18 maio 2025 \ Caldas das Taipas
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Caldas das Taipas na literatura de Camilo

Carlos Marques
Opinião \ sexta-feira, maio 16, 2025
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À homenagem que Caldas das Taipas vai prestar no final deste mês a Camilo, devia o Presidente da Câmara ter mandado, como prometera construir uma réplica da Igreja de Santo António das Taipas.

Caldas das Taipas escolheu o mês de Maio para a criação do Thermos-Encontro Literário, dizendo que ao longos dos anos foi o destino de várias personalidades do domínio da literatura, permitindo-me distinguir dentre todos, a figura de Camilo Castelo Branco.

Ficando a saber da proximidade do grande autor e da sua escrita à que é hoje titulada Capital da Cutelaria, de muitos patrões e operários nas Caldas das Taipas, ou de Santo António das Caldas ou ainda de Santo António das Taipas, como o escritor nos chamava.

Onde foi por aqui muito feliz apesar dos tempos amargurados de fuga à justiça, nos idos de 60 do século XIX, pois encontrou um bom amigo, o grande antropólogo e arqueólogo Martins Sarmento.

No sentido de ajudar e para servir de força motivacional aos autores convidados para o Encontro Literário que estarão connosco nos dois últimos dias do mês, vou aqui relevar parte da obra que Camilo obsequiou ao nosso povo e às nossas gentes, passando a citar com a devida vénia do maior romancista da nossa língua, alguns dos seus termos.

As saudades que daqui levou e da vivência na nossa terra, descreve-as nas suas principais obras literárias, como na “MEMÓRIAS DO CÁRCERE”, dizendo “Não vi onde encostar a cabeça febril, e lembrou-me que tinha ali um conhecido, um poeta, um homem de existência amargurada. Procurei o conhecido e achei um amigo, como usam raramente serem os irmãos, em Francisco Martins”, ou quando “Navegando-se ao entardecer pelo rio Ave numa barqueta com o seu amigo, revessando-se na fadiga de remar, quando estava em fuga aos aguazis, concitados por grandes prémios, a prenderem-no nas Taipas”, e “Pernoitei no ergástulo da senhora Joanninha, e fui no dia seguinte para Caldas das Taipas esperar que Francisco Martins me lá désse um leito em sua casa, e um talher à sua mesa”.

Na mesma forma o ensejo de ter descrito um romance dum jovem casal namoradeiro taipense, no primeiro dos seus “DOZE CASAMENTOS FELIZES”. Por aqui “Andavam-se eles passeando naquelas frescas e saudosas carvalheiras de Santo António das Taipas. Nenhum figurava menos de trinta anos. De longe era ela muito de ver-se, com o seu roupão de cassa branca, chapéu de palha escura, gibão curto de cetim preto com mangas perdidas, braço nu, e pulseiras pretas de vidrilhos. Visto de perto, e examinada no rosto, a donairosa senhora não lucrava, e a imaginação perdia por curiosa”.

Nas suas deslocações a São Martinho de Sande para dar à estampa a saga de uma família que recebera “A ENGEITADA”, onde a dado passo diz “Onze horas seriam quando, da banda de Guimarães, desembocou no Largo das Gaias uma senhora sentada sobre um macho, guiado por um arrieiro. -As Gaias é aqui, patrôa -disse o arrieiro”, ou, “Há alli fóra na estrada das Caldas uma taverna”, em “Perguntou a mulher das Gaias, tomando a creança dos braços de Custódia. Então adeusinho, tia Gertrudes … -Vocemecê por onde vai por esse lado? -Vou para Santo António das Taipas, Fique com Deus”.

Daqui sai várias vezes para Briteiros, pois “A meia légua das Taipas, tem Francisco Martins uma quinta, chamada de Briteiros” e à sua céltica Citânia em vária da sua obra se encanta com as suas pedras, quando diz “Escolhi o quarto cujas janelas faceavam com um recortado horizonte de arvoredos, e a cumeeira chã dum cerro onde se divisam as relíquias de antiga povoação, que la dizem ter sido Citânia”

Sobe aos sacro-montes do Sameiro do Bom Jesus com quem se embeleza e produz a obra “BOM JESUS DO MONTE“, a certo passo escreve “Quando eu estava na casa de Francisco Martins, de Guimarães, em Briteiros, na raiz da serra da Citânia, ensaiando forças para as solidões do cárcere… sempre que posso, trago estas recordações a molde, não vejo outro gesto de expiar a tolice, senão confessa-lo, relembrando-o. Vinha dizendo quando eu estava em Briteiros, fui dali, na volta da serra, entrar na cumiada da montanha do Bom Jesus”.

Escreve com Francisco Martins Sarmento a obra “OBOLO ÀS CREANÇAS” e faz referência “Os castros iam já na duodécima frigideira quando os sobressaltou o aviso de que se ouviram as chamarelas do arcebispo nas voltas do Macade, a banda musical das Taipas trompejava o hymno do arcebispo nos defilladeiros da Falperra. Cavalgaram aceleradamente, e esporearam os ginetes para a Senhora-a-Branca, em direcção a Carvalho de Este”.

Desloca-se a Guimarães para saber da sua “VIÚVA DO ENFORCADO”, e diz acerca dela “Duas horas depois, por toda a vila, e extramuros de Guimarães grassava a notícia de ter fugido Teresinha, a rica e linda herdeira da Rua dos Fornos com o Guilherme Nogueira. Uns diziam que para Lisboa, outros para a Galiza, mas já havia quem os tivesse encontrado em Santo António das Taipas, caminho de Braga”.

Quando persente que há sinais rigorosos e evidentes de sua captura, compõe “Fui de Santo António das Taipas para as cercanias de Fafe, quinta do Ermo, onde me esperava, com os braços abertos e o coração no sorriso, José Cardoso Vieira de Castro. Falseei a verdade”.

À homenagem que Caldas das Taipas vai prestar no final deste mês a Camilo, devia o Presidente da Câmara de Guimarães ter mandado, como prometera construir uma réplica da Igreja de Santo António das Taipas, era pelo nome deste santo que Camilo conhecia a nossa terra, seria um modo para diminuir o crime cometido pela Câmara de Guimarães quando mandou demolir a denominada igreja no ano de 1917.

Caldas das Taipas, 1º de Maio do ano de 2025

 

[Conteúdo publicado originalmente na edição de Maio 2025 do jornal Reflexo]