Caldas das Taipas, terra d’água - II - Fontes, fontenários e chafariz
Sempre pela água, que é a fonte da vida há uma enorme admiração e respeito, até pela sua suavidade, leveza e a beleza que exibe. Tive de me afeiçoar e com ela ter uma ligação estreita, quando ainda muito novo, a mando de minha mãe tinha de levar o cântaro ao fontenário do Montinho encostado ao marco 13 da estrada, e de lá o trazer cheio de água para toda a serventia e uso da casa, pois esta só nos chegou encanada depois da minha vinda da tropa.
Mais tarde, em 1993 entronizei a par da cutelaria nas rodas dentadas da indústria, a figura da água na heráldica da nossa vila, ao definir como símbolo, para nossa Bandeira. Brasão e Selo Branco a ponte de 3 arcos, assente num pé de água de 6 faixetas ondeadas de prata e azul, e sobreposta à ponte uma fonte de ouro.
No mesmo ano de 1993, é instalado um tanque com chafariz em frente ao Passerelle, e quando abandono as minhas lides autárquicas no final daquele ano fica projectado um grande chafariz para o Jardim Público em frente à casa dos Agrellos. Sem antes na qualidade de tesoureiro da junta de freguesia intentado, sem sucesso, a compra do Chafariz de Taça da autoria de António Martins Ferreira, construído na Praça do Chafariz, hoje denominada de Dr. João Antunes Guimarães que ali esteve implantado entre os anos de 1883 a 1911, até que, já em plena república a 30 de Agosto a municipalidade de Guimarães o ter alienado e dali retirado com base em “requerimento do Sr. Engenheiro Municipal, informa a Câmara que o chafariz existente, na povoação de Caldas das Taipas, junto da Alameda, que tem servido até agora para a água da mesma povoação, hoje distribuída por 5 fontenários, já não é necessário, sendo de utilidade para o Município proceder-se à sua venda. Que o seu valor, atendendo ao estado da pedra, e ao seu feitio, dificilmente lhe permitirá outra aplicação, pode ser na quantia de 20$000 réis”.
Ou seja para os responsáveis municipais daquele tempo o chafariz apenas serviria para as pessoas dele se abastecerem de água. Só a sua distância às Taipas se pode perceber daquele conceito, os taipenses tinham por ele uma grande admiração, na Praça onde tudo acontecia, ao seu redor realizava-se a feira, o mercado, as trocas, possuía as suas melhores lojas, os embarques e desembarques das diligências, era lá como é hoje o nosso Rossio.
De tantos fontenários, e bicas e fontes que usufruíamos na nossa vila e nos saciava a sede não sobra uma, apenas a bica da buvete que jorra água sulfurosa para a cura das maleitas de enfermos, escorrendo-se pela ribeira da Canhota e desta para o rio Ave. Nem mesmo no parque de Lazer sobra uma única a funcionar, pena fora que não me tivessem deixado guardar as pedras da fonte de balde aqui em fotografia, que tentei e quase conseguia, não fora a nefasta intervenção do Cerqueira que preferiu vê-la nos alicerces do muro do parque.
Talvez a Câmara, agora que o Hotel da Empresa Termal das Taipas, SA está novamente à venda, possa compra-lo, afinal desde 1940 que a municipalidade não compra para si nenhum prédio aqui em Caldas das Taipas, protegendo a empresa que em 1985 ajudei a fundar, a Taipas Turitermas e o seu manancial, defendendo o interesse público, aproveitando para levantar a fonte do leão de água potável que o seu dono mandou soterrar naquele mesmo ano de 1993, de que resta a minha fotografia, e que muita gente das Taipas sabe bem da sua localização, pois dela muito se serviu e saciou.
Não se pode permitir Caldas das Taipas, que deve o seu topónimo à água, que tem nos seus símbolos e em duas circunstâncias esse elemento, que a fornece à cidade de Guimarães, não possua na nossa vila peças arquitectónicas e de mobiliário urbano alusiva à sua arma principal, a água.
Caldas das Taipas, 1 de Março de 2021
Fonte de Balde - Parque de Turismo das Taipas (Foto Lamarts)
Fonte do Leão - Parque das termas (Arquivo Carlos Marques)