Editorial #286: Ultrapassar a pandemia Covid-19
Já na parte final do seu livro “Sapiens”, Yuval Noah Harari escrevia que a “doença diminui a felicidade a curto prazo, mas só é fonte de angústia a longo prazo se o estado da pessoa continuar a deteriorar-se ou se a doença provocar uma dor constante e debilitante”.
Se substituirmos a palavra “doença” por “Covid-19”, essa reflexão poderá aplicar-se aos tempos que vivemos.
O que se passa em Portugal e no mundo é algo que só víamos na ficção científica ou nos livros de história. Felizmente para estas gerações europeias mais recentes, nunca soubemos o que era a verdadeira fome, nunca soubemos o que era adormecer ao som de bombardeamentos, nem tão pouco sabíamos o que era isso do isolamento social alargado a toda a população.
Vivemos tempos de muitas incertezas, marcados por uma quantidade de notícias sobre algo de que pouca gente tem certezas, ficando marcado por uma infindável sequência de “ses”.
Se o vírus continuar a espalhar-se? Se o vírus começar também a afetar outros grupos da sociedade para além dos idosos? Se não tivermos uma vacina a curto prazo? Se...
Tudo isto deixa uma população em sobressalto e o medo vai tomando conta da sociedade.
Acreditamos que este seja um revés extremamente difícil de ultrapassar, mais não seja, por se tratar daquele que vivemos e sentimos “na pele”. Por outro lado, esta pandemia surge numa época em que queríamos e tínhamos direito a sempre mais, tal como descreve no seu livro o autor de “Sapiens”, em que a “economia cresceu exponencialmente e a humanidade desfruta, hoje em dia, o tipo de riqueza que costuma preencher os enredos dos contos de fadas. As revoluções científica e industrial deram à humanidade sobre-humanos e uma energia quase ilimitada”. Só que ninguém estava a contar com o Covid-19.
No entanto, a sociedade não pode deixar que o Covid-19 se torne numa verdadeira e permanente fonte de angústia. O Homem, ao longo da história, tem mostrado sempre capacidade de dar a volta nos momentos mais “negros” da sua existência. Não temos dúvidas de que este será outro desses momentos.
↑ SOBE A solidariedade
Apesar da crise que se instalou também surgem momentos que mostram que “nem tudo está perdido” na sociedade.
Para além de momentos que alguns/muitos gostam de partilhar nas redes sociais, mais para outros verem e comentarem, existem outros que não são tão visíveis.
Os casos de vizinhos que pouco passavam do bom dia e boa tarde e, nestes momentos difíceis, batem à porta dos mais idosos e perguntam se está tudo bem e se precisam de alguma coisa da farmácia ou do supermercado, é algo de salientar.
↓ DESCE O isolamento social
É uma das principais medidas implementadas que vai deixar marcas profundas nas socie-dades e vai acentuar ainda mais o isolamento social dos mais idosos.
Infelizmente, tudo indica, ainda estamos no início desta crise pandémica. Se muitos dos nossos pais e avós viviam sozinhos ou num lar, pois a vida frenética que levávamos nos impedia de os visitar regularmente, agora, com uma vida mais pausada, continuamos sem os visitar, com o medo da propagação do vírus.
É triste uma sociedade que chega a este ponto.