhecimentos e a prática, percebi que o chamado "olhar osteopático" transformou profundamente a forma como estruturo o treino, especialmente na seleção e priorização dos exercícios.

Hoje, a avaliação osteopática é uma ferramenta essencial no meu processo de treino, o que a torna verdadeiramente especial é o seu caráter abrangente e detalhado.

Através da análise estática e dinâmica da postura, observam-se simetrias e assimetrias corporais desde os pés até à cabeça. Avalia-se o alinhamento dos joelhos, ancas, coluna, caixa torácica, ombros, cotovelos e mãos. Este exame permite identificar desvios, rotações e padrões compensatórios que afetam o movimento e o rendimento.

A anatomia palpatória é uma ferramenta-chave para "ler" o corpo com as mãos. Através dela, podemos avaliar a textura, temperatura e tensão dos tecidos moles, bem como a qualidade do movimento das fáscias, que desempenham um papel vital na transmissão de forças e no equilíbrio corporal.

Com a análise através mobilizações passivas e ativas das articulações é possível detetar restrições de movimento ou bloqueios que podem limitar a performance e predispor a lesões. Uma articulação com mobilidade limitada, mesmo sem dor, pode alterar toda a cadeia cinética.

É possível também verificar a mobilidade dos órgãos internos, como o fígado, estômago ou intestinos. Com toques suaves e direcionados, verifica-se se há tensões ou restrições que possam estar a afetar a postura ou a provocar sintomas como dor abdominal funcional, refluxo ou desconforto digestivo.

Apurar a mobilidade do sistema nervoso, periférico e central, é essencial em casos de dores irradiadas, formigueiros, ciatalgias ou outros sintomas neurológicos. Através de movimentos específicos, identificam-se tensões que afetam o normal deslizamento dos nervos.

Integrar a osteopatia no treino desportivo é ir muito além da recuperação de lesões. É olhar o corpo como um todo interligado, respeitar a sua individualidade e antecipar problemas antes de surgirem. A avaliação osteopática fornece uma leitura profunda do estado funcional do atleta, permitindo um planeamento de treino mais preciso, seguro e eficaz.

Hoje, é impossível dissociar o meu trabalho do impacto que este conhecimento osteopático tem na forma como penso, observo e treino.

ndr: [conteúdo originalmente publicado na edição de julho do jornal Reflexo - versão papel]