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Uma guerra que não se pode vencer

Pedro Mendes
Opinião \ quinta-feira, maio 12, 2022
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“Já o sabíamos desde a infame guerra na Chechénia, pudemos confirmá-lo na Síria, e agora estamos novamente perante provas cabais daquilo que, infelizmente, já sabíamos: Putin é um criminoso de guerra.”

Enquanto a guerra continua, com a barbárie inerente (mas nem por isso menos chocante), há uma série de factos que se parecem consolidar:

  • A Rússia entrou numa guerra que não pode nunca vencer.

Apesar da alteração clara dos objectivos (a blitzkrieg que pretendia tomar Kiev em poucos dias e forçar uma mudança de poder revelou-se um fiasco completo), a Rússia continua a revelar-se incapaz de solidificar as suas incursões no terreno. Numa estratégia que parece agora querer focar-se em ligar o leste, em guerra desde 2014, ao Mar Negro, porventura fechando o acesso do resto da Ucrânia ao mar, e depois de semanas de bombardeamentos violentos, Mariupol continua com o foco de resistência em Azovstal, enquanto no leste os combates continuam e a Ucrânia até tem conseguido ganhar terreno na zona de Kharkiv.

  • A Europa terá de acelerar os seus esforços ruma à independência energética em relação à Rússia, sob pena de, não o fazendo, continuar a financiar esta barbárie.

Têm sido muitas as vozes a pedir o corte completo com o gás e o petróleo russos, mas esta é uma situação difícil para os países do norte da Europa, altamente dependentes dos russos, principalmente no gás. Olaf Scholz, o Chanceler alemão, revela-se contra um corte abrupto da compra de gás à Rússia, embora garanta que a Alemanha está a fazer grandes esforços para reduzir a sua dependência. A verdade é que um corte abrupto poderia revelar-se fatal para a economia alemã, europeia e mundial. Segundo alguns especialistas, o corte de gás russo poderia levar a uma descida do PIB mundial até 3%. Em termos comparativos, com o eclodir da pandemia da COVID-19 em 2020, a economia mundial recuou 3%.

  • Putin conseguiu fazer aquilo que ainda há poucos meses parecia impossível: empurrar os seus vizinhos historicamente neutrais para os braços da NATO.

À hora que vos escrevo, caro leitor, a Finlândia parece estar por horas para concretizar a sua intenção de adesão à NATO. Na Suécia o debate sobre a adesão do país historicamente neutro está ao rubro, tendo levado inclusive a uma cisão no Sociais Democratas no poder. Podendo parecer um pormenor, isto é uma alteração muito significativa na política de alianças militares, levando desde já a duas alterações significativas: 1 - a Nato poderá chegar, novamente, à fronteira com a Rússia, desta vez junto à península escandinava. 2 - a Europa está cada vez mais comprometida com a NATO e, assim, alinhada com os Estados Unidos, no que à política militar concerne.

  • Putin é um criminoso de Guerra.

À medida que o tempo passa, as guerras tendem a perder expressão pública. Vão caindo no esquecimento e entrando cada vez mais nos rodapés dos telejornais, mas isso não apaga as atrocidades que lá se cometem. Já o sabíamos desde a infame guerra na Chechénia, pudemos confirmá-lo na Síria, e agora estamos novamente perante provas cabais daquilo que, infelizmente, já sabíamos: Putin é um criminoso de guerra. Desde o final do mês de março, e à medida que as forças ucranianas foram recuperando terreno, são já inúmeros os massacres perpetrados pelas forças russas e descobertos pelas forças ucranianas. Bucha e Hostomel são apenas os mais visíveis.

NOTA FINAL

Shireen Abu Aqleh, jornalista da Al Jazeera, foi morta enquanto cobria um raid de forças militares israelitas na Cisjordânia. Estava identificada com um colete de imprensa e foi morta por snipers israelitas. A situação na Palestina e em Israel é complexa e de muito difícil resolução e eu não quero ser leviano numa análise que deve ser profunda e bem fundamentada, mas há algo que não podemos suportar: que um estado assassine jornalistas. Seja Israel ou a Arábia Saudita, são estados terroristas.