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Editorial #286: Ultrapassar a pandemia Covid-19

Alfredo Oliveira
Opinião \ terça-feira, março 31, 2020
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Vivemos tempos de muitas incertezas, marcados por uma quantidade de notícias sobre algo de que pouca gente tem certezas, ficando marcado por uma infindável sequência de “ses”.

Já na parte final do seu livro “Sapiens”, Yuval Noah Harari escrevia que a “doença diminui a felicidade a curto prazo, mas só é fonte de angústia a longo prazo se o estado da pessoa continuar a deteriorar-se ou se a doença provocar uma dor constante e debilitante”.

Se substituirmos a palavra “doença” por “Covid-19”, essa reflexão poderá aplicar-se aos tempos que vivemos.

O que se passa em Portugal e no mundo é algo que só víamos na ficção científica ou nos livros de história. Felizmente para estas gerações europeias mais recentes, nunca soubemos o que era a verdadeira fome, nunca soubemos o que era adormecer ao som de bombardeamentos, nem tão pouco sabíamos o que era isso do isolamento social alargado a toda a população.

Vivemos tempos de muitas incertezas, marcados por uma quantidade de notícias sobre algo de que pouca gente tem certezas, ficando marcado por uma infindável sequência de “ses”.

Se o vírus continuar a espalhar-se? Se o vírus começar também a afetar outros grupos da sociedade para além dos idosos? Se não tivermos uma vacina a curto prazo? Se...

Tudo isto deixa uma população em sobressalto e o medo vai tomando conta da sociedade.

Acreditamos que este seja um revés extremamente difícil de ultrapassar, mais não seja, por se tratar daquele que vivemos e sentimos “na pele”. Por outro lado, esta pandemia surge numa época em que queríamos e tínhamos direito a sempre mais, tal como descreve no seu livro o autor de “Sapiens”, em que a “economia cresceu exponencialmente e a humanidade desfruta, hoje em dia, o tipo de riqueza que costuma preencher os enredos dos contos de fadas. As revoluções científica e industrial deram à humanidade sobre-humanos e uma energia quase ilimitada”. Só que ninguém estava a contar com o Covid-19.

No entanto, a sociedade não pode deixar que o Covid-19 se torne numa verdadeira e permanente fonte de angústia. O Homem, ao longo da história, tem mostrado sempre capacidade de dar a volta nos momentos mais “negros” da sua existência. Não temos dúvidas de que este será outro desses momentos.

 

↑ SOBE A solidariedade

Apesar da crise que se instalou também surgem momentos que mostram que “nem tudo está perdido” na sociedade.

Para além de momentos que alguns/muitos gostam de partilhar nas redes sociais, mais para outros verem e comentarem, existem outros que não são tão visíveis.

Os casos de vizinhos que pouco passavam do bom dia e boa tarde e, nestes momentos difíceis, batem à porta dos mais idosos e perguntam se está tudo bem e se precisam de alguma coisa da farmácia ou do supermercado, é algo de salientar.

 

↓ DESCE O isolamento social

É uma das principais medidas implementadas que vai deixar marcas profundas nas socie-dades e vai acentuar ainda mais o isolamento social dos mais idosos.

Infelizmente, tudo indica, ainda estamos no início desta crise pandémica. Se muitos dos nossos pais e avós viviam sozinhos ou num lar, pois a vida frenética que levávamos nos impedia de os visitar regularmente, agora, com uma vida mais pausada, continuamos sem os visitar, com o medo da propagação do vírus.

É triste uma sociedade que chega a este ponto.