Dr. Alfredo Fernandes, médico, político, escritor e dirigente associativo
Foi casado duas vezes a primeira com Celeste Fernandes, médica como ele e pessoa de muitas posses, que lhe vem a pedir o divórcio; depois com Adalgisa Coelho professora primária em São Clemente de Sande, ele então com 54 anos e ela com apenas 27.
Alfredo Fernandes depois dos estudos primários na sua freguesia de Vieira do Minho vem como internista para o seminário espiritista da cidade de Braga e faz os seus estudos no Liceu Sá de Miranda.
Parte depois para a cidade do Porto, onde na Faculdade de Medicina se licencia e se especializa como Médico Hidrologista.
Para aos 27 de idade já aqui, em Caldas das Taipas trabalhar como médico da sua especialidade publicando logo a sua primeira obra literária com o título “Estância Hidro-mineral das Taipas” um trabalho duma grande profundidade e onde desde logo elogia a qualidade terapêutica das nossas águas, como da nossa localidade, da nossa paisagem e das nossas pessoas.
A Junta de Freguesia de Caldelas 12 anos depois da sua morte, reconhecendo-o como médico que tanto elevara a Estância Termal como seu director clínico, de ter servido as Taipas como Vereador e Presidente da Câmara, como vogal à Junta Geral do Distrito a quem reconhece que as Taipas deve a realização de muitos melhoramentos, a 12 de Janeiro de 1954 aprova para a denominação da rua que liga os balneários velhos aos novos atravessando a estrada nacional nº 310 atribuindo-lhe o topónimo “Dr. Alfredo Fernandes”, que veio a ser ratificado pela municipalidade na sua reunião do dia seguinte.
São tantas as facetas e os trabalhos desenvolvidos por Alfredo Fernandes. a quem entronizei como patrono do prémio que atribuo ao melhor aluno da Escola Secundária das Caldas das Taipas desde o ano de 2002 no âmbito da Sociedade Martins Sarmento, ano em que publiquei um pequeno livro em sua homenagem.
É a figura que mais se destacou na 1ª metade do século XX aqui na nossa terra, pois além do exercício da sua actividade profissional de médico hidrologista das Termas, praticou também a medicina generalista e de trabalho, e exerceu o cargo de Facultativo do Partido Médico Cirúrgico de Caldas das Taipas e mais tarde o de Médico Municipal e Inspector de Saúde, destas últimas acabara por ser expulso devido a motivos político.
Foi durante muitos e variados anos administrador-delegado da Empresa Termal, das Taipas, SARL, até que na Assembleia de Aprovação do Relatório e Contas da Direcção e Eleitoral para um próximo triénio realizada no rés do chão do edifício termal em 8 de março de 1941, como accionista que era decide candidatar-se à sua presidência, e na posse da procuração de muitos dos 192 accionistas, é confrontado com o também accionista José de Oliveira, fazendo-lhe crer com a anuência dos seus apaniguados da União Nacional, que não pode votar em representação de muitos associados, e no meio de grande confusão e muitos tumultos acaba por não ganhar a eleição para a Direcção dos Corpos Sociais, perante esta desconsideração, Alfredo Fernandes nunca mais foi o mesmo, e levando-o à morte 3 meses depois, nas palavras de Adalgisa Coelho levava já 61 anos de viuvez em testemunho que registei às 23 horas do dia 9 de março de 2002 em pleno salão nobre da Sociedade Martins Sarmento, pois vira seu marido, o Alfredo como carinhosamente lhe chamava sucumbir-lhe morto nos seus braços no dia 15 de Junho de 1941, quando ambos assistiam à procissão da santa predilecta do Alfredo, a da Senhora da Orada em Pinheiro sua terra natal.
Tinha saído neste mesmo dia das Taipas no carro por si conduzido, para no dia seguinte, o do funeral, o povo da nossa terra ter ido em autocarro e carros particulares a Vieira do Minho prestar-lhe a homenagem, tal era a veneração que lhe dedicava, principalmente pela generosidade do falecido às consultas gratuitas e desinteressadas que lhes concedia.
