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Avós: exemplos de vida e fontes de amor

Sérgio Silva
Opinião \ sexta-feira, julho 26, 2024
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Não conseguiremos construir um mundo mais bonito e com mais histórias felizes para contar se não tivemos presente tudo aquilo que nos fez chegar até ao dia de hoje.

Tenho a felicidade de escrever para este espaço de reflexão mensal num dia tão bonito quanto o de hoje – dia 26 de julho no qual, comummente, comemoramos o Dia dos Avós, numa tradição muito ligada à memória litúrgica de São Joaquim e Santa Ana, avós de Jesus. Assim, caros leitores, hoje proponho-me a refletir sobre humanidade.

Acredito que todos os netos deste mundo deverão muito aos seus avós. Eu, pelo menos, muito devo aos meus porque, sem eles, não haveria a continuidade da descendência que me permite percorrer os caminhos deste mundo e também porque são para mim ‘livro de memórias’ com tantas páginas para escrever, fonte de sabedoria e da escola da vida e, claro, abraço sempre carinhoso e ‘casa com porta sempre aberta’.

Precisamos de olhar profundamente para o potencial positivo da intergeracionalidade nos tempos em que vivemos. Não conseguiremos construir um mundo mais bonito e com mais histórias felizes para contar se não tivemos presente tudo aquilo que nos fez chegar até ao dia de hoje. Se, por um lado, costumamos afirmar a necessidade, no que à História diz respeito, de aprender com os erros do passado para não os cometermos no presente, por outro lado, importa afirmar cada vez mais a importância de aprendermos com as vivências positivas, os percursos de vida daqueles que nos antecederam. O conflito de gerações permite isso mesmo – às gerações mais antigas, permite renovar e refrescar o espírito sempre jovem e, à juventude, permite encher o depósito de sabedoria e de experiência de vida.

Numa vida acelerada, na qual muitas vezes não conseguimos priorizar o que deveria merecer essa condição e na qual estão cada vez mais presentes as amarras das redes sociais e do distanciamento físico, importa, é necessário e tem caráter de urgência reafirmar a função social de extrema importância das gerações mais velhas, contrariando o individualismo, o egoísmo e a indiferença que marcam tantas relações humanas. A este propósito, escreve o Papa Francisco na sua mensagem para o IV Dia Mundial dos Avós e Idosos: “Aliás, há hoje muitas mulheres e homens que procuram a própria realização pessoal numa existência tão autónoma e desligada dos outros quanto possível. A recíproca pertença está em crise, acentua-se o individualismo; a passagem do «nós» ao «eu» constitui um dos sinais mais evidentes dos nossos tempos. A família, que é a primeira e a mais radical contestação da ideia de nos podermos salvar sozinhos, é uma das vítimas desta cultura individualista. Mas, quando se envelhece, à medida que as forças diminuem, a miragem do individualismo, a ilusão de não precisar de ninguém e de poder viver sem vínculos, revela-se o que verdadeiramente é: em vez disso, encontramo-nos a precisar de tudo, mas agora sozinhos, sem ajuda, sem ninguém com quem possamos contar. É uma triste descoberta, que muitos fazem quando já é demasiado tarde.

Caros leitores, cabe-nos a nós fazer com que não seja demasiado tarde. E por isso no início deste texto me propus a falar de humanidade. Uma humanidade que é de cada um, porque não há fórmulas universais, mas que nos obriga a reconhecer que somos parte de uma história maior que conta com todos – os do passado, os do presente e os do futuro. Respondamos com humanidade à crise do isolamento social e da solidão, com a consciência de que somos o que já fomos e que, só tendo essa consciência, seremos mais fortes. “À atitude egoísta que leva ao descarte e à solidão, contraponhamos o coração aberto e o rosto radioso de quem tem a coragem de dizer «não te abandonarei!» e de seguir um caminho diferente” (Papa Francisco, na mensagem acima referida). Feliz Dia aos meus Avós e a todos os Avós que fazem deste mundo um lugar mais bonito para se viver!