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O Castro de Sabroso e as suas muralhas!

António Freitas
Opinião \ sexta-feira, março 01, 2024
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O melhoramento e esforço aplicado, que se refletiu na monumental edificação do sistema defensivo deste Castro, fez-se provavelmente pelo risco de um possível e eminente ataque inimigo.

Quem visita o Castro de Sabroso, em São Lourenço de Sande, não pode deixar de reparar que, naquele local, existiu um povoado de uma elevada importância, aspeto que se destaca pelas suas monumentais muralhas que atingem nos pontos mais elevados mais de 5 metros de altura, a par dos mais de 4 metros de espessura, podendo estas representar as mais relevantes e de maior dimensão, datadas do período pré-romano, do Norte de Portugal.

Estas muralhas são constituídas por dois alinhamentos, integrando em tempos duas portas de entrada, tendo uma delas sido parcialmente destruída aquando da construção da segunda linha entre os finais do século II A.C e os inícios do I A.C, ainda durante a ocupação do Castro e que veio duplicar a sua área interna. Estas defesas levam-nos a refletir sobre a importância do conjunto de pessoas que ali viveu, entre os séculos V e I A.C.

Este sistema protegia os cerca de 3 hectares de área interior do povoado, juntamente com as cerca de 40 construções ali existentes, postas a descoberto graças às pioneiras escavações realizadas por Francisco Martins Sarmento, entre os anos de 1877 e 1878.

Fotografia de Martins Sarmento (SMS)

Se, desde logo, tentarmos fazer uma comparação com as muralhas presentes na Citânia de Briteiros ou até as existentes no Castro de Santa Iria, na Póvoa de Lanhoso, percebemos que o melhoramento e esforço aplicado, que se refletiu na monumental edificação do sistema defensivo deste Castro, fez-se provavelmente pelo risco de um possível e eminente ataque inimigo, que avançava desde o Douro, com as expedições romanas de Décimo Júnio Bruto e que poderiam colocar em causa a sobrevivência deste povoado.

As escavações de Sarmento, realizadas nos finais do século XIX, chamaram a atenção para esta estação arqueológica pela primeira vez, que até àquela época teria servido de “pedreira”, rica em granito, aproveitado possivelmente para as construções na zona envolvente e que acabaram por progressivamente destruir os vestígios ali presentes, fundamentais para a sua interpretação.

Apesar dos esforços de Sarmento, nos cerca de 50 anos que se seguiram às suas escavações, o Castro de Sabroso não passou por melhores dias caindo rapidamente no esquecimento, apenas sendo classificado no ano de 1910, não se traduzindo mesmo assim na necessária proteção para o local. Após estes anos, a partir de 1929, Mário Cardoso inicia uma progressiva valorização do local, com a colocação dos limites da propriedade protegida, assim como da realização de uma primeira planta em 1930 e a inclusão do Castro nos guias para os visitantes da Citânia de Briteiros.

Fotografia de Martins Sarmento (SMS)

O destino do local, no entanto, apenas se conseguiu inverter a partir do ano de 2017, após uma proposta apresentada no Orçamento Participativo, aliada com uma boa decisão política, que propunha a requalificação e musealização do sítio, que culminou numa extensa intervenção e na sua reabertura no passado verão de 2023.

Hoje, qualquer pessoa pode visitar o local e impressionar-se com as suas muralhas, usufruir de uma visita acompanhada de painéis informativos para uma melhor compreensão do povoado e ainda aproveitar para captar uma “selfie”, no passadiço construído no local, que nos dias de hoje nos dá uma visão privilegiada sobre a impressionante amplitude do Vale do Ave.

O Castro de Sabroso convida a uma visita ao local em família, numa das manhãs ou tardes de bom tempo que brevemente se aproximarão, mas deve convidar ainda mais à sua preservação e conservação feita por todos nós, como tão bem o sabemos fazer com todo o nosso património histórico e arqueológico!