Mas, o Dr. Alfredo Fernandes que exerceu a sua vida profissional de médico e aqui viveu durante apenas 29 anos foi um permanente interventor social e político republicano que nunca renegou mesmo depois na ditadura do Estado Novo que o perseguia sistematicamente e o considerava conspirador e hostil, tendo-o lavado várias vezes á prisão, ainda assim pela devoção aos seus doentes e à terra que considerava sua, a de Caldas das Taipas, nunca aceitou o asilo como o fizeram alguns dos seus camaradas, como Mariano Felgueiras com quem por interposta pessoa correspondia.
Não cabe nesta notícia tudo quanto ele fez ao serviço da comunidade, mas passo a citar algumas delas, inicia a sua actividade política representativa em 1919 como Vice-Presidente da Câmara Municipal de Guimarães, com os pelouros “Higiene, Viação, Obras e Taipas”, sendo no ano de 1923 seu Presidente de Câmara e nesta qualidade elabora um Plano de Melhoramentos e manda executar diversas obras, desde logo a canalização da água potável à povoação, e, mesmo um cano colector para esgotos das casas do centro da nossa terra, para benefício da saúde dos residentes e também dos aquistas que aos milhares nos procuravam.
Além da indicada obra publica mais 2 livros, todos eles de propaganda das Taipas que a enaltece como a melhor de todas as estâncias de cura e de repouso, sempre defendendo a existência das ruínas romanas no nosso seio.
Funda a Comissão de Iniciativa da Estância Hidrológica das Taipas no ano de 1922, mais tarde denominada de Comissão de Turismo, é a partir deste ano que através do alteamento do açude de além consegue a navegabilidade do rio Ave, pondo-a ao serviços dos locais e dos muitos turistas que aqui acorriam, vindo a ter seríssimos problemas judiciais que lhe movem os industriais de moagem e de cutelaria que utilizam a água desse rio para as suas indústrias.
É sobre os seus mandatos que, entre outras obras é construído todo o Parque de Turismo, seus canteiros e a avenida que o leva à Praça do Mercado, bem como o Rinque de Patinagem.
Manda edificar um abrigo na confluência da Avenida Trajano Augusto e a Rua das Termas um coberto de madeira com soalho na base e colmo na cobertura que servia os locais e os turistas.
Preside a diversas Assembleias Eleitorais locais
Em 1919 consegue a colocação do posto de GNR na nossa terra, para nunca mais daqui sair.
É um dos fundadores do Clube Caçadores das Taipas para o futebol, tiro e caça no ano de 1923, vindo a ser o seu 1º presidente, cargo que manteve até à sua morte
Funda no ano de 2021 o Jornal das Taipas com tipografia e encadernação, de quem é director e jornalista.
Oferece o chassis dum pronto-socorro aos Bombeiros das Taipas o ano de 1928.
Representante de classe para as Comissões de fixação da Contribuição Industrial.
Participa no Iº Congresso de Turismo no ano de 1936 onde apresenta a tese “Termas das Taipas, Estância de Turismo”
É Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação de Futebol de Braga no ano de 1937.
Faz o seu último discurso na inauguração da Casa dos Pobres das Taipas no dia 4 de maio de 1941.
Quando a 17 de março do ano de 2007 em Vila Cova assisto ao funeral de sua viúva, da D. Adalgisa Santos Ferreira Coelho que não deixara filhos, um dos seus sobrinhos vem junto de mim e diz-me que esta tinha-lhe dito que todos os documentos pessoais e políticos me eram confiados, entregando-me 2 caixas de documentos com todos os seus haveres pessoais, desde Cédula de Nascimento, Bilhete de Identidade, Carta Condução, Carta Médica, de Militar, de Caçador, e de muitas agremiações, carteira, cigarrilha, carimbos e muitos mais de uso pessoal, além dos livros pelos quais estudara, enunciados dos livros que escrevera, fotografias, muitos manuscritos, documentos administrativos e políticos, muitos aparelhos médicos, sabonetes, pó de barba, e frascos de perfume tudo com a marca “Taipas” gravada, objectos de que já tenho cedido para exposições, e à espera de enriquecer um museu local que os taipenses tanto desejam e há muito merecem da municipalidade.
Escrevia Alfredo Fernandes no ano de 1936 “São as Taipas uma excelente, uma maravilhosa estância de cura, vilegiatura e turismo. Resta que os seus filhos, com a compreensão nítida dos seus deveres e de sua responsabilidade as amparem e elevem” é o que eu tento fazer quotidianamente.
Morre pobre, sem bens e até com dívidas.