A Revolução do Rock in Rio Febras
Este será, sem dúvida, um dos artigos que mais prazer me vai dar, escrever 😊. Eu, que durante anos, preguei o rock e o “Power of the People”, sempre apoiado em músicas das minhas bandas favoritas como os “Rage Against the Machine”, usadas por mim como versículos do que sempre senti, da luta obrigatória de quem sente a música como eu e da avassaladora necessidade que sempre tive em mim, de lutar contra um sistema que, infelizmente, conheci e percebi desde muito cedo, da indústria da música e dos eventos de massas a nível nacional em particular, e da nossa sociedade em geral. Quem me conhece mais de perto, conhece também os meus discursos inflamados e a minha incessante luta, em diversos panoramas nesta área, desde músico e DJ, até promotor e programador de imensos eventos e espaços onde, em todos eles, saí sempre com um amargo de boca, de ter sempre, em algum momento, esbarrado em paredes de realidade que fui incapaz de derrubar…
Contudo, a minha chama nunca apagou, sempre me mantive inconformado e, como o Padre António Vieira, continuei a pregar por aqui e por ali até que os astros se alinharam e, de repente, os peixes ouviram e acordaram… Feliz de mim que tive a oportunidade de ver e viver em primeira mão esta Revolução…
Mas, vamos ao que interessa, de uma forma natural, o meu percurso levou-me até Briteiros, a um novo evento e a um novo projeto. A vontade das pessoas da Casa do Povo era de fazer um Festival de Rock e, assim, o nosso caminho se cruzou. Rapidamente me convenceram ajudar e a participar, especialmente por perceber logo de início, que a sua vontade era muito superior à criação de um mero Festival. Queriam, acima de tudo, arranjar mais uma ferramenta para conseguirem criar mais verba, sendo necessária para manterem abertos e ativos os seus outros projetos sociais ligados principalmente a crianças e idosos, com imensas valências. O Rock seria apenas veículo. E, a mim, não me ocorre nenhum veículo de solidariedade melhor para isso…
Nestas gentes e nesta equipa encontrei uma força que eu, honestamente, já tinha perdido, uma vontade e uma pureza de coração de quem é genuíno, de quem não está preocupado com o que os outros pensam e, acima de tudo, age e trabalha pelo bem do próximo. Outra característica fantástica desta malta é que, apesar de todas as adversidades, de todas as dificuldades, de todo o cansaço que possam aparecer pelo caminho, nunca os vi perder o sorriso do rosto. Apesar de ser um outsider, rapidamente me fizeram sentir em casa e passei a sentir o espírito desta Casa do Povo.
A primeira edição, em 2022, foi logo à partida um enorme sucesso e, o que eu senti, as pessoas que vieram a Briteiros também sentiram… Uma comunidade unida, com um objetivo superior, solidário, e o Rock como veículo, na sua forma mais pura, sem interesses nem condicionantes…
Para a segunda edição tínhamos os ingredientes chave e decidimos então subir a fasquia. A ideia era então, fazermos crescer o Rock in Rio Febras! Longe estávamos de imaginar o que por aí viria. Uns podem dizer que foi acaso, sorte, eu prefiro o alinhamento dos astros e do universo…
A pouco menos de três semanas do evento, eis que surge a tal notificação da empresa de advogados, representante da tal marca que, infelizmente, não poderíamos mais usar. Contudo, esses senhores estavam longe de calcular o poder das gentes de Briteiros. A genialidade de um comunicado público de resposta foi o rastilho de uma revolução que nunca ninguém poderia prever e muito menos travar. Em menos de 48h, o pequeno Rock in Rio Febras era notícia Nacional, aliás, passadas mais 24h, tornou-se notícia internacional. E, do nada, todos os pequenos peixes acordaram! O rastilho vindo de Briteiros foi o mote para todos os pequenos núcleos de pessoas inconformadas com o sistema (da música, do rock, ou apenas com as injustiças da vida), se unirem e se levantarem contra um Gigante que, apesar do seu tamanho, não tem problemas em esmagar até a mais pequena das formigas. Mas, esta formiga era claramente especial… E, assim, o Gigante foi forçado a dobrar o joelho e fazer uma vénia à pequena formiga com um outro comunicado… (Perderam em tudo e nos comunicados levaram tipo 7-0). Todos juntos conseguimos isso, o povo de Briteiros, o povo das Taipas, o povo de Guimarães, o povo de Portugal (com a ajuda preciosa de algum povo do Cazaquistão)! O poder do Povo!! Que revolução bonita! Toda a gente quis fazer parte desta nova primavera. O segundo Rock in Rio Febras foi o “primeiro dia do resto da sua vida”, onde milhares quiseram assistir e aplaudir de pé. Foi um marco histórico, nesta indústria cinzenta da música e dos Festivais que sangrou, sofreu e cedeu pelo ferro, que é a sua ferramenta preferida, a das redes sociais e da comunicação social. Fizemos história em Briteiros e tenho a certeza que este Festival será lembrado, durante muitos anos, e será, certamente, um “case study” por outros tantos. Aliás, o pequeno Rock in Rio Febras ganhou o seu lugar no Wikipédia, conseguiu ser “trend” no Twitter, ou manter, até hoje, o número 1 nas pesquisas do google, onde basta digitar a palavra “Rock”, para encontrarmos o “Febras” como primeira sugestão. Diretos do recinto para o telejornal da noite, em todos os principais canais de TV. Briteiros passou a ser conhecido por todo o país! O pequeno festival agigantou-se para receber todos os milhares e não teve medo da exposição, mostrou ao mundo o que de melhor a nossa região é capaz de fazer (Enormes Quarta às 9, Segundo Minuto, Gaspea, Ledher Blue, Smartini, Berto, Gordilho, Juanito Caminante, Crocky Girls). E, o público, aplaudiu de pé! E, este foi, apenas o segundo capítulo desta história do pequeno Rock in Rio Febras, que apesar de ter perdido o nome, manteve o Rock, manteve o Rio manteve as Febras e está mais “in” que nunca… Mal posso esperar pelo próximo capítulo…
Para mim, ficou uma felicidade extrema de ter estado no epicentro de todo este Tsunami, de se ter feito justiça e de, pelo menos, neste capítulo e nesta batalha, termos tido uma vitória grandiosa contra este sistema! E, acima de tudo, por ter estado neste campo de batalha a dar o meu contributo nesta luta e, finalmente, sentir o doce sabor da vitória sobre o sistema, que, por mais efémero que este momento possa ser, me deixou um sorriso na cara. O sorriso que as gentes de Briteiros me ensinaram 😉! Deixo-vos ficar a foto da minha t-shirt da edição de 2022 que o Vasco (comandante desta tropa e de toda esta operação), me conseguiu arranjar este ano que resume o sentimento de todos os envolvidos, onde está estampado o: “Eu ajudei” .
Vencemos esta batalha, mas a guerra continua e não poderia deixar este artigo sem deixar uma palavra de apoio aos nossos camaradas de armas do rock do Porto e à luta pelo Centro Comercial STOP. Uma vergonha nacional o que os senhores que mandam, estão a fazer no Porto, tirando, a mais de 500 músicos a sua base de trabalho, é simplesmente impensável e inaceitável!!! Por isso, Força e não baixem os braços!