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Estamos a perder?

Pedro Mendes
Opinião \ segunda-feira, abril 17, 2023
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Nunca é de mais sublinhar o óbvio: a extrema-direita não é solução para nada. Promete este mundo e o outro mesmo sabendo não poder cumprir e diz ao eleitorado tudo o que ele quer ouvir.

O que está a acontecer em muitos destes países, e também em Portugal em algumas dimensões, sejamos sinceros, é que a extrema-direita está a envenenar ideologicamente a direita moderada democrata cristã com grande tradição na Europa e que tão importante foi no pós - 2.ª Guerra Mundial.

Antes de mais, importa definir quem somos nós, os que estaremos a perder: nós, somos os democratas, os que acreditam num sistema político liberal em que todos têm um lugar.

Esta pergunta nasce-me de cenários que se têm repetido, eleição atrás de eleição, em grande parte das democracias ocidentais: a Extrema-Direita populista e xenófoba está a crescer. Vejamos: Em Itália lidera Meloni, de quem já por aqui vos falei, e que acaba de decretar o estado de emergência migratório, medida que lhe permitirá facilitar a expulsão de migrantes. Em França temos Macron a forçar uma reforma das pensões altamente impopular e a ver a extrema-direita de Le Pen a capitalizar a insatisfação, com sondagens (que valem o que valem, bem sei) a darem-lhe não só a vitória nas presidenciais de 2027, mas também a dizerem que se uma putativa 2ª volta das eleições tivesse lugar hoje, Le Pen ganharia a Macron. Na Alemanha, a AFD teve mais de 10% nas últimas eleições de 2021. Na Suécia os nacionalistas anti-imigração do SD tiveram mais de 20%. Aqui ao lado em Espanha, o VOX conseguiu também mais de 10%, e em em Portugal o Chega teve mais de 7% nas últimas legislativas e as últimas sondagens dão-lhe números bem acima dos 10%. Isto para não entrarmos sequer nos exemplos americano e brasileiro, que tiveram os tristes resultados que todos sabemos.

Tendo então em conta estes dados, estamos a perder? Não e sim. Não porque na esmagadora maioria destes e de outros casos a extrema direita não chegou ainda ao poder, tirando talvez Meloni em Itália, que lidera o governo, e os SD na Suécia que garantem apoio parlamentar ao bloco de direita que governa. Isso é bom, porque é sinal que, apesar deste crescimento, a extrema-direita não tem ainda dimensão suficiente para governar, pelo menos sozinha. Mas, por outro lado, estamos a perder talvez na pior dimensão possível, na dimensão das ideias. O que está a acontecer em muitos destes países, e também em Portugal em algumas dimensões, sejamos sinceros, é que a extrema-direita está a envenenar ideologicamente a direita moderada democrata cristã com grande tradição na Europa e que tão importante foi no pós - 2.ª Guerra Mundial. Grande parte dessa direita moderada está assustada com este crescimento e entende que o caminho para o esvaziar é mimetizar algumas das suas propostas e ideias, puxando para si algum desse eleitorado, mas, na realidade, o que está a acontecer é exactamente o contrário: esse eleitorado está a preferir o original às fotocópias, e por isso é que estamos a assistir a este crescimento. Não serei eu, certamente, a ter as soluções para o problema que a direita enfrenta, mas que essa solução deveria passar por pensar, estruturar e apresentar soluções para os problemas que o eleitorado identifica, lá isso deveria. E este problema não é, obviamente, apenas da direita. É, obviamente um problema da democracia que a todos nos deve preocupar, não obstante ser apenas a direita que o pode resolver.

Dito isto, nunca é de mais sublinhar o óbvio: a extrema-direita não é solução para nada. Promete este mundo e o outro mesmo sabendo não poder cumprir e diz ao eleitorado tudo o que ele quer ouvir, e quando chegam com poder não só não solucionam os problemas, como os agudizam, como nos mostraram os inenarráveis governos de Trump e Bolsonaro nos EUA e Brasil.