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25 de Abril, eleições livres, quando o povo aprendeu a votar nas Taipas

Carlos Marques
Opinião \ domingo, junho 22, 2025
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O povo ávido de liberdade, manifestava-se na rua, nos cafés, nas fábricas, nas oficinas, nas escolas, em qualquer sítio onde se encontrava.

Precisamente para escolher em cada distrito eleitoral os que melhor serviriam para debater na Assembleia da República, os textos da lei principal do nosso país, a Constituição.

Desde logo os eleitos só podiam ser pessoas integrantes de Partidos Políticos, como ainda hoje é para a Assembleia Legislativa, e a Lei eleitoral publicada em 15/11/1974 proibia a Candidatura de certos serventuários do Regime Anterior (1926 a 1974).

A liberdade apenas tinha acontecido 1 ano antes, não impedindo em tão pouco tempo, de surgirem 14 forças partidárias, das quais 10 se candidataram ao nosso distrito de Braga, com o processo constituído e legalizados, com militantes de base, donde escolheram para as listas os seus melhores.

Estávamos em pleno PREC Período Revolucionário em Curso, e o povo ávido de liberdade, manifestava-se na rua, nos cafés, nas fábricas, nas oficinas, nas escolas, em qualquer sítio onde se encontrava.

Os muros e as paredes, e, até as estradas eram pintadas com as mais variadas frases políticas, e as lapelas de cada um serviam para propagandear os partidos políticos que saíam da clandestinidade como o PCP, o MDP/CE e o MRPP. O suporte mais barato veio a ser o Autocolante para dar a conhecer um partido político, que se colocavam também nos carros e nos cadernos escolares. O autocolante servia também para cada partido divulgar as suas iniciativas, comícios, congressos, seus ídolos, lutas sindicais, comissões de trabalhadores, cooperativas, bem como suas células e grupos de base.

No tempo de uma liberdade acabada de inaugurar, construir uma democracia era tarefa complexa. Era difícil o entendimento global sobre as bases em que ela se devia fundar, e, havendo muito a fazer e muita pressa e o Autocolante revelou um papel essencial.

Foram muitas as sessões de esclarecimento e os Comícios que os políticos levavam a cabo em todas as freguesias.

Para, a 25 de Abril de 1975 termos escolhidos os deputados à Assembleia Constituinte, que viriam a ter os seguinte Resultados eleitorais no Concelho de Guimarães, então ainda com Vizela, foram:

27.962: PS-Partido Socialista;

18.144: PPD-Partido Popular Democrático;

9.899: CDS- Partido do Centro Democrático Social;

2.914: MDP-Movimento Democrático Português / CDE;

2.555: PCP-Partido Comunista Português;

765: FSP-Frente Socialista Popular;

626: MES-Movimento de Esquerda Socialista;

494: FEC-Frente Eleitoral de Comunistas (Marxistas-Leninistas);

480: PPM-Partido Popular Monárquico;

656: PUP-Partido de Unidade Popular.

De realçar que é das listas de Braga que sai um dos mais distintos constitucionalistas portugueses, Jorge Miranda eleito pelo PPD, que viria a colaborar na lei fundamental de mais 4 países.

Também daqui saiu o destacadíssimo político de âmbito nacional do CDS, o Adelino Amaro da Costa. Da mesma forma integraram figuras muito importantes no panorama político nacional como Armando Bacelar do PS, Carlos Costa do PCP e o vimaranense Joaquim Santos Simões pelo MPD/CDE.

O processo revolucionário lá continuava, e foi perdendo força quando a 25 de Abril de 1976 elegíamos os nossos representantes agora já para a Assembleia Legislativa, para passados apenas 2 meses termos sufragado o 1º Presidente da República a 27 de Junho de 1976 eleito pelo voto popular, e, não demoraram sequer 6 meses fomos novamente às urnas, a 12 de Dezembro de 1976 para escolhermos os nossos representantes locais, para a Junta e Assembleia de Freguesia, para a Câmara Municipal e para a Assembleia Municipal.

De realçar que os poderes da Junta de Freguesia ficaram os mesmos das Juntas Paroquiais do anterior regime, ou seja, confinam-se à gestão do cemitério e dos caminhos vicinais, além da emissão de Declarações e Atestados.

A Lei das Finanças Locais publicada no ano de 1976 beneficiou e muito a Gestão dos Municípios alocando-lhes recursos financeiros muito significativos, deixando as Juntas de Freguesia pior que ao que estavam antes.

 

ndr: artigo publicado originalmente na edição de junho do jornal Reflexo