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43 anos de uma Universidade que deveria estar localizada nas Taipas

Alfredo Oliveira
Educacao \ sábado, fevereiro 18, 2017
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A Universidade do Minho, criada em 1973, a 11 de agosto (Decreto-Lei n.º 402/73), pelo então ministro da educação Veiga Simão, comemorou a 17 de fevereiro.

O seu 43.º aniversário, numa cerimónia solene presidida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

A propósito deste aniversário, recuámos a 10 de outubro de 2014, quando foi apresentado o livro “História da Universidade do Minho 1973/1974-2014”, numa organização conjunta da Assembleia de Guimarães e da Fundação Carlos Lloyd Braga. Nessa altura, Fernando Alberto Ribeiro da Silva, ex-governador civil de Braga e António Magalhães, ex-presidente da Câmara Municipal de Guimarães, foram convidados a darem conta das suas vivências registadas nos anos “quentes” da instalação da universidade. Caldas das Taipas foi desde o início do processo apontada como a localização ideal para a instalação da Universidade do Minho, localização defendida pela Comissão Instaladora da Universidade do Minho (CIUM), investida a 14 de fevereiro de 1974, que defendeu um polo único e a sua instalação em Caldas das Taipas. Esta mesma tese foi apresentada pela empresa Profabril, entidade especializada neste tipo de serviços, como sendo o local ideal enquadrado “em grande parte pelo rio Ave e pela estrada nacional que liga as duas cidades” [Guimarães/Braga], como se pode ler também no livro em causa.

Este livro foi alvo de algumas críticas por parte de alguns vimaranenses, destacando-se Barroso da Fonte, que assumiu uma posição muito forte num artigo publicado no Correio do Minho [a 11, 18 e 25 de novembro de 2016], acusando os autores de só falarem “das conveniências”. De casos mais simples, como facto de o livro dar o dobro das páginas e fotografias a Braga em detrimento de Guimarães “16, contra 8 de Guimarães”, aos mais graves que foi o de se “omitir as inconveniências” e de ter branqueado a “injustiça cometida contra Guimarães” e, acrescentaremos nós, mais concretamente contra as Taipas.

O ex-vereador da Câmara de Guimarães (1986/90) relembra que o estudo da Profabril ao apontar a vila termal como local ideal, era no sentido de “agregar o Minho e não para o desagregar”. No entanto, mais uma vez, os políticos bracarenses conseguiram contrariar tal proposta e levaram a sede da Universidade para o Largo do Paço em Braga. É este um dos períodos que ainda hoje Barroso da Fonte gostaria de ver aclarado e a que o livro nada acrescenta e que “continua a ser tabu”.

Para Barroso da Fonte, Braga tem na instalação da Universidade o principal fator para ter ultrapassado Guimarães em “todos os níveis”, começando pela questão populacional, pois nos anos setenta do século XX, Braga tinha menos habitantes do que Guimarães [Braga em 1970 tinha 101,877 habitantes, contra 120.755 habitantes de Guimarães].

Nesta evolução temporal e geográfica, em termos de localização da Universidade, Guimarães esteve mesmo em risco de não ter qualquer polo universitário. Fernando Alberto e António Magalhães, na sessão da apresentação do livro, deram conta disso mesmo. O ex-presidente da Câmara de Guimarães recordou a “complexidade de trazer um polo da universidade para Guimarães”, acrescentando que “muita gente teve de dar o litro por esta causa”, concluindo que o polo de Guimarães se ficou a dever ao “bairrismo dos vimaranenses”. Fernando Alberto alinhou pelo mesmo diapasão, relembrando que, mal se iniciou o processo da criação da UM, começaram de imediato “as guerras entre Guimarães e Braga”, destacou ainda a prestação de Diogo Freitas do Amaral em toda esta problemática.

Por sua vez, Barroso da Fonte esperava que o livro desse conta disto tudo. Gostaria de ter lido o reconhecimento do papel da Unidade Vimaranense, nesta luta pelo polo de Guimarães e na sua liderança nas “contestações de rua, sempre ordeiras e democráticas, com os seus líderes carismáticos à frente”, situações que foram repercutidas na imprensa diária, regional e nacional, quando ainda os bracarenses defendiam mesmo que a universidade fosse reconhecida como “Universidade de Braga”.

José da Silva Mendes, natural de S. Clemente de Sande [pessoa que provocou este texto], foi um dos que esteve na frente da contestação popular vimaranense. Toda esta movimentação viria a traduzir-se numa decisão legislativa salomónica por parte do major Vítor Alves, ministro da Educação na altura, criando três polos para a UM: Braga, Guimarães e Viana do Castelo. Em Viana ficaria a extensão náutica, em Guimarães as ciências tecnológicas e em Braga as Letras. Viana acabou por desistir e Guimarães teve no Vila Flor o seu polo universitário, edifício comprado para o efeito.

Mesquita Machado conseguiu desviar para Braga o poder de decisão e Guimarães não teve aquilo que lhe era devido. É a história das duas primeiras décadas que Barroso da Fonte defende que deveriam estar devidamente retratadas no livro comemorativo dos 40 anos da UM. No já referido artigo publicado no Diário do Minho, o ex-diretor do Paço dos Duques lamenta “a ausência das entrevistas, dos artigos de opinião, das reportagens e de outros à partes que se passaram nesses decisivos primeiros anos, principalmente entre 1974 e 1982”, profusamente relatados no Expresso ou no JN, quer por Ademar Ferreira dos Santos, quer por Manuel Dias e Américo Diegues.