Editorial #287: O Covid-19 e a informação
Entre ter-se dito que o Covid-19 "até pode ter consequências bastante positivas" para a exportações portuguesas, a 7 de janeiro e a 14 do mesmo mês se ter afirmado que "não há grande probabilidade de chegar um vírus destes a Portugal", até à situação que o país atravessa até ao dia 4 de maio, distam 4 meses.
Com menos tempo de distância, temos outras afirmações.
A 7 de março: "Se ultrapassarmos isto antes da Páscoa e, chegando ao verão, a situação já estiver controlada, provavelmente a retoma do turismo irá ser muito forte". A 22 de março: “Não use máscara, é uma falsa sensação de segurança”. A 2 de maio: "É obrigatório o uso de máscaras ou viseiras na utilização de transportes coletivos de passageiros", por via do Decreto-Lei 20/2020, sublinhando-se que o incumprimento “constitui contraordenação, punida com coima de valor mínimo” de 120 euros e máximo de 350 euros. A distância temporal baixa para cerca de 40 dias.
Será de sublinhar que todas estas declarações foram produzidas pelos principais responsáveis políticos e da área da saúde em Portugal. Todos sabemos que se está a trabalhar um pouco no escuro e há que dar uma margem de tolerância a estas intervenções. Mas cada vez temos menos dúvidas que o país não se preparou “para o que aí vinha” e foi adaptando o seu discurso à medida que os recursos se tornavam mais disponíveis.
Podemos dizer que há também uma “nova lei da rolha” na questão da pandemia e há um alinhamento total da informação dos principais órgãos da comunicação social. Que temos em todos os telejornais? Sequência: número de casos fornecidos pela Direção Geral da Saúde, parte da intervenção da conferência da mesma entidade, António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa, Espanha, Itália e depois, sempre pelo lado mais caricatural, Inglaterra (menos a partir do elogio ao enfermeiro português por parte de Boris Johnson), EUA e Brasil e os “apanhados” a dar vivas a tudo e a todos.
Quanto à “lei da rolha”, basta ver que não existe acesso a informação mais detalhada. Não temos acesso a informação de proximidade, com o argumento de não se causar alarmismo social. Por outro lado, temos tido uma sequência de limitações à circulação, direitos e liberdades em nome do bem geral da população. Aqui é sempre de colocar a eterna pergunta: até onde estamos dispostos a abdicar desses direitos e liberdades em nome de um interesse comum?
Sobe
Globalizar a solidariedade
Neste tempo em que vivemos, será sempre de salientar todos aqueles que dão o seu melhor para o benefício dos outros, da comunidade onde vivem e da sociedade onde se inserem.
São muitos e bons os exemplos que vão sendo conhecidos.
A todas essas pessoas e instituições que estão no terreno a desempenhar essas tarefas solidárias, fica aqui o nosso reconhecimento público.
Desce
Jornalistas e comentadores
O jornalismo tem por base não misturar informação com opinião. Existem canais próprios para esse efeito e rubricas perfeitamente identificadas para esse efeito.
Aquilo a que se está a assistir nos canais generalistas, principalmente nos seus telejornais, é a uma competição entre o jornalista que mais se distingue no seu discurso emocional.
São raros os exemplos dos jornalistas que se remetem à sua função principal e cada vez mais assistimos a um jornalista dar a sua opinião antes de colocar a questão ao entrevistado. Para além da praga de comentadores, só faltava mesmo o jornalista usar o telejornal para também ser comentador.