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Padre Silva Gonçalves, taipense que derrubou o todo poderoso Afonso Costa

Carlos Marques
Opinião \ domingo, março 12, 2023
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O omnipresente Afonso Costa, chefe do governo republicano que dizia e pretendia acabar com a fé católica em duas gerações teve sempre no senador Silva Gonçalves um dos seus principais inimigos.

António José da Silva Gonçalves nasceu no dia 13 de dezembro de 1879 na terra de Caldas das Taipas que considerava como sua, na casa de Travanca em São Lourenço de Sande, e nela morreu ao dia 19 de maio de 1942 com apenas 62 anos de idade, em cujo cemitério está sepultado e mandei colocar a sua fotografia.

Aos seus 20 anos concluiu o Curso de Teologia, para no dia 17 de Julho de 1902 ascender à condição de presbítero, e a 17 de agosto do mesmo ano celebrou a sua primeira missa. Começou como capelão da igreja de Santa Maria Madalena no Monte da Falperra sito na freguesia de Longos, da zona pastoral das Taipas, e depois padre em Briteiros no ano de 1906 onde funda a Escola Primária e é professor gratuito.

Passou por diversas paróquias como a de Vandoma/Paredes, São Miguel das Aves, divide uma em duas paróquias da Póvoa de Varzim, um feito que merece os maiores elogios do Arcebispo de Braga D. Manuel Vieira de Matos e a Câmara da Póvoa lhe atribui a Medalha de Reconhecimento Poveiro no dia 5 de janeiro de 1939. Já doente sai da Póvoa e veio paroquiar as Taipas entre Outubro de 1935 até Agosto de 1940.

Aqui fundou a Acção Católica, a JOC e a JAC e ajudou na criação da Casa dos Pobres. Das Taipas saiu para Capelão da Igreja de São Domingos em Guimarães. Começo por referir que a Junta de Freguesia de Caldelas sabendo da necessidade nas novas ruas e avenidas da vila colocar topónimos para sua melhor identificação, em 12 de Janeiro de 1954 aprova para a rua que parte da estrada nacional em direção a São Lourenço de Sande seja designada de “Rua Padre Silva Gonçalves” pretendendo homenagear a pessoa com a qualidade de trabalho evidenciado no exercício da sua profissão, no serviço à sua terra e ao seu país e é justo que se lhe atribua o nome, pois como indica foi “notável orador e escritor, jornalista e parlamentar e reitor nas Taipas, topónimo que viria a ser aprovado pela municipalidade na sua reunião ordinária no dia 13 desse mesmo mês.

Para se compreender e defender o ousado título para a figura deste nosso conterrâneo, temos de ter em conta que o omnipresente Afonso Costa, chefe do governo republicano que dizia e pretendia acabar com a fé católica em duas gerações teve sempre no senador Silva Gonçalves um dos seus principais inimigos, pois além de o ter de enfrentar nos debates políticos na Câmara do Senado, sabia que o senador eleito pelo Círculo Católico como grande orador, usava além dos púlpitos das diversas igrejas para onde era convidado, a qualidade nata de jornalista tendo redigido inúmeros textos para 36 diferentes títulos de jornais e revistas, tendo sido diretor dos jornais Actualidade, A Voz da Verdade, Diário do Minho, Ecos de Negrelos, Concórdia, O Bracarense. Além da qualidade de escritor, deixando publicadas 21 obras literárias.

O Padre Silva Gonçalves travara diversos combates políticos na Câmara do Senado, designadamente com o Ministro do Interior Artur Ribeiro sobre o encerramento da Associação da Juventude Católica; com o Presidente do Ministério e ao mesmo tempo Ministro das Colónias António José de Almeida pedindo que os soldados que vão para a frente na I Grande Guerra Mundial tenham padres a acompanha-los; e mais tarde com outro Chefe do Governo e Ministro das Finanças Afonso Costa pedindo um inquérito às contas da guerra, disse “para evitar a suspeita de que, à sombra do nome de homens públicos, outros se locupletem à custado Tesouro Público” e a sua relação com a fome que grassa no país, critica também o caráter persecutório da Lei da Separação, e dos bens da igreja e respetiva incorporação no Estado.

Para mais tarde num ato que marca a sua última intervenção parlamentar abre lugar e espaço ao golpe de estado passados três dias perpetrado por Sidónio Pais, levando à queda de Afonso Costa que pede a exoneração dois dias depois do golpe. O grande orador, polemista e senador taipense Silva Gonçalves a 5 de Dezembro de 1917, na Câmara do Senado da República onde representa a igreja tem uma eloquente e longa intervenção e trava-se em forte discussão com o Ministro da Justiça e Cultos José Maria Magalhães ali presente, desmascara os verdadeiros inimigos da república em repúdio pela conduta que esta tem, designadamente na perseguição ao clero, os decretos da expulsão dos arcebispos e bispos, e, na mesma hora renúncia ao lugar de senador. Assim, coincidentemente acaba de modo intempestivo com a sua intervenção a II.ª Legislatura, e com a destituição de Afonso Costa termina o 14º Governo da I República.

Nas eleições legislativas do ano seguinte, em 1918 é novamente eleito pelo Centro Católico Português para o Senado da República, mas não chegou a tomar posse. Estava o padre taipense a defender a religião católica ao mais alto nível contra o governo da nação, e, nesse mesmo ano o governo local de Guimarães enfurecido a derrubar a nossa igreja de Santo António, que agora na requalificação da vila urge recolocar no largo público como foi promessa da edilidade.

É premente a criação na nossa terra duma biblioteca à medida da dimensão das nossas gentes, e não um mero núcleo da cidade, que integre além dos livros, jornais, revistas, documentos e suportes digitais, também a secção de História e Arquivo Local como acontece na generalidade das municipalidades do país. Para assim melhor compreendermos as nossas raízes e a identidade do nosso povo, em todas as vertentes da nossa história, nas suas diversas fases e até no presente nos seus variados domínios, não sem que eu tenha tentado a propósito deste taipense, designadamente quando o proponho para patrono da EB 23 em requerimento de 14/04/1998, e da mesma forma para entronizar a Escola Secundária de Caldas das Taipas a 15/01/2007, e, mais tarde em carta de 16/03/2017 ao reverendo Arcebispo Primaz de Braga a propósito do armistício da I.ª Guerra Mundial.