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As portas de Abril que temos que abrir

Sérgio Silva
Opinião \ quarta-feira, abril 30, 2025
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Caro leitor, vote! Não deixe que ninguém escolha por si e não permita os avanços de quem quer cerrar as “portas que Abril abriu”. Porque é esta a responsabilidade que todos unidos assumimos.

“Agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu”. Que belas palavras Ary dos Santos deixou para pessoas como eu, herdeiro de Abril, cuja vida cívica e em sociedade depende profundamente das consequências daquele “dia inicial inteiro e limpo”, como tão bem Sophia descreveu. Abril foi mesmo um dos mais belos sonhos da nossa história coletiva. 1 E escrevo, propositadamente, Abril com letra maiúscula porque falar sobre um mês tão importante exige-me respeito por tantos que lutaram para poder estar a escrever sobre aquilo que penso. Ainda assim, caro leitor, não quero, neste artigo, falar sobre o 25 de abril enquanto acontecimento, mas sobre ao que, no atual contexto, nos desafia.

Assuma a sua responsabilidade para com o mundo. É com estas palavras que Timothy Snyder nos apresenta a sua 4ª lição sobre o século XX, numa obra que gosto sempre de citar – Sobre a Tirania: Vinte Lições do Séc. XX para o presente. A isto, o autor acrescenta, o seguinte: “os símbolos de hoje possibilitam a realidade do amanhã”. Volvidos 51 anos da Revolução e 50 anos das primeiras eleições livres, o desafio continua a ser este: assumir a responsabilidade com o mundo, num compromisso com a democracia, com um bem maior, que ultrapassa a individualidade de cada pessoa. Não é a primeira, nem será a última vez que partilho esta ideia com quem me lê, porque é mesmo um desígnio no qual acredito e para o qual acho que somos cada vez mais desafiados.

Estando nós a sensivelmente 3 semanas das eleições legislativas antecipadas, estas palavras continuam a ecoar. “O homem é, por natureza, um animal político”, afirmou Aristóteles. Todos somos seres políticos, o que não implica que todos tenham de ter a disponibilidade para assumir um cargo político. O importante é que ninguém se desresponsabilize de pensar e de contribuir para a afirmação e renovação da democracia portuguesa. Num ano em que acontecerão Eleições Legislativas e Autárquicas, com Presidenciais no início do próximo, é conveniente que não se retire a importância a esta ideia, especialmente numa conjuntura de regressão das democracias liberais e de crescimento de movimentos antidemocráticos, o que não é novo, mas que pode atingir proporções ainda maiores, designadamente no contexto português.

Isto implica, no meu ponto de vista, que os partidos democráticos se concentrem em apresentar ideias, argumentos e propostas que, sustentadas naquilo que são os seus ideários, contribuam para melhorar a vida das pessoas ou das suas comunidades, no caso das Autárquicas. Por isso, se é certo que a crise política que nos trouxe às eleições antecipadas é de responsabilidade iminentemente pessoal, a minha esperança é a de que, pese embora seja um tema que será marcante na campanha, os principais rostos dos partidos não se foquem nessa questão e se dediquem a apresentar os seus projetos às populações. A todos os candidatos, aquilo que os portugueses exigem é responsabilidade, coerência e maturidade. Ao cidadão comum pede-se: vote. Reflita sobre as propostas que se apresentam. Mais à direita, à esquerda ou ao centro – vote. Antes de todo e qualquer partido está o bem precioso que a todos nos une, a democracia.

Por isso, caro leitor, vote! Não deixe que ninguém escolha por si e não permita os avanços de quem quer cerrar as “portas que Abril abriu”. Porque, no fundo, é esta a responsabilidade que todos unidos assumimos – a de cravo ao alto, afirmar sempre a democracia.