Centenário, o Sr. Dias soprou as velas e viu as Taipas desenvolver-se
“Não é normal, nem é para todos”, atira Manuel Ribeiro Dias. Refere-se ao seu centésimo aniversário, celebrado a 20 de abril de 2021, há sensivelmente um mês, no Lar do Centro Sócio Cultural e Desportivo de Sande São Clemente.
Reconhecido nas Taipas, ainda que natural de Vila Nova de Sande, Manuel Dias passou pela Associação Humanitária de Bombeiros de Caldas das Taipas e colaborou também durante vários anos com o Clube Caçadores das Taipas. Nas horas vagas tentou “servir com entusiamos estas causas”.
Em conversa com o Reflexo reconhece que não esperava atingir tal idade, até porque nunca teve qualquer tipo de restrições. “Nem eu nem ninguém espera chegar a esta idade. Nunca fiz nada para durara muito tempo. Trabalhei sempre muito e nunca tive restrições”, aponta.
Trabalhador sem problemas de saúde
De uma existência centenária fica o relato de uma vida de trabalho. Literalmente. Começou cedo no ofício do pai, a sapataria, e terminou tarde. As burocracias não eram o que são hoje e o Sr. Dias, como é reconhecido por muitos, trabalhou até quando foi possível, de forma a fazer face à reforma escassa.
“Depois de fazer o exame da quarta classe trabalhei com o pai até aos vinte anos, aprendi o ofício dele. Era assim, não havia fábricas, apenas lavoura. Nem se usava meias, as pessoas vinham do campo com os sapatos com mau cheiro; comecei a encher-me daquilo e pedi para trabalhar na fábrica aos vinte anos. Trabalhei numa urdideira manual durante 25 anos a puxar com os braços todos os dias”, relata.
Trabalhou também numa carpintaria, fazia mobiliário, e uma vez mais o trabalho foi abundante. “Entrava às 9horas e nunca tinha hora de sair. Num dia de Natal, dia da ceia, eram 11 horas da noite e ainda estava a trabalhar, a montar uma cama, em vez de estar em casa a comer”, recorda Manuel Dias, que nunca teve problemas de saúde.
“Segredo? Não sei será de família”
A pergunta é já tradicional, quando se atinge esta faixa etária e foi colocada. Qual é o segredo? Ainda com uma lucidez a toda a prova, Manuel Ribeiro Dias diz que não há segredos e reforça a ideia de que nunca teve cuidados especiais, nem se restringiu do que quer que fosse. “Talvez seja de família”, diz com sorrisos. Tem uma irmã a três anos do centenário, outra com noventa e ainda outra lá perto.
Das passagens pelos bombeiros das Taipas e pelo CC Taipas diz que “tentou sempre ajudar” dentro das suas possibilidades. “Nos bombeiros prestava assistência, fazia recados, mas pouca coisa. No Taipas levava e trazia jogadores todos os dias, para treinos e jogos. Passaram pelas minhas mãos muitos miúdos, dezenas deles por dia, uma carrinha cheia”, assegura.
No baú de memórias recorda uma freguesia das Taipas, mesmo antes de ser vila, muito diferente do que é hoje. “Vi as Taipas sem nada, só campos e sem prédios: o ambiente era diferente”, recorda, aludindo ao facto de agora o coração da vila estar em obras numa remodelação profunda que tem curiosidade de ver. Que assim seja!