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A memória dos livros

Alfredo Oliveira
Opinião \ quarta-feira, abril 03, 2024
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Sempre vi o antigo mercado como um projeto ambicioso, como o local ideal para uma biblioteca pública de referência a nível municipal e mesmo regional.

Caldas das Taipas foi, ao longo dos tempos, uma terra que os escritores tiveram como referência nas suas obras e mesmo nas suas vidas.

Recuando ao século XVIII, temos Frei Cristóvão dos Reis com a sua publicação sobre as termas. No século XIX, a referência maior é Camilo Castelo Branco com a sua permanência na vila e as menções em diversos livros. Ramalho Ortigão e José Augusto Vieira com outra obra muito referenciada, “Minho Pittoresco”, são outros escritores que marcaram este período.

No início do século XX, outro grande nome das artes, Amadeo de Souza-Cardoso, num período curto e pouco explorado, também marcou presença na vila. Já no início da segunda metade desse século, temos o autor de “A Selva”, Ferreira de Castro, que, através dos períodos em que viveu em Caldas das Taipas e dos seus escritos, continua a marcar o imaginário taipense e a frase “A terra onde a lua fala” é algo que identifica esta terra.

Outros escritores, como Jorge Amado ou Mário Cláudio (que chegou a escrever uma crónica neste jornal), também fizeram as suas alusões à vila termal e à sua relação com Ferreira de Castro.

Em 2018, neste mesmo espaço, defendia que o antigo mercado, agora transformado em zona de bares, deveria ser direcionado para a criação de uma biblioteca “mais fechada nos dias de chuva e com uma ampla esplanada para os dias de sol, que permitiria marcar a diferença em equipamentos do género. E, sim, também com um bar/restaurante de apoio.”

Anos antes, em conversa com José Ribeiro, questionei até que ponto estaria disponível para pensar numa eventual mudança da sua biblioteca para um espaço público nas Taipas.

Sempre vi o antigo mercado como um projeto ambicioso, como o local ideal para uma biblioteca pública de referência a nível municipal e mesmo regional (existe um espaço também excelente para tal, mesmo do outro lado da rua, mas com outros valores envolvidos).

Naturalmente, este avivar de memória está relacionado com o destaque desta edição, precisamente a biblioteca construída pelo fundador da Cutipol. José Ribeiro, cronista do Reflexo a partir de 1997, com os seus “Pedaços de Vida” e com a sua entrevista ao nosso jornal, meses antes de iniciar essa colaboração, deu a conhecer as suas principais referências de vida e o seu amor pelos livros.

Aquando da sua morte, em 13 de fevereiro de 2012, o voto de pesar da Câmara destacava o “homem de cultura que apoiou as artes e que se associou a tantas realizações culturais, criando paralelamente uma das mais importantes bibliotecas privadas da região”.

Cristina Ribeiro, passados 27 anos da entrevista ao seu pai, dá conta da sua vida, agora dedicada aos livros, e de algumas dúvidas quanto ao futuro da biblioteca e deixa no ar uma “eventual parceria com uma instituição que guarde aquelas coleções”.