Na literatura, o orgulho de ser taipense
Já nestas páginas evoquei o quanto vários escritores amaram Caldas das Taipas, ora por aqui terem vivido ou meramente por nos terem visitado, deixando-o bem expresso nas suas obras, desde logo e à cabeça Camilo, depois Ramalho, Sousa Costa, bem como Ferreira de Castro, Jorge Amado, Campos Monteiro, Mário Cláudio e outros ainda.
Deixaram-no bem escrito e para todo o sempre nas suas obras literárias. Pena que ainda não tenhamos uma biblioteca ao invés dum mero anexo, um apêndice, quando somos dignos duma biblioteca de corpo inteiro, como prometera o ainda Presidente da Câmara de Guimarães ao ainda nosso Presidente da Junta de Freguesia, que, sem a obter, muito fez por consegui-la.
Por iniciativa do atual presidente da Junta de Freguesia vamos promover no próximo mês de Maio o 1º Encontro Literário de Caldas das Taipas, sob o bonito título de “Thermos”, onde se evocará o poder da palavra, dos termos na escrita, que, lembrando escritores do passado, contará com a presença de autores da escrita contemporânea, bem como doutras expressões artísticas relacionadas com o livro.
Será um mês fantástico para reforçar os sentimentos de pertença, da cultura e da identidade própria da nossa terra, que é Caldas das Taipas.
Na evocação do bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco, que decorreu no passado dia 16 deste mês, senti, mais uma vez, um orgulho enorme de ser taipense.
Era um domingo, saí bem cedo de Caldas das Taipas para a freguesia de Paços do concelho de Fafe, onde tinha à minha espera um amigo, o Joaquim Barbosa, presidente da junta local, que me tinha convidado para assistir às festividades.
Dum parque de estacionamento muito avantajado, subi uma pequena colina e lá encontrei um parque arborizado, novo e muito bem arranjado com espaços próprios de estar e de merendar. No seu sopé de cor muito branca e de linha modernista, um edifício também novo e com dois 2 corpos, que o município de Fafe tinha para oferecer à Junta daquela pequena população de Paços.
Com o propósito da inauguração do edifício, que perdurará e servirá os residentes e quem os queira visitar, juntou-se ao seu redor toda a população paroquial, os representantes do Governo da Nação e da Municipalidade, todos trajando à época de oitocentos, velhos, jovens, crianças e até bebés transportados em carrinhos de mão daquele tempo.
Estava o clima perfeito para evocar os Passos de Camilo naquelas terras do Ermo de seu amigo José Cardoso Vieira de Castro
Uns merendavam, outros cavaqueavam, e, todos esperavam pelo momento mais solene, o da inauguração do edifício de raiz, o Centro Interpretativo “Camilo em Passos”.
Nisto reparo na presença também do nosso Presidente de Junta, Luís Soares, que também fora convidado. Ambos percorremos os corredores e as salas do edifício, ao mesmo tampo apreciando a Exposição alusiva à obra de Camilo Castelo Branco, ao mesmo, tempo que decorria na sala “Atelier das Letras” uma sessão de Conto Camiliano lido por alunos da Escola de Paços, cheia de crianças muito atentas. Lá estavam da mesma forma as filhas de Luís Soares acompanhadas da mãe.
Tudo foi muito bonito, mas o que mais me surpreendeu e me encheu o coração, realçando o propósito de ali estarmos algumas centenas de pessoas, o de ter ouvido da voz do apresentador nas suas primeiras palavras, dando início à sessão, a seguinte frase: “Fui de Santo António das Taipas para as cercanias de Fafe, quinta do Ermo, onde me esperava, com os seus braços abertos e o coração no sorriso, José Cardoso Vieira de Castro”, para, logo de seguida, termos ouvido exatamente uma composição com as mesmíssimas palavras, agora cantadas pelo eloquente coro sénior da Escola de Música José Atalaia
Não tenho palavras para descrever a comoção que senti naquele morro.
Só depois de todos ouvirmos o soar da importância que Caldas das Taipas teve na obra de Camilo é que discursou o Governo, a Câmara, a Junta, um Escritor e por fim, mais uma voz das Taipas ecoou para o vale de Paços, era da professora local, da Sara Freitas que é a mulher do conterrâneo e bem conhecido bancário Franclim.
Das terras do Ermo retornei à minha terra a Santo António das Caldas das Taipas, onde cá me esperava o garfo da minha amiga Conceição, filha do Avelino cutileiro de saca-rolhas, que no seu restaurante Alameda me ofereceu o almoço camiliano, que cozera a pedido da Confraria Vimaranis. Estava lá a pedido do meu amigo Capela Miguel, para no decorrer do repasto intervir, quando discorrem- sem os habituais devaneios capelistas, e, assim tive oportunidade de defender os interesses camilianos de Caldas das Taipas perante uma plateia de Guimarães.
Para hoje preparar a organização duma exposição alusiva ao bicentenário de Camilo, vou mostrar da minha coleção, várias primeiras edições do escritor, designadamente das que escreve acerca de Caldas das Taipas, como em “Memórias do Cárcere”, “A Engeitada”, “Doze Casamentos Felizes”, “A Viúva do Enforcado”, “Maria da Fonte”, e no “Bom Jesus do Monte” e, muitas mais obras que foram editadas no século XIX.
[Conteúdo publicado originalmente na edição de Abril 2025 do jornal Reflexo]