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Umas vezes me espanto, outras me envergonho

Cândido Capela Dias
Opinião \ segunda-feira, julho 09, 2018
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A luta dos professores é exemplar por permitir que algumas máscaras tombem. Desde logo e com a devida justiça, a máscara de um governo que tendo assumido um compromisso, deu o dito por não dito.

O processo dos professores pelo pagamento do tempo de trabalho exercido mas ainda não pago, é uma saga exemplar.

Exemplar, pela sua persistência, que já dura há vários meses e apesar de o governo não dar sinais de ceder, as formas de luta têm-se desenvolvido com frequência impressionante e com elevada participação.

Exemplar, pela unidade espelhada numa frente composta de sindicatos de tendências diferentes, independentes, que estão unidos no essencial.

Exemplar, pelo espírito de sacrifício patente, pois cada dia de greve é um rombo no orçamento familiar de quem, ao contrário do que alguns insinuam, não ganha por aí além.

Mas a luta dos professores também é exemplar por permitir que algumas máscaras tombem.

Desde logo e com a devida justiça, a máscara de um governo que tendo assumido um compromisso, tendo dado a palavra e o texto aos sindicatos e aos partidos com assento parlamentar, aquando da discussão e viabilização do orçamento de estado para 2018, deu o dito por não dito, refugiando-se em discussões semânticas e finalmente na falta de dinheiro, o mesmo dinheiro quer nunca falta para corrigir os erros e a incompetência dos gestores bancários e outros malfeitores que impávidos, serenos e incólumes vagueiam pelas administrações dos Bancos.

O governo sai completamente desacreditado de um processo poluído que conduziu de forma ardilosa.

Mas o governo não fica sozinho numa fotografia péssima. Arrastou o PS na queda e até o PSD.

Na verdade, depois de se ter solidarizado com os professores, o mesmo PSD (Rui Rio) que disse estar com a luta e apontou o dedo acusador ao governo, veio depois dizer que embora estivesse solidário a materialização dessa solidariedade ficava dependente de verba orçamental, indo de encontro à argumentação tardia e manhosa do governo e do PS! Tardia e manhosa porque deitada para debaixo do tapete na viabilização do orçamento.

Governo, PS e PSD querem sol na eira e chuva no nabal, querem agradar às vítimas mas não desagradar ao carrasco. As máscaras de uns e outros caíram. A confiança nesses protagonistas sai seriamente abalada deste procedimento pouco exemplar.