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Águas passadas, não movem moinhos!

António Freitas
Opinião \ sexta-feira, setembro 29, 2023
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Em Guimarães, no curso do Rio Febras, existem ainda hoje várias ruínas destes moinhos, que em tempos marcaram a história das nossas gentes.

A Bacia hidrográfica do rio ave, é favorecida por um declive elevado, que facilita o aumento da velocidade do escoamento das suas águas, fator fundamental para o seu aproveitamento nos vários moinhos, que demarcavam os vários cursos de água do nosso concelho.

Estes engenhos foram sendo substituídos por moagens industriais, com funcionamento por eletricidade ou motores de combustão, acabando por se interromper o funcionamento dos moinhos hidráulicos, ficando estes ao abandono, aumentando a sua degradação e ruína.

Alguns textos clássicos, assim como vestígios arqueológicos, referem-nos a existência de moinhos giratórios manuais já desde a Idade do Ferro, que substituíram os anteriores de vai-e-vem. A moagem no período Romano, era essencialmente utilizada em duas classes proto industriais, a panificação e a mineração, a primeira para moer cereais e a segunda para preparar o minério para a sua fundição. Neste período introduziu-se ainda os moinhos movidos por tração animal.

Existiam também os movidos pela força da água (de rodízio, de roda horizontal, provavelmente de origem grega, ou de azenhas, de roda vertical, provavelmente de origem romana), que garantiam a subsistência das populações.

Na bacia hidrográfica do Rio Ave, onde se integra o concelho de Guimarães, os moinhos de rodízio, eram construídos de uma forma bastante rudimentar, de maneira a aproveitar os pequenos cursos de água existentes. Predominando nas margens dos rios e ribeiros, para a moagem dos cereais, os moinhos mantinham o seu funcionamento durante todo o ano, moendo os cereais que posteriormente davam origem ao pão, essencial na alimentação das populações. Em algumas zonas, estes moinhos eram coletivos e os seus proprietários cediam o direito do seu uso aos seus vizinhos, a troco de um pagamento em percentagem de farinha.

A subsistência e comércio que era realizado nas zonas mais rurais, estava relacionado em grande parte com a atividade agrícola, explorando-se os recursos naturais como a água e árvores, aproveitando-se a força da água para se construir engenhos de serrar por exemplo, nos locais onde as manchas florestais eram mais acentuadas, tal como acontecia em Guimarães.

Com o passar dos anos, vários proprietários optaram por utilizar estes engenhos também em outras atividades, tal como para triturar o linho ou para a sua utilização como lagares de azeite, sendo progressivamente utilizados como elementos ligados ao processo industrial, adaptando-se os antigos edifícios às novas funções, existindo pequenas instalações industriais, integradas nas próprias habitações, servindo o espaço de oficina e de habitação familiar.

Em Guimarães, no curso do Rio Febras de Briteiros São Salvador, existem ainda hoje várias ruínas destes moinhos, grande parte em propriedades privadas, que em tempos marcaram a história das nossas gentes, num período proto industrial, que mereciam sem dúvida uma valorização.

Preservar o património também é promover e valorizar a nossa cultura.