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O fim do reinado dos discos e o apogeu dos “Influencers dos clicks e likes"

Pedro Conde
Opinião \ sexta-feira, dezembro 15, 2023
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Os consumos musicais sofreram uma mudança radical num curtíssimo espaço de tempo, tanto na sua forma, como no seu género, assim como na sua qualidade e quantidade.

Já lá vai o tempo em que comprar um disco era um acto de amor e compromisso com a banda. O disco era aguardado, às vezes, meses e o momento em que chegava à loja e que o podíamos comprar, era sempre especial. Os discos eram depois saboreados de uma forma mais lenta e pausada. Enquanto desfolhávamos o desdobrável, com as letras e créditos das músicas, apreciávamos os grafismos que a banda escolheu para acompanhar as suas sonoridades. O disco era ouvido uma, duas, três, quatro vezes, do início ao fim, apenas para o percebermos e tirarmos as primeiras impressões. Se gostávamos ou não, era depois uma outra questão.

Depois de ouvido, umas dezenas, largas de vezes, era partilhado com os amigos próximos em troca de outras relíquias sonoras. Lembro-me, perfeitamente, de vários discos rolarem o meu grupo de amigos. Ouvir um disco que gostávamos, obrigava-nos sempre a um acto de partilha “tenho de mostrar isto ao meu pessoal”, para que, depois, surgissem as discussões entre nós, do que era bom ou não.

Isto fazia com que os temas fossem compreendidos ao mais ínfimo pormenor, as letras apreciadas e decoradas, e as bandas idolatradas. Ainda me lembro também, da altura em que a única forma de ouvir música nova, seria ir às lojas de discos e ficar horas a ouvir nos leitores de CD, os discos novos que iam saindo para o mercado. Um bom disco era o arranque para qualquer banda. Lançar um disco não era banal.

Mas, esta realidade mudou e a par de toda a revolução tecnológica, da Internet e da globalização digital, os consumos musicais também mudaram.

Hoje em dia, acho que já não podemos falar em lançar discos, o termo mais correcto, na minha opinião, é “atirar”! Atirar um disco para um universo virtual interminável de músicas, discos e artistas. O mundo do “Spotify”, do “itunes”, do “tidal” e de tantas outras plataformas digitais de música, onde podemos encontrar milhões e milhões de temas. É uma forma mais simples do acesso a toda a música para o consumidor final, mas para um músico que começa uma carreira,  pode ser ou não, um bom veículo de promoção.

Surgiu assim, com esta revolução, um novo tipo de consumo musical. Já pouca gente compra discos e a indústria passou a ser agora, controlada por algoritmos que cada vez menos têm a ver com música e têm, cada vez mais, a ver com interesses económicos e dinheiro… Capitalismo e ditadura musical. A ditadura que avalia o valor das bandas pelos streams, pelos clicks e pelos seguidores.

Ao mesmo tempo, este novo tipo de consumidor já não ouve na maioria das vezes o disco, mas o tema. Se o tema não o cativar rapidamente, bem clica e passa para a música seguinte ou para o artista seguinte. Cada vez menos consumidores perdem tempo a ouvir discos completos e tudo se tornou mais rápido e mais efémero. Artistas são criados do dia para a noite, pela simples vontade destas redes sociais. Actos de magia conduzidos pelo poder desta também nova classe, os influencers digitais, estes deuses virtuais modernos  têm o poder quase hipnótico sobre os seus seguidores, de os fazer decidir o que é a boa ou má música, o que está in ou out, o que devemos ou não ouvir e, consequentemente, gostar... são as modinhas e o fast food musical. Tão rápido, como efémero, e cada vez mais vazio de conteúdo onde se confunde muitas vezes a essência com a aparência.

São estes os tempos modernos em que vivemos que, atenção, não são forçosamente maus. Continuam a aparecer na mesma, grandes bandas e grandes músicas, só que lutam nesta altura, por furar numa indústria que nada tem a ver com a qualidade musical. Por isso, posso concordar que um hambúrguer do Mc, às vezes, me sabe bem! Agora, por favor, não o comparar nunca, a um bom naco de carne grelhado na brasa com umas batatas a murro.

Para a edição de Dezembro destaco o lançamento de dois singles de dois projetos aqui da nossa terra.

Who’s laughing now Don Giovanni? é o nome deste novo projeto que lançou, recentemente,  "Dust" que é acompanhado por um videoclip dirigido por Carina Rita, Maria João Gonçalves e editado por Gustavo Pereira com a coreografia de Carolina Pereira. O single foi produzido pelos próprios, mantendo-se assim, fiel à visão artística da banda, proporcionando genuinidade e honestidade musical. Dust é um tema sereno, melancólico, com uma profundidade que nos leva a fechar os olhos e simplesmente respirar e sentir e ouvir... um grande single que espero que seja o primeiro, de vários, de um grande disco de estreia. Ficamos a aguardar, mas no entretanto, façam o favor de ouvir este Dust porque vale mesmo a pena.

O segundo single, em destaque, é “Natal em 86” lançado por Theo (aka João Gonçalves, meu camarada de armas, projecto onde dou uma perninha nas guitarras). Este novo single é uma música de Natal, composta, a pedido da rádio Antena Minho, para o programa Sete Mares. E não se enganem com os sinos do início, pois é uma música de Natal diferente, que fala de saudade e da falta dos que já partiram. É a música de Natal que não queremos ouvir, por isso, é que vale tanto a pena  ouvir para que possamos todos recordar, como foi o nosso melhor natal de sempre, por isso fica a sugestão.