As novas tecnologias e as crianças! O que lhes dão e o que lhes tiram
Motricidade fina, zero. Essa parte do desenvolvimento parece que fica para segundo plano quando na realidade deveria ser prioritário.
Faz-me imensa confusão ver os nossos filhos tão autónomos na parte das tecnologias enquanto que nas necessidades básicas do dia-a-dia ficam “bloqueados” e dependentes de nós.
Embora cada vez se torne mais difícil encontrar um ponto de equilíbrio entre os estilos de vida actuais, cada vez mais marcados pelo uso das novas tecnologias, é urgente estabelecer regras e estratégias para que as crianças contrariem uma tendência para o comodismo e olhem para outras formas de estar mais saudáveis onde se sintam com vontade e realizados.
É certo que o período de confinamento veio acentuar este problema, sendo que, por muito que nós adultos nos queiramos descartar de responsabilidades, somos efetivamente os maiores culpados. Por isso mesmo a solução começa por nós.
Que voltem os tempos “Tom Sawyer”!
As crianças precisam de voltar a casa de “cara suja” e calças “rasgadas”!
Precisam de ser confrontados com os desafios naturais, muitas vezes de algum conflito resultantes das relações entre elas.
Precisam de ter conflitos naturais com os amigos, não nas redes sociais, mas sim na interacção social (cara a cara), (jogar à bola, esconde esconde, macaca... etc.).
Cada vez mais os pais, com a melhor das intenções e porque amam incondicionalmente os filhos, tentam proporcionar-lhes os melhores momentos e as melhores oportunidades, substituindo por vezes o “ensinar a fazer” com o “fazer por eles”, impedindo, desta forma, seguir um ciclo de aprendizagem natural a meu ver mais eficaz.
As novas tecnologias são fundamentais e fazem inevitavelmente parte das nossas vidas!
Consequentemente as crianças terão de ser dotadas de capacidades e instrumentos para lidar com as mesmas. Tal facto não deve impedir de usufruir dos métodos de aprendizagem ditos tradicionais.
Claro que é sempre perigoso e incerto comparar gerações. A frase “no meu tempo é que era”, não deve ser levada à letra mas também não deve ser desvalorizada.
Cada geração tem o seu próprio contexto com os seus próprios desafios. O “upgrade” das gerações mais novas é necessário e inevitável não implicando, porém, o “apagar” toda a experiência de um passado que, embora num contexto diferente, não deixa de ter ensinamentos e práticas que devem e podem continuar!
Parte dessa herança cabe ser transmitida pelos pais.
Para tudo isto acontecer é preciso algo que tende em existir menos: Tempo de qualidade com os filhos/as.
Por muito que o ritmo de vida (profissional e social) seja cada vez mais absorvente do nosso tempo, as prioridades não podem ser pervertidas. Nós pais temos que ter sempre em mente, de que grande parte do nosso tempo tem de ser de e para os nossos filhos.
Existe todo um percurso que a criança vai ter mas, é sem dúvida, em casa que se criam condições para a formação do que se espera ser um futuro adulto capaz de enfrentar os diversos desafios que se lhe irão apresentar.
Nunca esquecendo que as crianças são indivíduos e, como tal, devem ter direito à sua identidade e vontade, convém também não esquecer que, as mesmas, devem ter consciência e prática dos seus deveres e obrigações.
A disciplina/reprimenda, quando aplicadas com critério, não são inimigas ou contrárias ao carinho que pode e deve existir entre pais e filhos(as).
As novas tecnologias não podem/devem substituir ou preencher o espaço que está destinado aos pais, família e amigos!
Não devemos recorrer sistematicamente aos tablets, computadores etc., para “sossegar a criança”, para termos o nosso “momento de paz”.
O uso das novas tecnologias (telemóveis, tablets, computadores etc), sendo necessário e devendo ser estimulado, deve igualmente ser disciplinado e devidamente doseado.