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O regresso dos Linkin Park

Pedro Conde
Opinião \ sexta-feira, dezembro 27, 2024
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Na edição deste mês venho falar-vos de um tema que divide opiniões, mas que voltou a estar na ordem do dia recentemente por causa do regresso dos Linkin Park.

Será legitimo às bandas voltarem ao ativo e lançarem novos discos mesmo após membros integrantes fundadores e compositores e desaparecerem?

Recentemente os Linkin Park anunciaram o regresso com novo disco (que saiu no passado dia 15 de Novembro), nova vocalista, novo baterista e nova tour mundial. Automaticamente a polémica instalou-se principalmente devido ao facto de o filho de Chester Bennington, Jaime Bennington, ter vindo publicamente criticar a banda, em específico Mike Shinoda, considerando quase como uma traição ao legado do seu pai, o que este estava a fazer, em específico, por ter escolhido a sua amiga de longa data, Emily Armstrong (vocalista e fundadora dos Dead Sara) personagem controversa, com ligações conhecidas à Igreja da Cientologia e a Danny Masterson (ator condenado a 30 anos de prisão em 2023 por violação), para substituir o seu pai.

São imensos os casos na história da música moderna de situações deste género, relembro por exemplo o caso dos  AC/DC que em 1980 substituíram o seu vocalista após o falecimento de Bon Scott por Brian Johnson, e mais tarde Malcolm Young em 2017, e em ambos os momentos a banda continuou, e mantém até aos dias de hoje o enorme sucesso e carinho de uma legião de fãs. Outros casos por exemplo dos Metallica que após a morte do seu lendário baixista Cliff Burton (1986) contrataram Jason Newsted e posteriormente Robert Trujillo ou dos Slipknot que continuaram após a morte do seu baixista Paul Gray em 2010 e Joey Jordison em 2021.

O ponto comum em todos estes casos é existir sempre uma fação de fãs que são da opinião que nestes momentos trágicos as bandas deveriam simplesmente terminar a sua atividade, e outra que acha que a banda deve continuar. Como é claro toda a gente tem direito a reinventar-se, e voltar actividade, mas, contudo, será que existe o direito de usarmos o mesmo nome e uma marca artística depois do desaparecimento de um dos fundadores e criadores dessa mesma marca?

A minha opinião nestes casos a resposta é super simples, e volta, em primeiro lugar, ao momento da formação dos projetos e das bandas, e o que faz para mim toda a diferença é se estamos a falar de uma banda, ou de um artista. No meu entendimento quando estamos a falar de um artista, ele será o responsável pelas suas composições e criação, e daí todos os músicos são substituíveis a qualquer momento, sem que o conceito e marca artística seja comprometida. Mas quando falamos de uma banda as coisas já mudam de figura. Quando é o conjunto que faz a composição e a criação a falta de um elemento vai impossibilitar o processo de nova criação (pelo mesmo da forma que foi feita até esse momento), e aí, na minha opinião, as bandas deveriam terminar, em prejuízo de porem em causa todo o legado do que se criou até ao momento. Não digo com isto que os elementos da banda devem terminar a sua atividade, ou deixarem de tocar juntos, contudo, devem criar um novo nome e uma nova identidade e uma nova marca para o seu novo projeto, porque o que 4 criaram, não consegue ser criado da mesma forma por 3, é na minha opinião impossivel. Relembro por exemplo o caso dos Rage against the Machine (felizmente não por causa do falecimento de ninguém), quando todos os elementos quiseram voltar a tocar juntos, voltar a tocar Rage Against the Machine (após o fim da banda), e voltar às tours mundiais, Zack de la Rocha (vocalista da banda), não aceitou, e então eles criaram uma nova identidade com novo nome, novos vocalistas, e, apesar de tocarem na mesma os temas da banda criaram os Prophets of Rage, que tocam RATM, mas não são os RATM, por que esse conjunto necessita do Zack.

Num segundo momento, devemos sempre analisar o ponto de maturidade em que a banda está quando acontecem estas trocas (forçadas ou não), de elementos criadores nas bandas. Como é claro, se a banda ainda não tem uma identidade marcada, será sempre fácil haver substituição sem que seja notada uma alteração na linha artística da criação. Contudo, se estamos a falar de bandas com 2, 3 discos, com uma base de fãs que já a consegue identificar por uma linha musical, aí essa substituição já é na minha opinião muito difícil. Dou o exemplo dos Smashing Pumpkins. Apesar de Billy Corgan ter uma voz inconfundível e de ser um compositor fantástico, ficou provado que apenas com a fomação inicial ele conseguiu a verdadeira sonoridade da banda, daí após imensas formações diferentes ele ter sentido a necessidade de juntar e voltar à formação inicial. No entretanto lançou vários discos que efetivamente diziam na capa Smashing Pumpkins, e que soavam ligeiramente aos Smashing Pumpkins mas longe de terem a mesma sonoridade que a banda teve até ao Machina.

Como é claro, não podemos esquecer nunca que, como todos sabemos, a música é cada vez mais uma industria, gerida pelas mais agressivas regras da economia, e as bandas são cada vez mais apenas um produto, marcas, que enquanto existir dinheiro a fazer  irão ser usadas à exaustão, sem medo de as fazer desaparecer na mediocridade, e muitas vezes nem os músicos tem voto na matéria nesse processo, por venderem o direito de decidir o seu futuro.

Mas como sempre esta é apenas a minha opinião, e aproveitem para ouvir o novo disco dos Linkin Park, From Zero, que é na minha opinião um bom disco do género, a fazer lembrar o Meteora ou Hybrid Theory, e os verdadeiros Linkin Park, que para mim, terminaram com o Chester.