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A peculiar Estátua de Briteiros

António Freitas
Opinião \ sexta-feira, maio 03, 2024
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Tratava-se de uma grosseira escultura de granito, sem cabeça, que segundo Sarmento, lembrava as “matres” dos monumentos Gauleses. A cabeça em falta, acabou por ser descoberta mais tarde.

Estávamos a 22 de maio, do ano de 1876, quando durante as escavações arqueológicas que decorriam na Acrópole da Citânia de Briteiros, surge uma nova e interessante descoberta, no mesmo quarteirão onde se preservam, ainda nos dias de hoje, as casas reconstruídas por Francisco Martins Sarmento.

Tratava-se de uma grosseira escultura de granito, sem cabeça, que segundo Sarmento, lembrava as “matres” dos monumentos Gauleses. A cabeça em falta, acabou por ser descoberta mais tarde, a 60 passos do local onde foi encontrado o restante corpo, no entanto, em muito mau estado de conservação.

Fotografia de Martins Sarmento SMS

Apesar da peculiar descoberta, pois representa a única estátua “inteira” encontrada nas escavações realizadas na Citânia de Briteiros, a sua difícil interpretação, mesmo após um restauro que uniu novamente a cabeça ao corpo, fez com que a estátua permanecesse décadas exposta ao público, no Museu da Sociedade Martins Sarmento, sem uma nova interpretação e análise.

Ao falarmos da Idade do Ferro, frequentemente nos lembramos das características estátuas associadas a este período, de variadas tipologias, desde representações guerreiras a estátuas femininas ou sedentes, passando ainda por representações de cabeças que possivelmente pertenceriam a estátuas de corpo completo fragmentadas de forma intencional ou não.

No caso em específico da estátua encontrada em Briteiros, que representa uma figura sentada, e por isso designada por “estátua sedente”, sugere-nos uma possível representação e culto existente na antiguidade às designadas “matres”, associadas à fertilidade ou procriação, assim como à passagem entre a vida e a morte, tendo por isso uma vasta simbologia naquela época.

Fotografia de Martins Sarmento SMS e Desenho feito por Martins Sarmento 1876 SMS

Para além disso, pode ainda ter representado uma figura tutelar, como um chefe defunto, com caráter protetor da comunidade, como acontece com a maioria das estátuas sedentes. Este exemplar, apesar das dúvidas causadas ao longo dos tempos, nomeadamente em relação ao género nela representado, enquadra-se num conjunto de apenas seis esculturas sentadas, encontradas em escavações arqueológicas no Noroeste Peninsular, enquadradas no período da Idade do Ferro e por isso de um valor único.

A estátua sedente da Citânia de Briteiros, encontrada por Francisco Martins Sarmento, sobre a qual aqui procurámos fazer uma breve análise e despertar o interesse dos nossos leitores, pode nos dias de hoje ser observada por todos. Foi integrada, no ano de 2018, após um novo restauro, na exposição permanente patente no Museu da Cultura Castreja, em Briteiros São Salvador, que está aberto todos os dias da semana.