All eyes on Rafah – um grito de socorro
All eyes on Rafah. Esta frase foi partilhada cerca de 32 milhões de vezes, durante os últimos dias, nas redes sociais. Tendo como fundo a imagem viral gerada pela Inteligência Artificial ou uma das tantas imagens que nos chegam dos campos de guerra, a mensagem passou e continua a passar para quem, descontraído, como eu estava, dá de caras com ela no seu ecrã. E a mensagem é forte, real e diz-nos muito também – convida-nos a olhar para a uma Humanidade flagelada que, num grito de ajuda, nos parece dizer que todos nós podemos fazer parte da solução.
Tomei por mote a frase para a escrita deste texto, mas sem querer, no entanto, multiplicar análises geopolíticas e sociais sobre o acontecimento. E não o farei, agora. Prefiro olhar para a questão por dentro e tentar refletir sobre que desafios temos perante esta causa tão bonita – a Humanidade. Uma Humanidade dividida, destroçada, flagelada, carente de um bem tão essencial para a sua sobrevivência enquanto coletivo de todos os seres humanos que, comigo, contigo, povoam este mundo. Esse bem é a Paz. E a Humanidade precisa dela.
Escrevo, propositadamente, Paz com letra maiúscula, que lhe atribui um simbolismo e uma dimensão incomensurável que não se esgota numa simples, pouco vistosa, mas tão bela palavra – uma das mais belas do dicionário. Se, eventualmente, andasse na rua a interromper a vida, não raras vezes acelerada, das pessoas com quem me cruzava e perguntasse “o que é a Paz para ti?”, teria, com toda a certeza, respostas totalmente distintas. Uns não me responderiam. Outros esboçariam um sorriso, emocionado, de quem sabe que a Paz é inegociável. Outros tentariam encontrar definições elaboradas, com fundamento histórico, para procurar conceptualizar esta palavra. E para si, caro leitor, o que é a Paz?
A guerra é a ausência de Paz, mas a Paz não é só a ausência de guerra. A Paz é muito mais do que tudo isso, do que uma resposta binária, do que palavras escassas, ricas no conteúdo, mas pobres no reflexo. É em nós que é tudo. É em nós que a Paz começa, e por nós que Paz ou se afirma, ou termina. Lembro-me sempre das palavras de Tolentino Mendonça, que me permito citar, e que nos diz uma coisa tão simples: que a Paz “não é pré-fabricada, mas se tece como um lento artesanato. Essa paz que nasce da arte de colocar em relação fios muito diversos, respeitando a unicidade de cada um e, ao mesmo tempo, descobrindo o significado profundo da convivialidade e do encontro”. Acrescento: a Paz implica o compromisso de sabermos que todos somos parte de uma mesma Humanidade, que nos cabe preservar. A Paz implica o discernimento e a ousadia de às trevas, dar luz; ao ódio, dar amor. A Paz implica que sejamos capazes de olhar o outro nos olhos e de lhe dizer – “tu também és válido”.
Poderia alongar-me, e muito teria para dizer sobre esta palavra tão bonita. Mas deixo-lhe um desafio, caro leitor: seja um construtor de Paz. Na sua comunidade, no seu local de trabalho, na sua família. E não se esqueça de se perguntar a si mesmo – “o que é a paz?”. Eu responderia desta forma: a Paz, a Paz, a Paz – feliz é quem A faz!