Ventos de mudança
O ano de 2020 veio com novas aragens para a nossa vila. O Reflexo escolheu, para capa da primeira edição do novo ano, as tropelias que têm ocorrido na Taipas Termal. São factos com quase dois anos, que ganharam agora nova relevância com a saída de Ricardo Costa de cena.
Já aqui escrevi muitas vezes sobre as Termas e nunca escondi que tenho uma posição muito crítica quanto a esta empresa municipal. Em primeiro lugar, repudio a forma como é instrumentalizada pelo Partido Socialista (PS), servindo de centro de emprego para o partido. Num estado de direito, o acesso ao emprego público deve ser igual para todos. Ali tem vantagem quem tem o cartão de militante do PS.
Depois critico a forma como é gerida. Uma empresa pública que acumula prejuízos ano após ano, e já lá vão mais de 6 milhões de euros, não é uma empresa bem gerida. As opções de investimento, como o polidesportivo, que tem uma utilização média inferior a 1h/dia e dá um prejuízo mensal de 10 mil euros, provam isso mesmo.
Finalmente critico também a estratégia adoptada pela direcção de Ricardo Costa, que passou por relegar as termas para segundo plano, e criar nas instalações da Turitermas uma clínica médica. Ou seja, Câmara Municipal de Guimarães (CMG), dona da Turitermas/Taipas Termal, passou a ter uma clínica médica. Isto poderia ser aceitável, se os preços praticados fossem os do Serviço Nacional de Saúde, mas não são. Ir a uma clínica da Câmara, que se diz socialista, pagar consultas a 70€ é absurdo. Se nós, contribuintes, temos de pagar consultas numa empresa da câmara ao preço de uma empresa privada, e depois ainda somos chamados a pagar, através de impostos, o gigantesco prejuízo que essa empresa dá, então qual é o benefício de ter uma empresa pública neste sector?
Os factos relatados no Reflexo retratam bem a política vimaranense. Há dois anos que o vereador é sócio, através da esposa, de uma empresa concorrente da Taipas Termal, e há dois anos que a câmara sabe disso e nada fez.
Nem a CMG, nem o próprio vereador, viram qualquer problema nisso. Da oposição e da comunicação social tampouco se ouviu ruído. Foi necessário alguém, que no caso até é uma figura de relevância internacional, ter a coragem de falar e dizer que não é ético, não é correcto, e que há claramente incompatibilidade em gerir uma empresa pública, e ser sócio de uma empresa privada com o mesmo objecto social, para todos despertarem para o que já todos sabiam.
O PS governa o nosso concelho pelo medo, há 30 anos. Há um medo generalizado em denunciar o que está mal, em incomodar os governantes, que assim vão governando com alguma “à vontadinha”. A atitude do Dr. Hélder ao denunciar esta situação foi um acto de civismo, que veio com dois anos de atraso, tal como a notícia no Reflexo, mas, como diz o povo, mais vale tarde do que nunca.
Infelizmente, as únicas coisas que, na nossa terra, tombam com o vento são as árvores. Os políticos, esses, ainda que pouco “saudáveis”, continuam enraizados aos cargos. Quem sabe os ventos que a nova década traz sejam de mudança.
Bom ano!