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Eu não sou Guimarães Capital Verde

Sara Martins
Opinião \ quinta-feira, abril 05, 2018
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Eu não torço por Guimarães Capital Verde e isso não faz de mim pior vimaranense. É por gostar da minha terra e do rio que não posso defender uma candidatura que se esquece do Ave.

Este mês ficaremos a saber quem são as cidades finalistas ao título de Capital Verde 2020, eu não torço por Guimarães e convido-o a ler as minhas razões:

O rio Ave tem uma extensão total de 90km, 30 dos quais ficam no concelho de Guimarães. Um terço do rio Ave pertence a um só concelho, o nosso. Devia por isso, este ser o maior interessado na sua defesa. Acontece que o projecto da Câmara Municipal de Guimarães (CMG) a Capital Verde 2020 não tem uma única medida prática para a recuperação deste que é o maior património natural da região.

Em 2014 a CMG promoveu a criação de uma task force, para pensar a recuperação do Ave. Esta produziu, em Fevereiro de 2015, um documento de 22 páginas que designaram por plano de acção, onde estão plasmados os problemas há muito conhecidos. Este documento prova que o problema da poluição do Rio Ave é devido exclusivamente à incompetência do Estado. Seja pela falta de fiscalização e punição dos transgressores, seja pela falta de capacidade da rede de saneamento que transborda para o rio, seja, e cito, “pela falta de manutenção de alguns colectores”!!

Diz o mesmo relatório que já foram investidos mais de 500 milhões de euros na despoluição do Rio Ave ao longo de 40 anos! 500 milhões de euros e 40 anos depois o rio continua a correr imundo. O relatório aponta algumas medidas urgentes a ser implementadas, três anos passaram e as medidas continuam no papel.

As únicas notícias que a CMG nos dá sobre a despoluição do Ave são as reuniões da task force. O Estado refugia-se numa crise pessoana com os seus heterónimos a atirarem culpas entre si. Águas de Portugal, Águas do Norte, Vimágua, Ministério do Ambiente e Câmaras Municipais, são estas as entidades responsáveis pelo Ave, todas elas são Estado.

O mesmo Estado que gasta 500 milhões de euros e não faz a básica manutenção dos colectores, o mesmo estado que descarrega saneamento a escassos metros do local onde capta a água que lhe vende a si, caro leitor, o mesmo estado que quer o prémio de Capital Verde.

Nijmegen é a cidade que todos os vimaranenses deveriam conhecer. Fica na Holanda e é a actual capital verde. Esta cidade tem também um rio, o Wall, e este foi uma das principais bandeiras da sua candidatura a Capital Verde. De 2011 a 2016 este rio sofreu uma enorme intervenção que teve como objectivo dar-lhe mais espaço. Com este projecto conseguiram uma maior protecção contra as cheias, e criaram novas zonas verdes que incluem uma ilha, parques, praias fluviais, trilhos e ciclovias junto às margens. Estas infra-estruturas levaram ao desenvolvimento de novas áreas residenciais e consequente aumento da população. Houvesse vontade política e também nós, vimaranenses, poderíamos sonhar com algo assim.

Pode uma cidade ser capital verde e desprezar o rio? Não, não pode. Seria o mesmo que tirar uma licenciatura sem fazer o ensino básico. Premiar esta política será a sentença de morte para o nosso Ave. Eu não torço por Guimarães Capital Verde e isso não faz de mim pior vimaranense, pelo contrário, é por gostar da minha terra e do rio onde passei muitos verões que não posso defender uma candidatura que se esquece do Ave.